O transcurso dos 20 anos da morte do senador paraibano Humberto Lucena será assinalado no dia 13 de abril em sessão especial da Assembleia Legislativa, a ocorrer no plenário da Câmara Municipal de João Pessoa, por proposição do deputado estadual Raniery Paulino. A homenagem coincide com a maior debandada já vista nos quadros do MDB, ex-PMDB paraibano, presidido atualmente pelo senador José Maranhão, que se anuncia como pré-candidato, novamente, ao governo do Estado. Humberto, que doou a vida à unidade partidária, sendo chamado de pacificador e de “algodão entre cristais”, fez de tudo para contornar divergências internas e evitar defecções.
Na condição de comandante do então PMDB, Lucena investiu no fortalecimento da legenda através da atração de “dissidentes” oriundos de legendas nas quais se achavam desgarrados ou desconfortáveis. Foi assim que em 82 Humberto aceitou Antonio Mariz, dissidente da ex-Arena, e o entronizou como candidato a governador. Mariz foi derrotado nas urnas por Wilson Braga, que se beneficiou de três máquinas – federal, estadual e municipal, somente logrando eleger-se em 94, quando derrotou Lúcia Braga, mas já sem saúde para empalmar o mandato, que acabou sendo levado até o fim por José Maranhão, o vice de Mariz na chapa “puro sangue”.
Em 86, Humberto Lucena era o candidato legítimo do PMDB ao governo, com chances de vitória, reforçado por uma cisão no esquema braguista, que “cristianizou” a pré-candidatura do empresário José Carlos da Silva Júnior, levando-o à desistência da postulação, o que o fez ser substituído por Marcondes Gadelha. Mas Humberto teve problemas de saúde que o levaram a ser internado no Incor, em São Paulo, de onde expediu proclamação retirando-se do páreo ao Executivo e apoiando o nome de Tarcísio Burity, oriundo de dissidência no ex-PFL e que ingressou no peemedebismo na undécima hora dos prazos legais. Burity teve como vice Raymundo Asfora e derrotou Marcondes por 296 mil votos de maioria, enquanto Humberto e Raimundo Lira elegiam-se ao Senado. Wilson Braga, campeão nas urnas, enfrentou a sua mais vigorosa derrota ao tentar conquistar uma cadeira no Senado. Perdeu para Lira, que entrou como azarão no páreo e demonstrou ser a grande revelação.
Os adversários alegaram que a chapa do PMDB fora favorecida colateralmente pelos reflexos do Plano Cruzado, adotado no governo de José Sarney e que impôs o congelamento de preços, golpeando temporariamente a inflação. O Cruzado virou fenômeno eleitoral nacional, proporcionando vitórias acachapantes de candidatos peemedebistas em outros Estados, mas na Paraíba, além desse reforço, sobressaiu o carisma de Burity, que já havia governado por via indireta. A lua de mel de Burity com o PMDB durou pouco. Estouraram divergências que motivaram troca de correspondências entre Humberto e o governador, denominadas de “epístolas” por analistas políticos paraibanos. A queixa do PMDB era de que conquistara o poder mas não estava no poder com Burity. Na sequência, Buritydesfiliou-se da agremiação e assinou ficha no PRN como manobra para apoiar Fernando Collor de Melo, então favorito a presidente da República com sua fama de caçador de marajás. Não houve defecções mais significativas na esteira da saída de Burity. Humberto soube manter o diálogo e a convivência entre as correntes internas, só não obtendo êxito na missão de pacificar o grupo do senador Ronaldo Cunha Lima e do governador José Maranhão. O “clã” ronaldista migrou para o PSDB após as eleições de 98.
Uma façanha realçada na biografia de Humberto diz respeito ao fato de ele ter sido presidente do Senado por duas vezes numa mesma legislatura, derrotando nomes de expressão na política nacional, como Nelson Carneiro, do Rio de Janeiro, e José Fragelli, do Mato Grosso. Lucena foi peça decisiva nos bastidores para a “solução Sarney” quando da morte de Tancredo Neves antes de assumir a presidência da República e perfilou com Ulysses Guimarães, o grande ícone do PMDB, na Constituinte que legou ao País um novo texto, considerado avançado por ter removido entulhos decorrentes do regime autoritário. Lucena morreu sem ter inscrito no currículo o cargo que mais ambicionava, o de governador da Paraíba. Foi deputado estadual e deputado federal, além de ter-se repetido no exercício do mandato senatorial.
Fonte: OS GUEDES
Créditos: OS GUEDES