O avião de US$ 6 milhões

Rubens Nóbrega

Não entendo – ou até entendo – a razão de o Governo do Estado ter comprado um avião por R$ 9.685.000 para, em tese, servir apenas ao governador Ricardo Coutinho e comitiva.

Não quero acreditar que seja porque o assédio dos fãs atrapalha Sua Majestade quando ele usa aviões de carreiras e tem que ficar junto e misturado aos mortais em suas viagens.

Já pensou o que é para um homem feito Ricardo Coutinho ter que distribuir simpatia, apertos de mão, “abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim” com a plebe rude e ignara?

Não quero acreditar também que seja porque os dois aviões que o Estado tem pra chamar de seus são velhos, desconfortáveis e não permitem ao ‘dono’ ficar de pé dentro deles.

Ah, minha amiga, meu amigo, nisso aí ele tem razão! Um homem do tamanho do governador não merece passar duas horas inteiras sentado, sem ter como alongar as canelas reais.

Por tudo que foi dito, estaria plenamente justificado o investimento de 6 milhões de dólares. O único problema são alguns detalhes que uns poucos despeitados costumam levantar.


Por que não helicóptero?

Não quero ser Gosto Ruim, mas digo que com bem menos dinheiro daria para comprar um helicóptero, de extrema utilidade nos resgates de emergência e missões policiais.

Helicóptero dá mais agilidade às ações de busca e salvamento em terra ou na água, podendo realizar também operações aéreas tanto de segurança pública como de defesa civil.

Botando um pouco mais de dinheiro, uns R$ 4 milhões, daria para comprar dois helicópteros zero bala, um para a Polícia e outro para o Corpo de Bombeiros ou para o Samu.

Pelo que andei pesquisando, um helicóptero Esquilo apetrechado para o trabalho policial custa em torno de 3,8 milhões de dólares, que equivalem a R$ 7 milhões, no câmbio atual.

O Esquilo é da Helibras, indústria sediada em Itajubá (MG) e única fabricante brasileira de helicópteros, mas associada ao Grupo Eurocopter, maior fornecedor do setor no mundo.


Uma questão de prioridade

O Governo do Distrito Federal comprou dois helicópteros Esquilo ano passado por R$ 13,1 milhões, grana que a Helibras faturou por ter vencido concorrência internacional do GDF.

Em Brasília, até onde sei fizeram tudo às claras. Já por aqui… Nosso governo não diz objetiva e cristalinamente porque comprou o avião de 6 milhões de dólares, embora vozes oficiais tenham falado em “economia” para o Estado.

Isso porque economizaria um monte de dinheiro que se gasta com passagens aéreas para viagens do Governador & Cia. Se é assim, então, o avião é mesmo para uso de Sua Majestade e de seus cortesãos.

Diferentemente de outros Estados, onde aviões semelhantes costumam ser comprados ou alugados para transporte de equipe médica, de órgãos para transplante e pacientes graves.

Pelo visto, na Paraíba sob Ricardus I as prioridades são bem outras. Prioritário seria atender, em primeiríssimo lugar, ao conforto, comodidade e mobilidade do rei e de sua Corte, não do povo.
Dois atos, um mesmo valor

Além da real serventia do avião real, outro mistério cerca a aquisição da aeronave. Trata-se da publicação, no Diário Oficial do Estado de 2 de março último, de dois atos de governo destinando o mesmo valor para duas coisas distintas.

Na página 5 do Diário, através do Decreto nº 32.797, de 1º de março de 2012, o governador Ricardo Coutinho abre crédito suplementar para a Casa Militar no valor de R$ 9.685.000,00 para ‘Manutenção e conservação de aeronaves’.

Na página 22, com assinatura da secretária Livânia Maria da Silva Farias (Administração), está publicado Termo de Homologação do Pregão nº 0182012, licitação vencida pela Tradewinds Aircraft Sales. Pois bem, por uma “aeronave asa fixa, configuração executiva, tipo bimotor turbohélice”, a empresa deverá receber (se não já recebeu) exatos R$ 9.685.000,00. É quanto nós vamos pagar.

Pra encerrar: talvez seja ocioso dizer, mas registro que pedi informações e esclarecimentos ao governador e à Secretaria da Administração sobre o fato de o crédito suplementar da Casa Militar ter o mesmo valor da quantia destinada à compra do avião. Pra variar, não me deram resposta. E aí eu digo que não entendo – ou até entendo – a razão de terem feito isso e, também, de não darem explicação alguma.