Bastidores

LUCÉLIO E LULA, JOÃO E CIRO, ZÉ E HENRIQUE? Articulações estão em curso já para o primeiro turno

Um dos principais conflitos em torno da formação das chapas que vão entrar na disputa eleitoral de 2018, gira em torno da figura do ex-presidente Lula, que se encontra preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba após ser condenado em segunda instância. Mesmo isolado e sem a garantia de que será candidato, já que foi alcançado pela lei da ficha limpa após a condenação, o petista lidera as pesquisas de intenção de voto e é fator decisivo na formação das alianças a nível estadual. Aqui na Paraíba, o Partido dos Trabalhadores (PT) declarou que a condição para votar em João Azevedo, o pré-candidato do governador Ricardo Coutinho, é que ele declare apoio ao ex-presidente.

Acontece que não é somente o interesse do PT que está em jogo. A nível nacional, o Partido Socialista Brasileiro (PSB) está a poucos dias de formalizar uma aliança em torno da candidatura de Ciro Gomes à presidência da República, conforme atestam os principais veículos da imprensa nacional, como o Estadão, o Correio Braziliense e até o estrangeiro El Pais. O PSB está se distanciando do petismo desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, e considera que a esquerda precisa se oxigenar para continuar no comando do Planalto. Essa tomada de posição pró-Ciro Gomes deverá se refletir aqui na Paraíba.

O governador Ricardo Coutinho foi um dos maiores defensores da permanência da ex-presidente Dilma Rousseff no cargo durante o impeachment, chegando inclusive a chamar o processo de “golpe”, e é um dos grandes solidários ao ex-presidente Lula. Por essa razão, mesmo o PSB adotando um posicionamento em favor de Ciro Gomes, o socialista e seus aliados acreditam que o apoio do PT da Paraíba a João Azevedo é questão de coerência e reconhecimento da importância do governador na defesa do mandato da ex-presidente Dilma e da liberdade do ex-presidente Lula. Nos bastidores, existe a real possibilidade de que João venha a declarar apoio a Ciro Gomes, porém a hipótese de ficar com Lula ainda não está descartada.

Na hipótese do apoio do PSB a Ciro Gomes se concretizar, o ex-ministro terá dois palanques aqui na Paraíba, já que Lígia Feliciano, do mesmo partido dele, é pré-candidata ao Governo do Estado. Ciro veio recentemente à Paraíba lançar a pré-candidatura da companheira de partido e fortalecer suas articulações aqui no estado. Ele também se reuniu com o governador Ricardo Coutinho, o que demonstra o bom relacionamento político que ambo mantém nos bastidores. Na ocasião em que estiveram reunidos, conversaram também sobre apoios recíprocos na eleição desse ano. Não é novidade que um só candidato à presidência tenha dois palanques na Paraíba. Isso já aconteceu em outros momentos, inclusive quando Lula era candidato, sendo recepcionado pelo PMDB e pelo PSDB.

Aproveitando-se da celeuma entre PT e PSB na Paraíba, o pré-candidato Lucélio Cartaxo, do Partido Verde (PV), já vislumbra a possibilidade de apoiar a candidatura do ex-presidente Lula. A nível nacional, o PV ainda não tomou nenhuma posição sobre quem deverá apoiar para a presidência da República, mas vale salientar que os irmãos Cartaxos têm uma forte ligação com o ex-presidente Lula, já que eram até pouco tempo atrás filiados ao Partido dos Trabalhadores. A possibilidade de apoiar o nome de Lula, na Paraíba, também seria uma oportunidade que Lucélio teria para capitalizar a espólio do ex-presidente aqui no estado, que ainda é incontestavelmente fortíssimo. Essa tese está ganhando força entre os aliados dos irmãos Cartaxos.

Por outro lado, o prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSDB), apoiador de Lucélio Cartaxo, trabalha com a possibilidade de que Jair Messias Bolsonaro (PSL) venha a fechar apoio a Lucélio Cartaxo. O prefeito de campina, que tem uma  proximidade muito grande com Bolsonaro, tenta atrair o PSL para a coligação do PV e do PSDB. Os entendimentos passam também por Julian Lemos, articulador de Bolsonaro na Paraíba. Fica difícil, no entanto, imaginar Bolsonaro e Lula sendo apoiados pelo mesmo candidato a governador.

Quem também enfrenta um dilema é o senador José Maranhão (MDB). Ele está na dianteira das pesquisas internas feitas pelos partidos – um mecanismo legal utilizado pelas siglas a fim de estudar as pré-candidaturas que estão postas na disputa eleitoral. A nível nacional, o MDB deverá levar a cabo o plano de ter Henrique Meirelles, ex-ministro da fazenda, como candidato a presidência da República. A ideia é apresentar Meirelles como o homem que recuperou a economia do país após o desastre econômico dos governos do PT. Ao contrário de Maranhão, Meirelles aparece nos últimos lugares nas pesquisas divulgadas até hoje. O governo Michel Temer é o mais rejeitado do país desde que as pesquisas de opinião passaram a ser realizadas. A nível estadual, essa rejeição poderá respingar na candidatura de Maranhão, por isso não se pode considerar ainda como fator concreto o apoio do senador paraibano a Henrique Meirelles. A definição será pragmática.

Quem também tem apoio definido é Tacio Teixeira (PSOL). Ele deve votar na candidatura de Guilherme Boulos à presidência da República. Boulos é líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e adota um discurso considerado mais radical do que os demais pré-candidatos que se colocam à esquerda do espectro político brasileiro. O grupo também foi contrário ao impeachment de Dilma Rousseff, mas discorda da política adotada pelo PT ao longo de 13 anos de governo.

As articulações continuam a acontecer nos bastidores da política paraibana, sempre em conexão com o que acontece a nível nacional. O ex-presidente, encarcerado, continuará influenciando o que acontece por aqui. Vale destacar também que, no atual sistema político brasileiro, as conveniências quase sempre falam mais alto. O quadro pode mudar radicalmente de uma hora para outra.

 

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba