O antídoto de Ricardo contra o banzé político

Nonato Guedes

Governantes, quando querem, sabem neutralizar crises políticas com agenda positiva de trabalho, que, aliás, é o que se espera deles. Ontem, em João Pessoa, em meio ao banzé gerado pela desconstrução do PSB nesse período pré-eleitoral, o governador Ricardo Coutinho reuniu prefeitos e outras lideranças para a discussão de um Plano contra a estiagem, partindo do princípio de que a Paraíba enfrenta a pior seca dos últimos trinta anos. Foi o antídoto ideal para que o gestor socialista saísse do foco do tiroteio político e oferecesse uma alternativa de discussão de interesse público, insistindo, inclusive, nas parcerias com prefeituras, independentemente de orientações partidárias.

A perspectiva de agravamento da situação por causa da recidiva da estiagem já fora denunciada por interlocutores preocupados com questões mais sérias do que o rame-rame de disputas. No Lanacaprina, o suplente de senador Carlos Dunga alertou com antecedência não só para a escassez da água como para o empobrecimento das populações interioranas. Do sertão paraibano, ecoou a manifestação sempre lúcida e pertinente do padre Djacy Brasileiro quanto às condições de penúria a que comunidades estão sendo submetidas. Não faltaram cobranças acerca do andamento das discussões do projeto da transposição de águas do rio São Francisco, infelizmente colocado em banho-Maria pelo governo de Dilma Rousseff, em meio a denúncias documentadas da grande imprensa mostrando a paralisação de canteiros de obras e o superfaturamento de contratos que o Planalto mandou rever às pressas.

Calcula-se que de duzentas e vinte e três cidades que compõem o mapa da Paraíba, pelo menos cento e quarenta e quatro estão em situação crítica, com todas as regiões experimentando chuvas abaixo da média. O governador Ricardo Coutinho estimou que há investimento de R$ 1,2 bilhão para a construção de doze mil cisternas. O Plano Estadual de gestão de riscos e resposta à estiagem que ele deflagrou conta com a participação do governo federal, mediante ações do ministério do Desenvolvimento Social e do programa “Água para Todos”. O montante reservado à Paraíba ainda não é suficiente para atender demandas, mas houve um compromisso da presidente Dilma de pronto atendimento de novas reivindicações.

No capítulo do apoio aos agricultores, parece que, enfim, vai ser antecipado o “Garantia Safra”, com ressarcimento de prejuízos acumulados em operações que não surtiram efeito diante da falta de recursos para a contrapartida. Louve-se, a propósito, o esforço permanente do deputado Francisco de Assis Quintans no sentido de sensibilizar autoridades e lideranças políticas. Quintans é um dos profundos conhecedores da problemática das secas na Paraíba e, ao lado de Marcondes Gadelha, um estudioso das nuances do projeto de transposição das águas do rio São Francisco. Evidente que as ações a serem executadas têm caráter emergencial, como soi acontecer em conjunturas atípicas. O ideal seria um programa permanente de convivência e resposta aos efeitos da estiagem, pela natureza da previsibilidade do fenômeno cíclico, mas seria exigir demais dos governos que não investem em infraestrutura sólida, de resistência de longo alcance. O governador cobrou dos municípios que cumpram com sua parte nessa ação integrada. É o mínimo que os municípios podem fazer, através dos seus administradores e de organizações sociais. Mas bem que o governador paraibano poderia dar um salto à frente, recrutando especialistas para dotar o Estado de uma rede de proteção ambiental e social contra a calamidade. Os senadores e deputados federais deveriam se acostar a iniciativas desse porte, focando em políticas públicas de resultados.