Rubens Nóbrega
Lembro que nas suas próprias campanhas ou nas campanhas de quem apoiava em Campina Grande, Ronaldo Cunha Lima costumava dizer-se tão protegido por Deus que até seus adversários o Homem lá de cima escolhia. Só faltava arrematar: “Eu tenho os adversários que pedi a Deus”.
Lembrei o fraseado ronaldista para manifestar a impressão de que deve ter chegado a vez de o governador Ricardo Coutinho fazer a mesma ‘graça’ se quiser (des)qualificar de forma semelhante quem pretende derrotá-lo na campanha para prefeito da Capital, principal reduto ricardista.
Ainda que a referência a supostas proteções divinas não lhe caia bem, em razão do passado recente que o dava como agnóstico praticante, mais um pouco e Ricardo será convencido de ter realmente os adversários que pediu a Deus nessa peleja em que deve se julgar tão abençoado que se dá ao luxo de preterir um Luciano Agra.
Mas é isso. Não se admire se um dia Sua Majestade agradecer por ter na concorrência de sua candidata a prefeita, Estelizabel Bezerra, expoentes como Cícero Lucena, José Maranhão e Luciano Cartaxo, que curiosa ou estranhamente sumiram da cena e do noticiário político tal e qual ovos de Páscoa das prateleiras de supermercado.
Com uma diferença fundamental: ao contrário dos chocolates, o recolhimento dos principais pré-candidatos oposicionistas na aldeia governista começou bem antes do Domingo de Ramos e continuava até ontem, dois dias após o Domingo Pascal. O sumiço foi tanto que o noviço (enquanto candidato a prefeito) Nonato Bandeira, do PPS, roubou a cena e virou manchete.
Querem ver uma coisa? Alguém aí lembra e pode dizer de bate-pronto, no ato, na lata, qual e quando foi o último ato político relevante protagonizado por Cícero Lucena como potencial candidato do PSDB à Prefeitura da Capital? Para responder a essa pergunta, que também me fiz, tive que recorrer ao Google, a maior ferramenta de busca da Internet. O resultado…
A notícia mais recente que encontrei sobre o senador data do dia 3 passado e remete a uma proposta dele de bonificar com pontuação extra, no vestibular de universidades federais, candidatos que em seus Estados tiverem um ensino médio de baixa qualidade ou um desempenho individual sofrível. Inacreditável, mas é verdade.
Em vez de propor medidas que ajudem a melhorar o ensino, como, por exemplo, a extensão do piso nacional do magistério à escola privada e uma gradativa valorização salarial da categoria condicionada a resultados de avaliações periódicas associadas a uma progressiva qualificação acadêmica dos professores…
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Acreditem: em vez de algo nessa outra direção, a noção de política ‘afirmativa’ ou ‘inclusiva’ do Doutor Cícero é socorrer com plus de 30% nas notas os nativos que não estudaram ou não aprenderem o suficiente para encarar os concorrentes ‘de fora’ mais estudiosos ou melhor preparados nos Estados de origem.
Já o Doutor José Maranhão… Apareceu duas ou três vezes no noticiário pré e pós Semana Santa tão somente para atualizar a sua expectativa de reverter a inelegibilidade que lhe acometeu após ver reprovada a sua prestação de contas da campanha de 2010 no Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba. É pouco, muito pouco, pouquíssimo, convenhamos, para alguém com a história do ex-governador.
E Luciano Cartaxo, que após duas retumbantes vitórias internas que lhe afirmaram a pré-candidatura a prefeito pelo PT, parece ter optado por fazer retiro espiritual na Semana Santa e, pelo visto, resolveu esticar? Vai ver foi convencido pelo padre-deputado Luiz Couto a levar uma vida monástica, contemplativa…
CUIÁ PEGANDO FOGO
A pasmaceira oposicionista coincide com o deflagrar de apurações mais intensas sobre o Jampa Digital em diversos órgãos de controle (CGU, TCE…) e do Ministério Público! A letargia cicerista, maranhista e cartaxista acontece também simultaneamente ao forte impulso que o TRE paraibano deu à ação de investigação sobre o Caso Cuiá.
Relator da Ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije), semana passada o juiz Miguel de Britto Lyra Filho mandou quebrar o sigilo de duas empresas cearenses suspeitas de terem sido usadas como supostas doadoras (de mais de R$ 500 mil) à campanha de Ricardo Coutinho para governador do Estado em 2010. A decisão, publicada semana passada, atendeu a um pedido do Ministério Público Eleitoral.
Para quem não sabe, esqueceu ou está chegando agora à Paraíba, informo e lembro que o Cuiá é a fazenda da qual o atual prefeito de João Pessoa, Luciano Agra, desapropriou na véspera da campanha de 2010 um lote em tese inindenizável por quase R$ 11 milhões, pagos em menos de 30 dias aos seus felizes proprietários.
O TRE instaurou aije pra saber se a dinheirama ou parte dela foi parar na conta de campanha do então candidato a governador pelo PSB. Graças também ao Cuiá, o Ministério Público Estadual moveu ação por improbidade contra o prefeito Agra.
Mais: não bastassem Jampa, Cuiá e otras cositas mas, ontem a Casa Civil do Governador foi flagrada em pleno tuite fazendo campanha para Estelizabel Bezerra.
Se não for um(a) laranja que se apropriou do brasão e do nome do órgão pra complicar Sua Majestade, essa é pra destronar ligeirinho o Ricardus I. Ao TRE, então, e com urgência!
Pois é, tudo isso acontecendo e Cícero, Maranhão e Luciano “na praça, dando milho aos pombos”. Ou nem isso.
