Sem essa de que a imagem dos militares brasileiros não foi atingida pela revelação do documento da CIA sobre a execução sumária de inimigos da ditadura de 64 autorizada pelo então presidente Ernesto Geisel.
Foi sim. Os militares da época jamais admitiram o que era notório. A lei da anistia serviu mais à cobertura dos crimes que eles praticaram do que a qualquer outro fim mais nobre. Daí por que ela não foi ampla, geral e irrestrita.
Pode-se dizer, com excesso de boa vontade, que a imagem das novas gerações de militares escapa incólume à revelação que choca o país. Mas o erro só ensina quando se aprende com ele. E ninguém aprende fingindo ignorá-lo.
Os currículos dos cursos de formação dos militares não incluem nenhuma menção ao golpe de 64 e às suas terríveis consequências à vida do país. O golpe, ali, ainda é tratado como se tivesse sido uma revolução democrática.
Não se fala de tortura de presos políticos como se ela não tivesse existido. Muito menos de mortes e de desaparecimentos de presos. Mas dos crimes também praticados pela esquerda armada se fala à farta.
As reações oficiais à publicação do informe da CIA beiraram ao ridículo. A autenticidade do informe foi posta em dúvida. Ele só teria sido divulgado agora porque estamos em ano eleitoral. E mais um monte de outras bobagens.
O informe faz parte de um lote de documentos que deixaram de ser secretos em 2015. Estava à disposição de quem tivesse tempo e paciência para consultá-lo. Poderia ser acessado, como foi, via internet.
Seu conteúdo fere de morte a tese defendida pelos órfãos do golpe de 64 de que, se excesso aconteceram à época, foram por iniciativa da raia miúda e subalterna do regime. Nada a ver com uma política de Estado propriamente dita.
Tudo a ver, sim Jamais houve ditadura boa aqui nem em parte alguma. Todas são más, intrinsicamente más, porque só se sustentam à base da força, da suspensão da liberdade e do desrespeito aos direitos humanos.
Os militares de 64 diziam que em Cuba fuzilava-se os adversários do regime de Fidel Castro. Era verdade. E se hoje não se fuzila mais, Cuba não deixou de ser uma ditadura. Aqui se fez igual ao que se condenava por lá.
Fonte: Blog do Noblat
Créditos: Ricardo Noblat