Engana-se quem acredita que o casamento real inglês foi uma unanimidade no mundo inteiro. Os noivos Harry e Meghan não tiveram o aval de dom Bertrand, o príncipe herdeiro do trono do Brasil. “Nunca aprovaria [se eu fosse a rainha da Inglaterra]”, revelou nosso príncipe à BBC. A desaprovação do príncipe herdeiro do Brasil teria causado um incidente diplomático sem precedentes, caso alguém de fato se importasse com a sua opinião.
O príncipe explicou-se: “Como sou católico, não consigo ver com bons olhos o casamento de uma divorciada”. Entendo o príncipe. Da minha parte, como sou divorciado, não consigo ver com bons olhos o casamento de um católico.
Mas entendo também sua raiva. O príncipe não foi nem sequer convidado pro casamento. Tampouco costumo ver com bons olhos as festas para as quais eu não fui convidado. Costumo achar, inclusive, lamentáveis. Sou inclusive contra a realização das mesmas.
Em segundo lugar, nosso príncipe nunca se casou, pois achou que precisaria abdicar do trono caso se casasse com uma plebeia —mal sabia ele que ninguém estava se importando com seu casamento e que não havia nem sequer trono pra herdar. Como nenhuma princesa quis se casar com um príncipe inexistente, o mesmo não se casou com ninguém, pra não ter de abdicar a um trono que tampouco existe. Passou o resto da vida comentando o casamento dos outros.
Mas calma: solteiro, sim. Sozinho, nunca. Dom Bertrand entrou pra TFP, organização católica conservadora, na qual fez grandes amigos, e passou acreditar que a preservação das comunidades indígenas é uma “tática comunista” e que o aquecimento global foi inventado pelos “ecoterroristas do PT”.
O suposto príncipe revelou também à BBC que o Brasil ainda tem “índole monárquica” pois usa muito as palavras “rei” e “rainha” de forma elogiosa. “O Pelé é o rei do futebol. Na feira livre, temos o rei da pamonha, o rei do pastel”. Taí um ótimo argumento. Esqueceu-se de citar o Rei do Mate, o Adriano Imperador e o célebre cirurgião Dr. Rey.
No entanto, é impossível discordar do príncipe quando ele diz: “Hoje, não se encontra um brasileiro que diga de boca cheia que a República deu certo”. De fato, não se encontra. Ou melhor, não se encontrava. Depois de ouvi-lo falar, cresceu em mim um enorme apego à nossa democracia. Tudo sempre podia ser pior.
Fonte: Folha de S. Paulo
Créditos: Gregório Duvivier