Tiradentes hoje em Tambaú

Rubens Nóbrega

Tiradentes vivo, vivendo no Brasil de hoje, mais precisamente na Paraíba de agora, seria o primeiro a chegar no meio da tarde deste sábado para participar da Marcha contra a Corrupção que se realiza a partir das 16h em Tambaú, João Pessoa.
Aposto como Joaquim José viria de camiseta com a seguinte inscrição: “Probidade, ainda que tardia!”. Ele não faltaria, com toda certeza. Não perderia a chance de mostrar coerência com a sua própria história de luta contra quem desde aquela época “subtraia a Pátria Mãe gentil em tenebrosas transações”.
A diferença é que no tempo do Alferes os corruptos da Corte carregavam o ouro para a metrópole lusitana. Três séculos e meio depois, embora a corrupção seja praticamente a mesma, o destino do apurado da rapina é bem outro. Em vez de Lisboa, vai parar na Suíça ou em alguma offshore do Caribe.
Mas o importante é reconhecer duas coisas fundamentais: primeiro, a honestidade da imensa maioria da população; segundo, a crescente eficiência dos órgãos de controle e fiscalização do poder público e o decisivo apoio à luta contra a corrupção das entidades e movimentos como esses que promovem a marcha deste 21 de abril.
Particularmente, considero que a atuação conjunta ou isolada desses dois segmentos tem produzido resultados dignos de nota e elogios. E não tenho como não dizer que de dez anos pra cá aumentou significativamente o combate à corrupção, a percepção da corrupção, a identificação e a punição dos corruptos.
Não vou repetir dados estatísticos que comprovam o que afirmo. Eles estão disponíveis nas bases de dados do Ministério Público, da Polícia Federal, da Controladoria Geral da União (CGU) e Tribunal de Contas da União (TCU). Podem ser encontrados ainda nos saites e portais de organizações como Transparência Brasil, Contas Abertas ou Fórum de Combate à Corrupção (Focco), que é nós nessa fita.
Udenismo e manipulação
Tenho mesmo como necessárias e valiosas manifestações como a de hoje. Se não for por outro motivo, que o seja pelo menos para mostrar que a maioria ainda silenciosa e passiva de repente pode despertar e mostrar nas ruas que tem noção e percebe mais a corrupção dos que os corruptos imaginam.
Que seja pelo menos para mostrar que uma marcha contra a corrupção pode dar tanto ou mais ibope e gente do que um grito dos excluídos, uma parada gay ou qualquer outra passeata em defesa dos sem terra, dos sem teto, dos sem direito algum ou daqueles que querem apenas o direito de fumar sua maconha em paz.
Apesar do mérito e da precisão, não desconheço, de outro lado, que alguns intelectuais de esquerda do meu apreço e admiração vêem certa ingenuidade ou recidiva do velho moralismo udenista em marchas como essa que OAB, Focco, API e o Movimento Nas Ruas estão apoiando e divulgando.
Não falta, inclusive, quem enxergue por trás do ato a manipulação tucano-democrata que transformaria manifestantes em massa de manobra ou de inocentes úteis, utilíssimos à velha e surrada estratégia de carimbar os governos petistas como patrocinadores da corrupção dita endêmica que assola o Brasil.
Com todo respeito, acho muita teoria da conspiração pro meu gosto. Afinal, ainda que a marcha estivesse sob riscos de manipulação, valeria a pena. Porque a alma desses que estarão hoje no Busto não é pequena. Muito menos a causa que abraçaram.

 

Consulta nacional do MPF
O Ministério Público Federal vem recebendo desde o dia 11 deste mês sugestões e perguntas dos cidadãos interessados em ajudar a instituição a melhorar o desempenho e a identificar as questões mais relevantes às quais deve se dedicar.
Trata-se de consulta pública nacional aberta desde aquela data em 21 capitais, entre elas a da Paraíba. Culminando, terça-feira que vem, dia 24, os procuradores da República que atuam em João Pessoa estarão disponíveis para informações e esclarecimentos em contato direto com o público.
Quem quiser saber como isso vai acontecer e qual a razão de ser da consulta é só comparecer à audiência pública prevista para o auditório do Sebrae (Avenida Maranhão, 983, Bairro dos Estados). Das duas da tarde às seis da noite.
“Além de explicar a atuação do MPF, procuradores irão responder perguntas e colher propostas de ação sugeridas pela sociedade”, garante o Ministério Público Federal da Paraíba em nota à imprensa.
No encontro do Sebrae, os presentes terão a chance de dialogar com os procuradores sobre temas como cidadania, combate à corrupção e ao crime organizado, direitos do consumidor e ordem econômica, proteção ao meio ambiente, defesa dos patrimônios cultural, público e social, e garantia dos direitos das populações indígenas, de comunidades tradicionais e de outras minorias.
Agora, se você não puder ir pessoalmente, ainda dá tempo de encaminhar sua colaboração. Para tanto, visite o portal da Procuradoria Geral da República (pgr.mpf.gov.br) ou o saite do MPFPB (prpb.mpf.gov.br). Lembro ainda que a audiência pública da terça-feira será transmitida ao vivo por Internet.