E a digital de Aguinaldo no Jampa?

Rubens Nóbrega

No dia seguinte ao Fantástico que conectou o Brasil e o mundo ao Jampa Digital, isentei o ministro Aguinaldo Ribeiro nas denunciadas irregularidades que envolvem o negócio entre a Prefeitura da Capital e a empresa baiana Ideia Digital.

No twitter e na primeira coluna em que tratei o assunto (‘De quem é a digital no Jampa’, publicada na terça, 27), afirmei que Agnaldo encontrou tudo pronto, ou seja, tudo licitado e contratado, ao assumir a Secretaria de Ciência e Tecnologia da PMJP em dezembro de 2009.

No meio da semana, contudo, fontes abasteceram-me de informações que apontam para um firme envolvimento de Aguinaldo Ribeiro na feitura e contratação do Jampa a partir das conexões do então deputado estadual com o então secretário municipal de C & T.

Paulo Badaró de França é o nome da fera. Foi antecessor e adjunto de Aguinaldo Ribeiro na curta gestão (durou menos de quatro meses) do atual ministro das Cidades como secretário do então prefeito e atual governador Ricardo Coutinho.

Coube a Paulo Badaró a formatação técnica do Jampa Digital, algo que segundo o multitalentoso multimídia Emerson Saraiva (emersonsaraiva.com.br) foi providenciado no mínimo seis meses antes de Aguinaldo Ribeiro assumir a Secitec.

“Mas Paulo Badaró é filiado ao PP e homem da estrita confiança dos Ribeiro. Ele nada fez sem o conhecimento ou consentimento de Agnaldo, até por que foi por ele indicado para o cargo e lá permaneceu com a saída do padrinho”, disse-me a fonte, configurando um link com evidente propósito de botar as digitais do ministro na ‘cena do crime’.

De posse de tais informações, somada a outra relevante e procedente, de que a Secitec na época era da cota do PP no girassolaico governo municipal, resolvi questionar ontem os Ribeiro. Por i-meio, enviei ao ministro e à sua irmã, a deputada Daniella Ribeiro, a seguinte mensagem:

– Solicito informar se o sr. Paulo Badaró é filiado ao PP e se foi indicado pelos Ribeiro para ocupar o cargo de Secretário de Ciência e Tecnologia da PMJP em 2009. Peço ainda esclarecimentos sobre os R$ 150 mil que o deputado Enivaldo Ribeiro e uma filha teriam recebido da Assembleia para custear tratamento no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.
A RESPOSTA

Apesar de ter orientado a sua assessoria a entrar em contato com o colunista para possíveis esclarecimentos, o ministro incumbiu a deputada de prestá-los em nome de ambos, o que ela fez da forma como reproduzo agora:

– O Sr. Paulo Badaró não é filiado ao PP. Quando foi para a Secretaria de Ciência e Tecnologia da PMJP sua indicação se deu por conta do seu currículo, já que o mesmo foi coordenador do Visionlab, laboratório do Departamento de Informática da PUC-Rio e ex-gerente do Departamento de Efeitos Visuais da Rede Globo. O PP sugeriu sua indicação em virtude do seu currículo, o qual foi aceito pelo Prefeito Ricardo Coutinho. Além disso, vale lembrar que mesmo após o rompimento do PP com o Prefeito Ricardo Coutinho e de não votar nele para Governador, o Sr. Paulo Badaró continuou na Secretaria de Ciência e Tecnologia.

– Sobre os recursos que Enivaldo Ribeiro e Silvia Ribeiro teriam recebido da Assembléia para custear tratamento no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. É verdade que os recursos foram utilizados com base na concessão da Verba Social que foi criada em 2007, porém a prática era referendada pela Assembléia e só posteriormente foi questionada. Lembro também que como deputada ou vereadora nunca fiz uso de qualquer ajuda dessa natureza, nem mesmo diárias a que teria direito no exercício das funções parlamentares.
COMO AVALIO

Apesar da admitida estreita ligação entre Paulo Badaró e Aguinaldo Ribeiro, até prova ou fato novo que me convença do contrário, mantenho que o ministro está limpo nessa história. Inclusive porque seria muito difícil imputar-lhe responsabilidade objetiva pelos propalados desvios na licitação, no contrato e na implantação do Jampa.

Considero, inclusive, que mesmo a Paulo Badaró caberia atribuir, no máximo, negligência na fiscalização dos serviços de um programa afeto à sua pasta. Digo assim porque, objetivamente, a parte sob suspeita nessa transação foi toda ela comandada pelo Doutor Gilberto Carneiro, então secretário de Administração da PMJP e, como todos sabem, membro do círculo íntimo do poder sob comando de Ricardo Coutinho.

Quanto à milionária ajuda de custo ao ex-deputado Enivaldo Ribeiro e a uma filha sua para tratamento de saúde. É bem verdade que tal benefício, apesar de conter todas as características de inconcebível privilégio financiado com dinheiro público e concedido a pessoas social e patrimonialmente privilegiadas, concordo com a deputada quando ela diz que o ato estava amparado pela legalidade
Mas uma legalidade similar àquela dos depósitos da Ideia Digital na conta de campanha de Ricardo Coutinho para governador em 2010. Ou seja…