A luta continua! No PSB

Rubens Nóbrega

Não foi dessa vez que acabou. Não acredito, sinceramente, que a paz foi selada entre socialistas girassolaicos. Tenho a mais vívida impressão de que a luta continua dentro do PSB, pra ver se o partido se define por uma candidatura competitiva para enfrentar os pesos pesados da oposição nas eleições deste ano na Capital.
Essa competitividade, com todo respeito, a pré-candidata Estelizabel Bezerra não tem. Muito menos ela tem apelo popular, como teria o nome de Luciano Agra, que de uns tempos pra cá vem mostrando, dizendo aos seus correligionários ou se achando que virou alvo e mote de irrefreável queremismo.
Foi o que ele teria reafirmado anteontem à noite na tensa e arrastada reunião de emergência do PSB que o governador Ricardo Coutinho convocou para debelar a crise interna, mostrar quem manda e, parece-me agora muito claro, dar uma enquadrada no noviço rebelde sem causa – e sem legenda – chamado Luciano Agra.
Mas, até enquadrar o homem no Hotel Xenius, local do encontro, na orla do Cabo Branco, Ricardo não teve como não ver e não ouvir o prefeito cometendo a ousadia da sinceridade, ao ponto de dizer com todas as letras que Estelizabel não ‘decolava’ por conta da rejeição ao governador, feitor e padrinho da candidata posta.
Agra disse mais. Disse que somente ele poderia virar o jogo, reverter o quadro ou anular os efeitos da desaprovação do povo ao Ricardus I. Nesse momento, mesmo repetindo seguidas vezes que o povo estava “pedindo” que ele desistisse da desistência e se candidatasse de verdade, a voz de Agra foi abafada por deliberado murmurinho vindo da platéia.
Na sequência, a voz do prefeito foi definitivamente calada pela voz mais alta, mais firme e mais poderosa do todo poderoso chefe. Que lembrou a sua trajetória pessoal, a do Coletivo RC e no final arrematou com argumento forte e irresistível para aqueles que agradecem por ter chegado ao paraíso pelas mãos de Ricardo Coutinho.
De acordo com insuspeitas matérias dos portais que cobriram o evento, o governador lembrou aos recalcitrantes que tudo isso foi construído na unidade do grupo, adubada pela lealdade, alimentada pela reciprocidade. Nas cabeças e ouvidos do pessoal do ‘Queremos Agra!’, as palavras de Ricardo devem ter funcionado como uma cobrança direta ou, no mínimo, uma advertência grave: sem a tal reciprocidade, gente vai rodar e voltar ao comum dos mortais.
Por tudo isso, pela animosidade inescondível dentro do PSB – com a ressalva de que todo esse trololó pode ser uma tremenda encenação, como suspeitam alguns – não duvido que Agra ainda possa vir a substituir Estelizabel, quando julho chegar.
De modo que, por enquanto, prefiro adotar nas minhas expectativas em relação ao assunto uma das máximas do filósofo Mucius, talvez parafraseando Aparício Torelli, Henfil ou Millôr: “Está tudo certo, até alguém achar algo errado”. Ou, como também diria o meu amigo após a reunião dos socialistas na Quarta de Trevas: “Tudo encaminhado e nada resolvido!”.
A maldade dessa gente…
Segundo Potinho de Veneno, a única chance de Luciano Agra bater chapa com Estelizabel Bezerra seria os dois se beijarem.

HISTÓLISE PROGRAMADA
Sob esse título, veio de atilado colaborador surpreendente tese sobre o PSB da Paraíba e suas circunstâncias. Deverá surpreender alguns de vocês, aposto. Confiram o que ele escreveu, autorizando-me a publicação, desde que preservada a identidade do autor. Vamos lá, então. É com ele, a partir deste ponto.
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Amigo Rubens, o que vai a seguir é uma análise política feita por um técnico em agronomia. Creio que não tenha lá muita credibilidade. Mas assim mesmo segue.
Cássio é inelegível, portanto, não pode concorrer ao Governo do Estado em 2014. Apoiará Ricardo Coutinho. Mas isso tem um preço. Quer a prefeitura de João Pessoa. Ricardo já concordou. Luciano Agra, que não é o preferido de Cássio, seria o prefeito eleito, tudo apontava, sem maiores problemas. Ricardo o tirou do páreo para atender Cássio. Botou Estelizabel de boi de piranha. Mas Estelizabel surpreendeu, mostrou rapidamente desempenho na mídia e nas bases do Orçamento Democrático. Poderia chegar lá… Cássio não gostou e pediu providências a Ricardo.
Ricardo, para não tirá-la também, colocou Nonato Bandeira como freio de mão. (Não cabe na cabeça de ninguém que um cidadão antipático, sem liderança, pobre, sem tradição política, sem carisma ou outro atributo político qualquer, ainda por cima empregado de Ricardo Coutinho, tivesse a audácia de se candidatar logo contra a preferida do governador e ficar por isso mesmo). Tudo combinado. Bandeira está fazendo seu papel nessa história.
Em troca de um projeto pessoal de se reeleger governador, de uma vez só RC traiu Luciano Agra, Estelizabel e o seu próprio partido, conforme traiu também a própria Paraíba quando em troca do cargo de governador abdicou do único instrumento efetivo de desenvolvimento do Estado, qual seja, o porto de águas profundas. Tudo para saldar compromisso de apoio do governador de Pernambuco.
Em suma: o candidato de Ricardo Coutinho é, de fato, Cícero Lucena. Assim Cássio quis.