O governo tem um prazo bem estreito, inferior a cinco meses, se quiser aprovar no Congresso a maioria das medidas que compõem a nova agenda econômica anunciada como estratégia para minimizar o fracasso da votação da reforma da Previdência, avaliam economistas ouvidos pela Folha.
As projeções consideram o recesso no Congresso, que começa em meados de julho, e incluem a avaliação de que, quando os parlamentares retomarem os trabalhos, o foco estará na corrida eleitoral.
“Tem um curtíssimo espaço de tempo para aprovar um grande número de medidas. Há probabilidade bem baixa de conseguir votar boa parte delas”, diz Lucas Vilela, economista do Credit Suisse.
Para ele, apesar do pouco tempo hábil para implementar o plano B, faz sentido o governo manter a agenda pró-reforma. “O governo não tem a pretensão de aprovar todas as medidas”, avalia.
Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, tem leitura parecida. “É difícil conseguir votar as medidas. É provável que haja meses de indefinição sobre quem será candidato às eleições, e a classe política vai ficar muito envolvida nisso. O governo vai ter de priorizar, senão fica complicado.”
Mas não é só a questão do prazo estreito que pesa contra o governo, mas a oposição que agora é feita por antigos aliados dentro do Congresso, onde as medidas precisam ser apreciadas. Um dia após o anúncio, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), reagiram ao pacote com discursos similares: o de que o governo não pauta o Congresso.
“É preciso ter cuidado com declarações feitas no calor do momento”, diz Flávio Serrano, do Banco Haitong. Ele vê mais facilidade na votação de parte das medidas, uma vez que, para isso, o governo precisaria de maioria simples.
IMPROVÁVEL
Entre as 15 propostas, algumas são consideradas improváveis de serem votadas pelo Congresso. A privatização da Eletrobras é uma delas, por ser tema delicado que exige intensa negociação, diz Vilela, do Credit Suisse.
“Tenderia a levar mais tempo do que a janela de três ou quatro meses que o governo teria para aprovar a medida.”
Por exigirem discussões, a reforma do PIS/Cofins e a proposta de autonomia do Banco Central também são vistas com descrença.
São consideradas viáveis medidas regulatórias mais simples, como o cadastro positivo, o banco de dados com histórico de pagamento dos consumidores. O texto já foi aprovado no Senado e deve passar pela Câmara nas próximas semanas.
Mesmo se fossem aprovadas, as medidas teriam impacto fiscal bem inferior ao estimado com a aprovação da reforma, diz Vilela.
“Algumas têm impacto pequeno em termos fiscais. São reformas pontuais, que atacam pontos específicos e que não resolvem o deficit da Previdência do país, que tem proporções muito grandes”, diz Vilela.
Para outra fonte, a percepção geral é que não deve ocorrer mais grande coisa na agenda doméstica e quem dita as regras no mercado neste momento é o exterior.
Fonte: UOL
Créditos: Flavia Lima e Danielle Brant