Os conselhos dados pela revista “Beituki” se parecem com aqueles típicos de outras publicações femininas, como as clássicas “Claudia”, “Elle” e “Nova”. Como lidar com a dor nas costas durante a gravidez, por exemplo, ou quanto líquido ingerir durante as estações secas. Diversos dos textos também sugerem que a mulher agrade o marido, mas a justificativa é original: “Você pode imaginar quanto derramamento de sangue e quantos ossos ele vê todos os dias? Suas reclamações só incrementam o estresse”, diz a revista “Beituki”.
A publicação é editada por um braço midiático da rede terrorista Al Qaeda, o que explica seu público-alvo. “Beituki” — “sua casa”, em árabe — é voltada às mulheres ultra-conservadoras no Oriente Médio, em especial as casadas com militantes radicais. A revista foi lançada em dezembro e já tem três edições na internet. Esta é a capa da primeira:
Essa não é a primeira revista publicada por uma facção terrorista. A Al Qaeda foi responsável, por exemplo, pela “Inspire”, que entre outras reportagens incluía instruções para montar bombas caseiras. O Estado Islâmico, por sua vez, produziu por meses a revista “Dabiq”, com as notícias de seus avanços militares e detalhes de sua teologia. Já o Taliban lançou em 2017 a publicação feminina “Sunnat-i-Khaula”.
Mas “Beituki”, ao contrário das outras revistas, não inclui imagens de guerra nem fotografias de mulheres armadas. Enquanto “Sunnat-i-Khaula” incentivava as paquistanesas a se unir a milícias radicais, a nova publicação da Al Qaeda quer que elas fiquem em casa — o que explica as tantas fotografias de móveis, de pratos e de crianças. A própria capa da primeira edição é ilustrada por uma foto de decoração. A revista inclui cartas de amor de uma mulher a seu marido militante e uma coluna com conselhos para as noivas frustradas.
Segundo uma reportagem da revista britânica “Economist”:
A Al Qaeda parece incomodada com a maneira com que outros jihadistas empoderam suas mulheres. A organização terrorista pede que suas leitoras fiquem em casa e sejam boas esposas. “Faça de seu lar um paraíso na terra”, aconselha. “Prepare a comida que seu marido adora, depois arrume a cama dele e faça o que ele quiser.”
Afinal, o Estado Islâmico, rival da Al Qaeda, incluiu mulheres em suas batalhas, com um treinamento específico para manejo de armas. Foram recorrentes as mulheres-bombas durante a batalha por Mossul, que foi até ano passado a principal fortaleza dessa milícia no Iraque. “A Al Qaeda teme que o conflito tenha tornado as mulheres demasiado ativas e empoderadas”, disse à “Economist” Elisabeth Kendall, da Universidade Oxford. “Eles preferem se enfocar na etiqueta doméstica.”
Fonte: Folha
Créditos: Folha