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Mãe faz alerta por vitamina D após perder bebê com raquitismo

Beverley Thahane, de Telford, na Inglaterra, ainda se recupera da perda do seu filho Noah no ano passado, quando ele tinha seis meses de idade.

O bebê teve uma parada cardíaca, consequência de uma grave deficiência de vitamina D que o fez desenvolver raquitismo. Essa doença deixa os ossos fracos ou deformados e, em alguns casos, afeta o coração e o cérebro.

Em reação a tudo que aconteceu, Beverley decidiu alertar outras pessoas sobre o risco da falta desse nutriente no organismo e defende que todos tomem suplementos.

“Estou tentando gritar para todo mundo me ouvir. Se a vitamina D pode salvar vidas, por que não tomar?”, diz ela à BBC.

Nutrientes essencias para as células

Vitaminas são essenciais para o funcionamento das células. No caso da vitamina D, ela é na verdade um tipo de hormônio, obtido principalmente por meio da síntese pelo organismo e é vital para manter a saúde dos ossos e as defesas do corpo.

Ela atua na absorção do cálcio da dieta, regula o cálcio no sangue e o metabolismo ósseo (os torna mais resistentes). Também tem um papel central no sistema imunológico, que a usa para criar defesas contra bactérias e em vírus.

A vitamina D é produzida principalmente pela exposição ao sol. De 10 a 15 minutos por dia, durante a primavera, verão e outono, em pessoas de pele clara, são suficientes. Durante o inverno e em pessoas com pele escura, que sintetiza menos vitamina D naturalmente, a exposição deve ser maior.

O melhor horário é quando a incidência de raios UVB é alta, entre 10h e 16h, e com uma parte do corpo sem protetor solar, que reduz a absorção solar.

Para crianças de até 2anos de idade, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda no primeiro ano de vida 30 minutos por semana (6 a 8 minutos por dia, três vezes por semana), só de fraldas – a exposição deve ser indireta até o 6 meses -, e de 2 horas por semana (17 minutos por dia) com a mão e o rosto descobertos, sem chapéu.

A vitamina D também está presente em alguns alimentos, como peixes gordurosos (salmão, atum ou sardinha), ovos e cogumelos. Mas a dieta responde apenas por cerca de 10% da obtenção dessa vitamina, e nem sempre a rotina permite a exposição suficiente aos raios solares para se ter um nível satisfatório.

Deficiência e suplementação

A deficiência de vitamina D está ligada a obesidade, problemas respiratórios, diabetes, problemas ósseos (osteoporose, osteomalácia e raquitismo), doenças cardiovasculares, dermatite, inflamação intestinal, artrite e depressão.

Esse problema se agrava em locais onde o clima não é muito ensolarado, como é o caso do Reino Unido. Mas estudos mostram que isso afeta um número significativo de pessoas mesmo em países onde o clima é mais favorável, como o Brasil.

“Algumas pessoas dizem que tomar sol é suficiente. Pode ser, mas pode não ser”, diz Beverley, ao defender o uso do suplemento por todas as pessoas.

A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) diz no entanto que as evidências científicas atuais não apontam ser necessária o uso generalizado de suplementos pela população.

A organização defende complementar as necessidades diárias para combater a deficiência identificada por exames e para prevenir o problema em que tem o risco de desenvolvê-la ou não pode se expor ao sol, como pacientes com câncer de pele, que se submeteram a transplantes ou com lúpus.

As doses recomendadas pela SBEM são de 10 microgramas diárias dos 0 aos 8 anos, de 15 microgramas dos 9 até os 70 anos e de 20 microgramas para maiores de 70 anos.

Por sua vez, a SBP indica o uso de suplementos de forma preventiva até a criança atingir 2 anos de idade. Um dos motivos é que a exposição antes das 10 e após as 16 horas, quando os raios solares indicem de forma mais oblíqua, como no inverno, pouca vitamina é sintetizada pela pele.

“Por outro lado, a exposição ao sol dentro desse período pode ser associada ao aumento no risco de câncer de pele. Em vista disso, a suplementação de vitamina D é altamente recomendável.” A organização inidca doses de 10 microgramas nos primeiros 12 meses e de 15 microgramas nos seguintes.

Mas, como ressalta a SBEM, “as doses para tratamento variam de acordo com o grau de deficiência e com a meta a ser atingida”. Por isso, o ideal é ter acompanhamento médico.

Diagnóstico tardio

Um desafio é que a deficiência muitas vezes só é notada quando está em estágio avançado, quando surgem sintomas como fraqueza muscular, dor nos ossos e inchaço nos punhos e costelas.

Fazer esse diagnóstico em um bebê como Noah foi um desafio. Sua mãe conta ter o levado a diversos médicos quando ele ficou doente e que a deficiência de vitamina D e o raquitismo só foram diagnosticados pouco antes de Noah morrer, em janeiro de 2017.

“A vitamina D é um assassino silencioso. Não tenho um filho agora por causa de uma doença invisível que ninguém conseguiu detectar.”

A morte de Noah poderia ter sido prevenida, defende endocrinologista
A morte de Noah poderia ter sido prevenida, defende endocrinologista

Foto: BBC News Brasil

Acreditava-se que o raquitismo estava erradicado do Reino Unido. Mas um estudo recente realizado ao longo de dois anos pela Unidade de Vigilância Pediátrica Britânica, um centro de referência nacional em saúde infantil, mostrou que ao menos 50 crianças sofrem disso por ano.

O filho de Beverley foi uma dessas crianças. Uma morte que, segundo o pediatra e endocrinologista Wolfgang Högler, do Hospital Infantil de Birmingham, na Inglaterra, era “totalmente passível de ser prevenida”.

“Deveríamos estar dando suplementos de vitamina D para todo bebê do nascimento até completar um ano de idade, no mínimo, dar suplementos a todas as grávidas e todos de grupos étnicos de risco”, diz ele.

‘Tomar sol pode não ser suficiente’

O organismo de pessoas com peles mais escuras sintetiza menos vitamina D com a exposição ao sol por causa da maior concentração de melanina, uma proteína que determina a cor dos olhos, cabelo e pele.

Beverley defende que todos tomem suplementos de vitamina D
Beverley defende que todos tomem suplementos de vitamina D

Foto: BBC News Brasil

É o caso de Beverley, que é negra. “Como uma pessoa de cor, em um país como esse, sei que tenho de tomar e sei as consequências de não fazer. Mas não pensamos muito sobre isso e não sabemos a gravidade do que pode causar, que pode matar alguém”, diz Beverley.

“Passei pela dura experiência de perder meu filho por algo bobo. Nos dois ou três meses que enfrentamos dificuldades, se ele tivesse tomado vitamina D, poderia estar aqui comigo. Apenas tome o suplemento, para garantir.”

Fonte: Terra
Créditos: Terra