O governo da China indicou que tomará “todas as medidas necessárias” para defender seus direitos e alerta que considera adotar um pacote de iniciativas contra os EUA. Por meio de um comunicado, Pequim indicou que “não quer uma guerra comercial, mas não tememos nada”. De acordo com os chineses, “se uma guerra comercial for iniciada pelos EUA, lutaremos até o final para defender nossos interesses legítimos com todas as medidas necessárias”.
Nesta quinta-feira, 22, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou um projeto que prevê a imposição de tarifas de até US$ 60 bilhões sobre a China, além de impor restrições às transferências de tecnologia e aquisições para Pequim, com a intenção de pressionar a China e restringir o que os EUA consideram práticas injustas de comércio e investimento.
Ao atacar Washington, os chineses deixam claro que uma tensão comercial pode causar “desestabilização econômica mundial” e que os perdedores também seriam os consumidores americanos. “Não vamos ficar apenas assistindo”, garantiu o Ministério de Comércio da China, solicitando que Trump “pare e desista” de colocar a relação entre as duas maiores economias do mundo em perigo.Desde 1979, quando os dois países voltaram a ter relações diplomáticas, o fluxo comercial entre as duas economias aumentou em 232 vezes. Hoje, os investimentos mútuos chegam a US$ 230 bilhões.
Pequim, portanto, aposta que parte de seus aliados contra a Casa Branca esteja dentro dos EUA em dezenas de setores que poderiam ser afetados por retaliações chinesas.
De acordo com os asiáticos, 45 entidades americanas já expressaram sua preocupação ao governo dos EUA sobre o que poderia ocorrer caso uma guerra comercial fosse instaurada entre as duas economias. “Esperamos que os EUA possam entender os benefícios mútuos da relação comercial”, disse. O alerta chinês foi tomado horas depois de a OMC uma vez mais condenar as práticas comerciais dos americanos, em uma nova disputa com Pequim.
Entre os empresários chineses, a ideia de uma retaliação é apenas uma “última opção”. Mas não está descartada. A Associação Chinesa de Comércio Internacional deixou claro medida contra a soja americana ou contra aviões da Boeing estão sendo considerados.
Zhang Xiangchen, embaixador chinês na OMC, também apontou que seu país considera abrir uma disputa nos tribunais internacionais contra o governo americano. “Isso seria nosso direito legítimo. Mas não excluímos outras opções”, alertou. Ele ainda mandou um alerta ao governo americano. “Se você se entrega ao protecionismo, perderá credibilidade”, disse.
Soja. Parte da resposta chinesa pode vir na forma de bloqueios ao comércio de soja dos EUA. No ano passado, o mercado da China importou 57% de toda a exportação americana do produto, chegando a US$ 10 bilhões.
Um dos argumentos de Pequim é de que os americanos estariam subsidiando sua produção nacional, criando distorções no mercado. Se optar por implementar algum tipo de barreira, o gesto pode acabar beneficiando o exportador brasileiro, concorrente direto dos EUA no mercado chinês.
Outra que pode ser afetado é a Boeing, que vende metade de seus jatos a cada ano para a China. A empresa estima que suas vendas para Pequim garantem empregos para 150 mil americanos. Mas, numa eventual guerra comercial, parte dos contratos podem acabar indo para a concorrente europeia, a Airbus.
Mesmo no mercado de veículos, uma iniciativa chinesa contra os americanos pode causar sério impacto. Hoje, a General Motors já vende mais carro na China que nos EUA.
Se Pequim optar por retaliar os americanos por meio da GM, essa não seria a primeira vez. Em 2016, a empresa foi punida em US$ 29 milhões por supostamente combinar preços para seus modelos. Mas a medida foi anunciada dias depois que o então presidente eleito, Donald Trump questionou o reconhecimento de Taiwan por parte de Pequim.
Fonte: Estadão
Créditos: Estadão