O governador de São Paulo, Márcio França (PSB), esteve na manhã deste domingo (13) no local do desabamento do prédio Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paissandu, no Centro de São Paulo, e anunciou o fim das buscas dos bombeiros após 13 dias de trabalho.
“A gente não tem a expectativa de mais nada, o máximo que a gente pode fazer do ponto de vista de profundidade é essa. O resto [dos corpos] não deve ter mais existência, deve ter sumido junto com toda a situação, porque é muito calor e o corpo desaparece praticamente, é comum nesse tipo de tragédia”, afirmou.
De acordo com o governador, a Prefeitura vai definir o que fará com os escombros agora. “Toda essa terra que está fora vai entrar pra dentro daquele buraco para tentar estabilizar o terreno e permitir que todos esses lugares aqui em volta fiquem, dentro do possível, mais normais. Daqui pra frente a Prefeitura tem que dar uma destinação ao terreno”, disse.
Governador de SP anuncia fim das buscas por vítimas em escombros de prédio que caiu
O governador ressaltou que com a saída dos bombeiros do local, o terreno passa a ser de responsabilidade da administração municipal. “A partir de agora a gente entrega à Prefeitura para que ela possa dar um destino melhor da área, já que a área é federal. O prefeito já me disse que vai requisitar a área, a gente vai estudar a questão dos prédios laterais, tem três prédios que estão interditados.”
Neste sábado (12), a Polícia Técnico-Científica identificou os restos mortais dos irmãos gêmeos Wendel e Werner, de 10 anos, informou a Secretaria da Segurança Pública (SSP).
“Os últimos que foram identificados foram os gêmeos, já confirmados. As únicas vítimas crianças que existiam foram os gêmeos que o IML já identificou pelo setor de antropologia pelos restos mortais dos meninos”, afirmou o secretário da Segurança Pública, Mágino Alves.
Ainda na tarde do sábado, dois ossos foram encontrados nos escombros do prédio e encaminhados ao IML para identificação.
Selma Almeida da Silva, 40 (mãe dos gêmeos);
Eva Barbosa Lima, 42;
Walmir Sousa Santos, 47;
Gentil de Souza Rocha, 53.
Max Mena, comandante do Corpo de Bombeiros, confirmou o encerramento das buscas pelos desaparecidos na manhã deste domingo. “Nós temos ainda quatro pessoas que ainda não conseguimos encontrar ou ser identificadas positivamente pelo Instituto Médico Legal. Porém ainda existem alguns restos mortais que não foram identificados. Mas como já ocorreu anteriormente, não necessariamente essas pessoas estavam sob os escombros”, declarou.
Segundo o comandante dos bombeiros, as buscas só foram finalizadas porque não há mais nada no local. “Nós só encerramos alguma operação quando temos total certeza de que nosso trabalho está acabado. Nós não encerraríamos o nosso trabalho se não encontrássemos o piso do segundo subsolo, e encontramos e chegamos ao limite da edificação, dali pra baixo não tem mais nada, dali para baixo é terra, não faz parte da edificação.”
“Esses escombros foram retirados, removidos e checados, pelo menos, três vezes. Foi um trabalho de detalhe, em razão da temperatura dos escombros, pouco sobrou”, lamentou Mena. Após o encerramento das buscas, os bombeiros que estavam trabalhando no local fizeram um momento de oração.
Água é encontrada no subsolo do prédio que desabou durante a retirada dos escombros (Foto: Divulgação/Corpo de Bombeiros)
Cerca de 1.700 homens da corporação trabalharam nos escombros do edifício revezando turnos de 12 horas, inclusive bombeiros do interior de São Paulo e alunos do curso de formação.
Sobre as famílias que permanecem acampadas no Largo do Paissandu, França disse que foi oferecido o aluguel-social no valor de R$ 1.200 no primeiro mês, mais R$ 400 mensais, e que moradores do prédio permanecem no local para tentar pressionar a administração pública para furar a fila da habitação.
“É para que elas possam encontrar um local provisório até que elas possam encontrar unidades novas. Tem que lembrar que tem muita gente na mesma fila, não é justo tirar pessoas que estão na fila há anos, temos que encontrar uma solução para dar mais agilidade nas entregas”, afirmou.
Identificados
A Polícia Técnico-Científica identificou os restos mortais dos irmãos gêmeos Wendel e Werner, de 10 anos. Os corpos dos meninos foram achados na quarta-feira (9), no local do desabamento. A mãe deles, Selma Almeida da Silva, de 40 anos, não foi localizada.
Também foram identificados Francisco Lemos Dantas, de 56 anos(identificado na sexta-feira, 11 de maio) e Ricardo Oliveira Galvão Pinheiro, de 39 anos (identificado pelas digitais em 4 de maio).
Incêndio
O incêndio que atingiu o edifício Wilton Paes de Almeida e provocou o desabamento do prédio na madrugada de terça-feira (1º) foi causado por um curto-circuito em uma tomada no quinto andar, segundo depoimento de uma sobrevivente à polícia.
A sobrevivente, Walkiria Camargo dos Nascimento, disse em depoimento que o fogo começou na tomada onde estavam ligados três aparelhos eletro-eletrônicos: micro-ondas, geladeira e TV.
“Começou na instalação que nós tinhamos, que lá os fios é tudo emendado”, disse Walkiria. “Na tomada era a televisão, a geladeira e o microondas,aí de repente tava aquela fogarão atrás da geladeira.” Ela revelou que já tinha tido outro curto-circuito no local um ano atrás. “Já é a segunda vez, a primeira foi bem pequenininha, essa que foi perigosa.”
Segundo o relato, na hora do incêndio, por volta de 1h30, todos dormiam. Walkíria contou que ao ver o fogo, ela pegou o bebê de dez meses e desceu para a rua. O marido dela foi salvar a filha de 3 anos e foi atingido pelas chamas. Está com 75% do corpo queimado. A menina está internada na UTI do Hospital das Clínicas.
De quem era o prédio?
O edifício Wilton Paes de Almeida pertencia ao governo federal desde 2002. A Secretaria do Patrimônio da União (SPU) é o órgão responsável por gerir os imóveis de propriedade federal, subordinado ao Ministério do Planejamento.
Projetado em 1961 pelo arquiteto Roger Zmekhol, era considerado um dos prédios comerciais mais luxuosos da época. Foi construído para ser sede da Cia. Comercial Vidros do Brasil (CVB). De estrutura metálica e lajes em concreto, tinha 24 andares e ficava na região do Largo do Paissandu. Foi um dos primeiros da cidade a adotar o estilo “pano de vidro”, que se difundiu nas décadas seguintes em prédios comerciais.
Após passar para as mãos do Estado, em razão de dívidas dos proprietários, foi sede da Polícia Federal e do INSS.
Em 1992, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) havia tombado o prédio.
O edifício foi colocado para leilão em 2015, por R$ 24 milhões, mas ninguém o adquiriu. Em 2017, o imóvel foi cedido para a Prefeitura de São Paulo para a instalação da Secretaria da Educação e Cultura da cidade, segundo o Ministério do Planejamento. No entanto, o processo de transferência não havia sido finalizado.
Ocupação prédio
Desabrigados do prédio que desmoronou ficam em barracas no Largo do Paissandu (Foto: Kleber Tomaz/G1)
O edifício ficou totalmente vazio a partir de 2003, quando a Polícia Federal se transferiu para a atual sede, na Lapa, Zona Oeste, e sofreu diferentes ciclos de ocupação irregular desde então.
A Prefeitura de São Paulo informou que foram cadastradas 248 pessoas, de 92 famílias, no local. Imagens mostram que, ao menos entre 2015 e 2017, havia ali uma faixa do Movimento Social de Luta por Moradia (MSLM).
O Ministério Público (MP) confirmou que o grupo, de fato, ocupava o edifício. Após o desabamento, porém, integrantes do movimento e moradores divergem sobre quem exercia a liderança e como o imóvel era gerido (leia mais abaixo).
Fonte: G1
Créditos: –