De quem é a digital no Jampa

Rubens Nóbrega

Aos 27 dias do mês de julho de 2009, quando prefeito da Capital se encontrava o atual governador do Estado, o Doutor Ricardo Vieira Coutinho, a Prefeitura Municipal de João Pessoa lavrou a Ata de Registro de Preços referente ao Pregão Presencial nº 192009, que teve como vencedora a empresa Ideia Digital Sistemas Consultoria e Com. Ltda., CNPJ 41.991.225001-34.

Aquele pregão foi realizado para a compra de 75 itens (equipamentos, programas e materiais de computador) destinados à Rede Metropolitana sem Fio, “com o monitoramento por imagens, acesso remoto sem fio, incluindo instalação, manutenção, operação e treinamento de pessoal para implantação e desenvolvimento da cidadania e inclusão sócio-digital de João Pessoa”.

O valor total licitado pela PMJP chegou a exatos R$ 39.453.888,00. Após o resultado da licitação, gente que entendo do riscado pesquisou no mercado os valores de alguns dos itens cotados pela Ideia e encontrou diferenças que até Deus duvida.

Pra vocês terem uma ideia, os especialistas pegaram apenas nove dos 72 itens e somente nesses, os mais ‘pesados’, digamos, identificaram um suposto desvio de R$ 5.667.012,40 da bolsa da Viúva para o bolso dos donos da Ideia e de quem mais eles eventualmente quisessem agradar, retribuir ou pagar por contrato tão vantajoso.

Esses R$ 5,6 milhões da pretensa corrupção praticada no certame vieram do seguinte cálculo: se a Prefeitura fosse comprar os nove itens a preço de mercado, gastaria R$ 2.283.233,60; mas, na planilha de preços da Ideia, a compra sairia por R$ 7.950.236,00, o que corresponde a um superfaturamento da ordem de 348,20%.

Só pra vocês terem outra ideia, um dos itens licitados – o Servidor de Dados Tipo I  HP DL180 G5 – apresentava um sobrepreço de inacreditáveis 1.650,49%! Em qualquer loja ou saite poderia ser comprado a R$ 4.320,00, mas à PMJP a Ideia forneceria por R$ 71.301,00. Outros exemplos:
– Sistema Digital Ponto a Ponto Tipo IV da Motorola, que no mercado estava cotado à época por R$ 34.200,00 ficou por R$ 131.526,00 no Pregão da PMJP vencido pela Ideia Digital, ou seja, sobrepreço de 384,58%;

– Câmera IP DayNight PTZ Tipo I, que poderia ser comprada normalmente a R$ 12.797,00, para a Prefeitura da Capital a Ideia Digital cotou a R$ 32.751,00, o que elevava em 255,93% o preço de mercado.

Tem mais, muito mais. Mas esses e outros dados sobre o Jampa Digital eu mantenho guardados em documentos que me foram fornecidos por fontes dignas de crédito naquele período. Tais documentos embasaram colunas que escrevi sobre o assunto ainda no tempo de Correio da Paraíba.

Quase um ano depois, creio, um promotor de Justiça da Capital solicitou-me cópias dos documentos. Fiquei animado porque pressenti, e confirmei depois, que o caso seria investigado pelo Ministério Público Estadual. Meses após entregar os documentos, contudo, nada mais soube nem me foi dito sobre o andamento da investigação.

Ainda bem que anteontem veio o Fantástico da Rede Globo e botou a história do Jampa Digital no mundo, para espanto de brasileiros em geral e paraibanos de bem em particular. Ontem, de uma tacada só, Tribunal de Contas do Estado (TCE) e MPE anunciaram que vão fazer rigorosas apurações sobre aquilo que se apresenta como mais um escândalo da era Ricardo Coutinho na Prefeitura de João Pessoa.

De quem foi a ideia
Esse Gosto Ruim não tem jeito mesmo. Cerca de dois anos atrás, vendeu um notebook usado meia boca a Bicho Bom depois de convencer o meu mais inocente e crédulo amigo de que ele teria acesso grátis à Internet graças ao Jampa Digital.

Morando em rua de Tambaú que dista cerca de 800 metros da praia, Bicho Bom há quase dois anos tenta de todas as formas – e não consegue – abrir sua caixa postal eletrônica usando a Internet sem fio da Prefeitura da Capital.

Vez em quando, perde a paciência e liga, irado, pro ‘fornecedor’. E o mala, só de ruim, dá conselhos absurdos a Bicho Bom, como aquele de se deslocar até a beira-mar em horário de maré baixa. “É a melhor hora de pegar o sinal da Prefeitura”, diz.

E Potinho de Veneno, que não apenas acreditou em Gosto como, também, na propalada excelência do projeto da Prefeitura, a ponto de cancelar contrato com a Net certo de que, doravante, navegaria a custo zero pela web?

Deu-se tremendamente mal, claro. Além de tudo, teve que pagar multa rescisória ao provedor, porque seu contrato na época ainda não tinha um ano da fidelização forçada que empresas do gênero impõem ao consumidor.

Por conta dessas e outras, Potinho resolveu boatar ter sido Gosto quem deu a ideia ao então prefeito Ricardo Coutinho de botar Internet grátis nos locais públicos administrados pela Prefeitura, principalmente escolas, praças e largos.

Deu efeito contrário. Gosto Ruim gostou da fama e começou a se vangloriar de ser o cara que teria sugerido a ‘cidade digital’. Só perdeu um pouco a pose ontem, ao sentir a repercussão da matéria do Fantástico sobre o Jampa Digital.

Mesmo assim, não perdeu a majestade. Quando Potinho ligou perguntando se ele teria levado algum pela ideia que resultou na milionária contratação da empresa baiana Ideia Digital, Gosto respondeu no ato:

– Camarada, eu realmente dei a ideia ao cara. Mas eu não tenho culpa se a Ideia dele era outra…