José Carlos: a experiência no Senado

Nonato Guedes

O empresário José Carlos da Silva Júnior, além de ter sido vice-governador e governador em exercício da Paraíba, ocupou a titularidade do mandato no Senado, em algumas ocasiões, substituindo a Ronaldo Cunha Lima que se licenciou, certa feita, para se dedicar à campanha do filho, Cássio, a prefeito de Campina Grande. Num depoimento a este repórter sobre a passagem por aquela Casa, José Carlos admitiu que, ao se investir na primeira vez, considerava-se despreparado por não conhecer costumes nem a cultura do Senado. Quando ele começou a se familiarizar com o ambiente e até a gostar do convívio com outros parlamentares, terminou o prazo de 120 dias da sua titularidade.

Posteriormente, ao voltar ao recinto, integrou-se com muito mais rapidez à mecânica de funcionamento. “Conheci, de fato, a importância que tem o Congresso no regime democrático e, sobretudo, o papel do Senado. Senti-me honrado em participar daquele grupo seleto. Tentei, dentro das minhas possibilidades, dar minha contribuição porque não iria me omitir diante dos problemas da Paraíba”, evocou. Nesse sentido, ele deu prioridade aos efeitos da estiagem, reivindicando medidas efetivas. Na época, na década de 90, ele abordou o tema da transposição das águas do rio São Francisco, depois de ter feito estudos abrangentes em torno dos recursos hídricos. Chegou à conclusão de que o Brasil é privilegiado pelo fato de ter as melhores reservas de água doce do mundo, num período em que já se falava na escassez de água no planeta.

José Carlos falava de projetos já existentes sobre gerenciamento de água que não estavam sendo olhados pelo governo federal de forma adequada. E estranhou que representantes de outros estados nordestinos não reconhecessem a necessidade de transposição das águas do rio São Francisco para garantir a sobrevivência de famílias carentes. Num discurso que fez, Silva Júnior propôs ao Senado a criação de uma Comissão para gerenciamento das águas, a fim de resolver a escassez. Entendia que, de plano, a escassez afetava drasticamente o Nordeste mas poderia se estender a estados como o Tocantins. O ex-senador já se preocupava com o assoreamento e recuperação de afluentes do rio São Francisco, e encontrou receptividade para essa bandeira.

O empresário identificava falta de vontade política do governo, dirigido pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, para levar adiante o projeto. O custo, então, era tido como razoável. José Carlos chegou a participar de audiências com o presidente FHC, numa delas em companhia de Ronaldo, de outra feita juntamente com o ex-governador José Maranhão. Notou que Fernando Henrique tinha conhecimento da urgência da transposição e, a seu ver, poderia ter avançado concretamente nesse sentido. Diante da realidade, José Carlos pregava a união das bancadas de Estados nordestinos, deixando de lado divergências paroquiais. “Houve indiferença do presidente e, também, falta de união de lideranças nordestinas, que deveriam fechar questão”, observava. E concluía opinando que o projeto não era utópico e prevendo que os parlamentares iriam receber uma pressão muito grande, o que, de fato, aconteceu. José Carlos preparou-se, em 86, para ser candidato ao governo do Estado pelo PDS, mas recuou diante de versões de que estava sendo “cristianizado” e, também, segundo este repórter apurou, por causa de exigências de financiamento de campanha de outros postulantes. Foi um momento doloroso na sua trajetória, mas que ele superou, evitando acusar “A” ou “B” pela decisão de não mais concorrer.