o outro lado

Não tem santo, nem demônio, no mundo Cremosim - Por Adriana Bezerra

Severino Ferreira, e sua voz superpotente, é um ás do marketing.

Engenhoso e trabalhador, ele não vende apenas sorvete. Vende carisma.

E a gente compra.

Rindo dos sustos que ele provoca com o seu “olhaaaa…(pausa dramática)…. ooooo Cremosim”, entoado em muitos decibéis.

(Nota para quem nunca experimentou: são deliciosos e refrescantes).

O batalhador, engenhoso e marketeiro Severino, o cara do Cremosim, colhe hoje os frutos de sua conquista:

João Pessoa, em peso, está indignada contra o cidadão morador de área nobre que tenta barrar a passagem do ambulante mais querido da cidade.

O diabo passou na frente de Severino. Que arda, então, nos fornos mais quentes do inferno.

Deve ser algum rico prepotente, que se julga dono da rua.

Nos vários relatos que deu a respeito da agressão, Severino diz não saber porque o diabo atravessou seu caminho. Apesar do cramulhão estar tentando barrá-lo – segundo ele próprio nos revela – há mais de dois anos.

Severino está, na verdade, cometendo o pecado da omissão.

Pois ele sabe sim o motivo dessa possessão tão constante. Mas, convenientemente, resolveu deixar oculto.

Esconde porque o diabo, quem diria, tem um filho.

E ele é autista.

Toda vez que Severino passa aos berros, a criança entra em profundo sofrimento. Tem crises.

Há dois anos, o pai tenta convencê-lo e sensibilizá-lo.

Mas, oras, ele precisa vender seu Cremosim. Proclamando aos brados suas delícias geladas pelas ruas abrasadas de João Pessoa.

Verdade que quem parte para a agressão perde a razão – com rima e tudo.

Mas, conhecendo as razões do diabo, ele já não é mais tão feio quanto nos parece, não é mesmo?

Até São Severino sabe disso.

Por isso nos poupou dos detalhes.

Fonte: Adriana Bezerra
Créditos: Adriana Bezerra