Alvo de debate ao redor do mundo por seu possível impacto na democracia, as fake news – notícias inventadas geralmente com o objetivo de viralizar na internet e influenciar consumidores e eleitores – têm sido usadas em uma escola particular do interior paulista para ensinar pensamento crítico e pesquisa científica.
A ideia é que eles próprios se perguntem: essa notícia tem fontes e dados confiáveis? Merece ser acreditada – e compartilhada?
“Eles trazem as notícias das quais ficam desconfiados. Começamos com notícias de ciências e saúde, mas os alunos se interessaram também por notícias de entretenimento e política, por estarmos em um ano eleitoral”, conta Zilioli à BBC Brasil.
“O método de checagem é o mesmo para todas: buscar informações de fontes confiáveis. Estou falando de método científico, de busca de informações seguras que possam ser demonstradas, até para eles entenderem que não é simples provar as coisas.”
A aula se centra em discutir as notícias e em encontrar formas de checar as informações online – buscando as fontes originais dos fatos ou pesquisando em artigos acadêmicos, periódicos científicos, IBGE e sites de tribunais eleitorais, por exemplo.
Entre as notícias já analisadas, estão:
– Uma de que frutas ingeridas em jejum curam câncer, que os alunos perceberam que não tinha fontes seguras para garantir a afirmação do título;
– A de uma mãe que teria aplicado botox na filha pequena (os jovens foram atrás das imagens da mãe, que é participante de um reality show nos EUA, e estão tentando tirar suas próprias conclusões pelos vídeos);
Uma do cientista Stephen Hawking, morto em março, falando sobre vida extraterrestre (os alunos descobriram que a notícia em si não era falsa, mas tinha um título exagerado);
– Uma de que o juiz Sergio Moro seria orador em cerimônia de universidade americana, a qual, apesar de ter algumas informações verdadeiras, trazia declarações falsamente atribuídas a um pesquisador da instituição;
– Uma sobre terraplanismo, difícil de ser analisada justamente por colocar em xeque premissas científicas.
As nuances das notícias têm sido úteis para os alunos entenderem a categorizá-las, diz Zilioli. “Vimos que há notícias falsas, mas também as que são baseadas em fatos verdadeiros, porém com títulos exagerados ou sensacionalistas”, explica o professor, notando uma mudança no comportamento dos estudantes.
“Eles já estão mais treinados a ver o que é falso ou não do que recebem do grupo da família (no WhatsApp) e pensam duas vezes antes de acreditar. Antes, se uma matéria era compartilhada muitas vezes, eles achavam que necessariamente era real. Agora, estão percebendo que esse critério numérico não vale. E mesmo que eles percebam logo de cara que a notícia é fake, têm de confirmar isso com a metodologia.”
A ideia fez o professor ser selecionado para o projeto Inovadores, do Google, que o ajudou a idealizar um site – batizado pelos alunos de Ourinhos de HoaxBusters, ou Caça-boatos -, que terá uma espécie de “termômetro” para identificar o quanto cada notícia analisada tem de veracidade.
As aulas vêm ajudando a estudante Giovana Domiciano Sanches, 16, a identificar notícias falsas que circulam nos grupos virtuais nas e redes sociais.
“Algumas são notícias velhas – quando vamos checar as datas e horários, vemos que tem gente que posta links de 2013, por exemplo”, conta Giovana à BBC Brasil.
“Pensando em como o mundo avançou, com os meios de comunicação e a eleição do (presidente americano Donald) Trump, é importante para a gente saber como verificar as informações e compartilhar só depois de ver o conteúdo na íntegra, não só pelas chamadas.
Fonte: Terra
Créditos: Terra