Imagens postadas nas redes sociais que mostram a rejeição a um menino negro em um parque infantil reacendeu o debate sobre o racismo na Espanha.
No registro feito em Bilbao, no País Basco, ao norte do país, meninas brancas impedem que um menino negro, menor que elas, brinque no escorregador e o perseguem. Publicado há uma semana, o vídeo já teve quase 20 milhões de visualizações no Facebook e 240 mil compartilhamentos.
Diante da provocação das crianças e da passividade dos adultos que as acompanhavam, mãe e filho abandonam o parque. A cena chocou a Espanha e gerou discussão nas redes sociais, englobando também debates sobre deportações de imigrantes negros e violência policial.
Parte dos internautas afirma que se trata de uma agressão racista. Outros minimizam o caso, alegando que não veem racismo no comportamento das crianças.
O autor, o mecânico naval Mario Whyte Caletrio, de 26 anos, diz que o vídeo teve tanto impacto porque as pessoas se sentiram chocadas com a indiferença dos adultos que presenciaram a situação e não repreenderam as crianças.
Caletrio, que tem cidadania espanhola e inglesa, explica que gravou e publicou o vídeo porque se identificou. “Fui o primeiro menino negro da minha escola e passei por isso”, lembra. Ele conta à BBC Brasil que se surpreendeu com a grande repercussão nas redes sociais e na imprensa espanhola e revela que tem recebido as mensagens de apoio de internautas de vários países.
Depois da repercussão, moradores de Bilbao levaram cartazes ao parque do bairro de Santutxu com frases como #StopRacismo e #QueremosJugarContigo (#QueremosBrincarContigo, em espanhol).
O autor do vídeo relata que, durante entrevista a um jornal local, conheceu o menino e seus pais, que o agradeceram pela denúncia. Mario foi convidado a dar palestra em colégios e diz que a comunidade se organiza para formar uma associação e reivindicar junto ao governo basco políticas de inclusão e contra o racismo nas escolas.
Polêmica
O vídeo viralizou depois de a ativista afrofeminista e youtuber Desirée Bela-Lobedde postá-lo no Twitter, no dia 31 de março. Para ela, a situação registrada é grave por envolver crianças pequenas, que aparentam ter cinco ou seis anos. Na opinião de Desirée, crianças dessa idade não sabem o que significa racismo, mas reproduzem padrões de comportamento.
Com quase 14 milhões de seguidores no Twitter, a ativista diz que o vídeo de Mario evocou situação já conhecida por ela. Dias antes, ela havia mencionado comentários racistas ouvidos por filha mais velha, de 11 anos.
Desirrée criticou tanto os comentários dos que não enxergaram racismo no episódio e disseram se tratar de “coisa de criança” quanto os que sugeriram dar uma “surra” nos envolvidos. “Isso me horrorizou extremamente, como se castigo físico servisse para combater o racismo”, disse.
A ativista defende que se questione a indiferença dos outros adultos, que não intervieram. Ela espera que, além da comoção e da indignação causadas, os internautas que compartilharam o vídeo tomem atitudes e se impliquem mais na luta contra o racismo. “A eliminação do racismo é tarefa de todos.”
Youssef Ouled, responsável pelo portal #EsRacismo (#ÉRacismo), do SOS Racismo Madrid, criticou a cobertura de alguns veículos de comunicação espanhóis que minimizaram o caso e o classificaram como bullying. “São crianças brancas que impedem o acesso a um menino negro a um espaço público. Zombam do menino e de sua mãe negra”, diz.
Ele avalia que a denúncia do vídeo serve para gerar o debate em um país que nega a existência do racismo. “Para combater o racismo, primeiro é preciso reconhecer que ele existe”, diz.
Procurada, a prefeitura de Bilbao informou que não vai se manifestar sobre o vídeo.
Fonte: BOL
Créditos: BOL