Quando uma empresa como a Netflix (americana) financia, promove e exibe uma série baseada em Fake News, fica evidente que a produção dessas notícias falsas que tomam conta da internet, hoje, não é prática corrente apenas do submundo da internet, mas se trata uma máquina profissional, financiada por poderosas empresas e intencionalmente criada para gerar opiniões e comportamentos políticos.
Jose Padilha, o diretor da série “O Mecanismo”, que estreou semana passada na Netlix, foi escolhido a dedo. Cineasta ex-empregado da Globo, Padilha foi um dos responsáveis por abrir, com Tropa de Elite, as comportas do sadismo, até então latente em setores da classe média, que agora mal conseguem dissimular seu fascismo, exposto ao mundo nesses tempos de rede social.
Padilha vive hoje nos EUA, para onde foi depois da refilmagem fracassada de Robocop – o meio-homem meio-máquina de um futuro distópico onde até a polícia é privatizada. José Padilha, portanto, não poderia ter um currículo mais adequado para dirigir a série “O Mecanismo”, que é um amontoado de Fake News, a versão atualizada da propaganda nazista, popularizada na ideia de que, para uma mentira se tornar verdade, basta que ela seja repetida várias vezes.
Em resposta, a ex-presidente Dilma Rousseff lançou no fim de semana uma Nota de esclarecimento em que, antes de pontuar todas as mentiras da série, chama a atenção para a escalada fascista que avança sobre o país. “O país continua vivo, apesar dos ilusionistas, dos vendedores de ódio e dos golpistas de plantão. Agora, a narrativa pró-Golpe de 2016 ganha novas cores, numa visão distorcida da história, com tons típicos do fascismo latente no país.”
Dilma é uma das vítimas das mentiras contadas por José Padilha em “O Mecanismo” e sabe do que fala porque perdeu o mandato presidencial conquistado nas urnas por conta de uma verdadeira Fake News, a assim chamada “pedalada fiscal”, como foi apelidada pelos barões da mídia, transformada depois no Crime de Responsabilidade que levou ao impeachment e entregou de bandeja a Presidência a Michel Temer e ao PMDB.
Também pudera. Assim como restou acusar Lula de ser o proprietário oculto de um apartamento para condená-lo “a jato”, sem que uma única prova fosse apresentada no processo, a não ser, como se sabe, uma delação de um empresário condenado a mais de 20 anos de cadeia − isso depois de Lula ter sua vida e a de sua família devassadas, no Brasil e no exterior, por todo tipo de investigações. Contra Dilma Rousseff nem isso.
Ou seja, o que a Lava Jato e Sérgio Moro ofereceram a Lula − Dilma sequer foi indiciada − foi um atestado de honestidade que tornará, no futuro, os dois, exemplos de honestidade, por mais que os alucinados da mídia vociferem nas redes sociais e nos comentários que por ventura apareçam logo abaixo desse texto. Mas é isso mesmo.
Voltado à Fake News “O Mecanismo” e à nota de esclarecimento lançada por Dilma Rousseff.
Vejam a gravidade do que a ex-presidenta apontou. “A propósito de contar a história da Lava-Jato, numa série ‘baseada em fatos reais’, o cineasta José Padilha incorre na distorção da realidade e na propagação de mentiras de toda sorte para atacar a mim e ao presidente Lula.” E vai além: “A série ‘O Mecanismo’, na Netflix, é mentirosa e dissimulada. O diretor inventa fatos. Não reproduz ‘fake news’. Ele próprio tornou-se um criador de notícias falsas.”
E Dilma passar a mencionar as mentiras e falsidades de “O Mecanismo”.
1. O escândalo do Banestado é tratado na série como se tivesse começado em 2003, quando na realidade é de 1996, tendo ocorrido, portanto, durante o governo FHC.
2. O doleiro Alberto Yousseff é personagem da trama e está envolvido nos esquemas de lavagem de dinheiro do Banestado, relacionados ao esquema de corrupção organizados durante o governo FHC, relacionados às bilionárias privatizações ocorridas durante o governo, e que jamais foram investigados − perto da corrupção descoberta na Petrobrás, esse esquema é fichinha. Quem foi o juiz responsável pela investigação à época? O mesmo Sérgio Moro, que concedeu ao mesmo Alberto Yousseff os mesmos benefícios de uma delação premiada, só que, no caso Banestado apenas os peixes pequenos foram pescados e não se falou mais nisso. Ou seja, quando Sérgio Moro e o Ministério Público Federal fizeram um acordo com Alberto Yousseff tinham plena consciência que faziam acordo com um criminoso reincidente.
Alberto Youssef é um dos “personagens” da trama de Padilha. Nela, é aparece como um ativo participante da campanha de reeleição de Dilma sem que nunca tido qualquer contato com a campanha. Não só Alberto Yousseff é tratado como amigo próximo de Dilma, como também Paulo Roberto da Costa, outro delator que hoje aproveita em liberdade os benefícios dados por Sérgio Moro depois de ter ajudado a desviar bilhões da Petrobrás. Logo ele, que foi exonerado por Dilma da Petrobras. Amigos de Dilma na trama de José Padilha, nunca tiveram qualquer contato pessoal com a ex-presidente.
José Padilha mente deliberadamente, também, ao tentar mostrar que Márcio Thomas Bastos, Ministro da Justiça de Lula e hoje falecido, foi advogado de Alberto Yousseff.
O pior não é isso. As palavras do senador Romero Jucá (PMDB-RR), aquelas ditas em conversa gravada pelo delator Sérgio Machado que, entre outras coisas, disse na famosa conversa que era necessário fazer um grande acordo nacional, “com Supremo com tudo”, para derrubar Dilma. Todo mundo lembra, né? Pois bem, parte dessas palavras foi colocada por José Padilha na boca de… Lula!
Segundo Dilma Rousseff, Padilha “mente, distorce e falseia” a realidade. “Isso é mais do que desonestidade intelectual. É próprio de um pusilânime a serviço de uma versão que teme a verdade.”
Entramos definitivamente na Era da Pós-Verdade?
Fonte: Flávio Lúcio
Créditos: Flávio Lúcio