É uma atrás da outra!

Rubens Nóbrega

Impressionantes e ao mesmo tempo preocupantes o volume e o tipo de informações que brotam da conta de campanha do governador Ricardo Coutinho.

Depois de vir a público que a Ideia Digital (fornecedora do famoso Jampa Digital, contratada pela Prefeitura da Capital quando Ricardo era prefeito) fez 21 depósitos para ajudar Sua Majestade a conquistar o Governo do Estado em 2010…

Depois de ser divulgado que o TRE investiga no Caso Cuiá a razão de duas pequenas empresas cearenses terem doado, juntas, mais de R$ 500 mil ao homem, sem que aparentemente tivessem faturamento para tanto…

Agora vem o ClickPB e mostra, documentadamente, que pelo menos R$ 300 mil supostamente pertencentes a um irmão do dono da Toesa Service, do Rio de Janeiro, foram parar na conta da vitorioso candidato do PSB da Paraíba.

Toesa… Toesa… Eita, peraí! Essa Toesa não é aquela locadora de ambulâncias citada na matéria do Fantástico que a TV Globo exibiu em 18 de março último mostrando corrupção e fraude em licitações públicas?

É sim, ela mesma. Mas deixem-me dizer uma coisa da qual não tenho o menor orgulho, sinceramente falando. Muito pelo contrário. Entristece-me profundamente estar abordando esse tipo de assunto e, muito mais, ter que abordá-lo dessa forma.

Seguinte. Antes de aparecer no Fantástico, com seu gerente e dono tentando subornar um pretenso encarregado de compras de um hospital público, a Toesa apareceu aqui, neste espaço, por conta de uma história que vou relembrar.

Nos dias 15 de junho e 24 de agosto do ano passado, informei que solicitara por i-meio ao governador do Estado esclarecimentos acerca de possíveis negociações de sua gestão para alugar as ambulâncias da Toesa. Fiz aquelas indagações baseado no que me informaram fontes médicas da mais absoluta credibilidade.

Sua Majestade não me respondeu, pra variar, mas alertei na coluna de 25 de agosto de 2011 que a Toesa era alvo de investigação do Ministério Público do Rio por suposta fraude na Secretaria de Saúde.

Ressaltei ainda que a Toesa estava também enrolada pela Operação Caixa de Pandora, que destruiu o esquema Panetone de José Roberto Arruda em Brasília.

Depois, como todo mundo viu no Fantástico, por intermédio de pelo menos dois representantes a Toesa foi flagrada negociando propina com quem julgava ser o gestor de compras do Hospital Pediátrico da UFRJ.

Vocês lembram, né? Na reportagem, um gerente da Toesa usa a palavra ‘camisa’ para significar o percentual que o gerente do HP poderia ganhar na transação: “Quanto você quer? Dez camisa [sic], então? Dez camisa?”.

A negociação expôs a forma como agem empresários inescrupulosos para fechar contratos milionários visando fornecer produtos ou serviços em geral superfaturados. Ordinariamente, tais contratos derivam de licitações de fachada.


Como funciona o esquema

Como mostrou a revista dominical da Rede Globo de Televisão, para fraudar uma licitação os interessados fazem mais ou menos assim, além de corromper o possível contratante:

1. um grupo de fornecedores de determinado produto ou serviço faz de conta que disputa contrato numa licitação, mas entre eles fica antes acertado quem vai ganhar;

2. para garantir a ‘vitória’ desse ou daquele licitante, os demais apresentam propostas ou orçamentos mais caros do que o vencedor previamente combinado;

3. o ganhador ou paga uma porcentagem aos ‘concorrentes’ ou devolve o favor em outra licitação, onde mais uma vez um entrará pra ganhar e o restante, pra perder.

Ainda bem que na Paraíba não tem esse problema. Aqui, em se tratando de ambulância, o governo não faz licitação para alugar nem as aluga à Toesa.

Alugou mesmo foi à Easy Life, empresa do Ceará que deve receber R$ 8,7 milhões em 12 meses pelo aluguel de 32 ambulâncias ao Ricardus I.

É dinheiro bastante para comprar no mínimo 72 ambulâncias super equipadas, ao preço médio de R$ 120 mil, cada.

Por R$ 120 mil o Ministério da Saúde comprou cada uma daquelas 90 ambulâncias do Samu que estariam paradas na Paraíba, segundo o mesmo Fantástico.

Mas o governador já disse que não foi só a ambulância que o Estado alugou. Alugou um serviço que inclui médicos e para-médicos à disposição para socorrer quem precisar.

Ainda assim, Majestade, é caro, muito caro, caríssimo. Além do mais, por que não abrir licitação para comprar ambulância e concurso para contratar profissionais que podem fazer o mesmo serviço e até melhor?

Desde quando o Estado está proibido de prestar ele mesmo, sem precisar terceirizar, serviços de saúde com qualidade?

Onde está escrito ou quem disse que só tem qualidade se o serviço for prestado por empresas particulares, custando os olhos da cara ao contribuinte?

Que governo socialista é esse que deixa de prestar serviços essenciais, próprios e prioritários de Estado, para entregá-los à exploração privada, pelo visto super lucrativa?

Dito isso, só espero que não me venham descobrir mais tarde que a Toesa cedeu contrato à Easy nem a Easy apareça, ela mesma ou terceirizadamente, como doadora de certa campanha.