Os compassos nervosos da espera

Gilvan Freire

Cenário político confuso é algo muito excitante quando ainda há muito tempo para definições. Grave mesmo é quando não há mais tempo, os prazos legais estão esgotados e os agentes, o dinheiro (de preferência público), e as maquinações não conseguem resolver os impasses. Ainda assim, às vezes, sobra um recurso milagroso que altera tudo e desfaz informalmente aquilo que estava pactuado e formalizado perante os homens e as instituições: é a traição. Trata-se de um recurso usual manejado para justificar mudanças e emprestar sentido novo ao que parecia objeto de acordos celebrados com a força das escrituras públicas.

Por isso, na política, quase não há o último dia enquanto a noite não termina por completo varando a madrugada escura. Se for clara demais a madrugada, pode não servir, porque a escuridão é atrativa ou essencial aos que não podem ser vistos mudando de palavra ou trocando opinião por dinheiro.

À rigor, a movimentação dos lideres e partidos em torno da sucessão em João Pessoa está incipiente e opaca, mas ainda não é a escuridão. O escuro está longe. As sinalizações são fracas e não inspiram certeza de nada. Do lado do PSDB, Ruy Carneiro emerge e Cícero hiberna, numa combinação que somente os dois sabem por que razão. Resta a desconfiança de que algo novo pode acontecer a qualquer hora, ou um pouco mais adiante. Não demora e saberemos decifrar o mistério.

Maranhão está em compasso de espera, pois a análise das contas da última campanha pelo TRE, cujo processo tem parecer contrário do Ministério Público, inquieta em virtude da severidade da Lei Ficha Limpa, mesmo que a prestação de contas, nesses casos, nunca seja elaborada pelos candidatos e nem revelem desonestidade ou falcatrua, e sim meras irregularidades. Mas a responsabilidade legal é de Maranhão, se não for, por alguma razão prevista, do partido. Sua candidatura entrou noutro escuro diferente.

Luciano Cartaxo ganhou uma queda de braço dentro do PT, que não é definitiva mas avaliza, em tese, a sua candidatura. No PT, quem ganha internamente uma luta tem direito a outra que ninguém sabe quando termina e quem leva mais desvantagem. Lá, na queda de braço, todos os braços saem fraturados.

No campo girassol, a espécie vegetal nem fede, nem cheira. Ou, então: nem gira bem, nem se expõe ao sol. Mas há sinais de luta interna intensa. Talvez isso dê movimento a uma plantazinha anêmica que está ameaçada de extinção, mas tem o poder de não morrer sem reagir.

Coincidência ou não, os girassóis têm em seus ancestrais botânicos as raízes petistas, essas matrizes que matam os arbustos antes que eles possam produzir. Algumas vezes, é verdade, os arbustos não produzem porque nascem estéreis. Noutras vezes, porque se autodestroem. É um enigma para agrônomos decifrarem.

De qualquer modo, já se vê do lado de RC uma decomposição do que eram antes vegetais promissores. Não faltou regar – isso o povo fez. Faltou foi uma semente boa – isso não tem mais jeito. E faltou também um tempo e clima adequados – isso os girassóis subestimaram, e estão morrendo à míngua.

Ninguém chore de tristeza ou raiva: há tempo para tudo. Até para substituir o plantio de girassóis. Que não seja por outros.