A proposta foi considerada um avanço pelos negociadores do governo brasileiro porque preserva a área de defesa da empresa, que é cobiçada pela Boeing desde dezembro. Mas não há um acerto fechado ainda, o que levou a Embraer a elaborar comunicado ao mercado ressaltando que ainda está em conversações.
Notícia publicada no site do jornal “O Globo” apresentou o negócio como certo, o que levou à elevação das ações da Embraer.
Na realidade, essa é a nova opção na mesa, e foi apresentada ao grupo de trabalho do governo que lida com o assunto na tarde de quinta (1) por executivos das duas empresas. A opção com a qual a Boeing vem trabalhando visa retirar da equação a restrição que o governo brasileiro faz à perda de controle nacional sobre áreas estratégicas da Embraer.
O presidente Michel Temer disse em várias oportunidades que não permitiria a “venda da Embraer”, o que não é preciso pois trata-se de uma empresa privada com 85% de seu capital na mão de estrangeiros. O que o governo possui é assento no Conselho de Administração da empresa com uma “golden share”, ação especial que lhe permite vetar negócios e mudança de composição acionária.
Isso é uma herança do processo de privatização ocorrido em 1994 que visa principalmente proteger interesses de soberania nacional, já que a Embraer é a principal parceira da Força Aérea e está envolvida em projetos estratégicos em várias áreas.
Quando manifestou interesse pela Embraer, a Boeing buscava a compra total da empresa, que vale cerca de US$ 6 bilhões. Frente à negativa imediata do governo à hipótese, mas não a outros negócios, os americanos estão estudando alternativas.
A formação de uma empresa para desenvolver aeronaves civis seria uma forma de contornar as objeções do Planalto na área de defesa, que era alvo da Boeing no início das conversas. Há resistência, contudo, relativa à comunalidade dos departamentos de pesquisa e desenvolvimento de ambos os setores da Embraer: a área de defesa é um celeiro de inovações que ao longo dos anos transferiu conhecimento para o setor civil.
O problema maior é que investimento oficial em projetos de defesa fica fora do radar da Organização Mundial do Comércio, embora possam ter utilidade à área civil, que não pode receber subsídios. A vantagem desse acerto é a possibilidade de garantir as salvaguardas de soberania em projetos sensíveis, a depender do que for exatamente ofertado.
Além disso, segundo a Folha apurou, ainda é preciso entender o que aconteceria com a Embraer civil sem participação da Boeing, já que a linha de jatos regionais responde por 60% de seu faturamento líquido. Ela poderia ficar com a linha de jatos executivos, por exemplo.
A negociação Boeing-Embraer é motivada principalmente pela associação entre a gigante europeia Airbus com a fabricante de jatos regionais canadense Bombardier. Os europeus compraram a linha que compete diretamente com os novos aviões do nicho da Embraer, preenchendo uma lacuna importante em seu portfólio.
Assim, a Embraer ficou à mercê de uma competidora anabolizada, e a Boeing viu sua maior rival entrar num mercado na qual não opera. Do ponto de vista de lógica comercial na área civil, a associação entre a brasileira e a americana é vista como um passo óbvio pelo mercado mas esbarra na peculiaridade da operação da Embraer na área de defesa.
Na semana passada, uma decisão de agência reguladora nos EUA deu mais fôlego ainda à Airbus/Bombardier, garantindo a aceleração das negociações tocadas pela Boeing.
Fonte: Folha de São Paulo
Créditos: Igor Gielow