Mesmo com um dos mais elevados índices de rejeição popular da história, o presidente Michel Temer (MDB) considera que já há um “reconhecimento” ao seu governo e que seus adversários terão dificuldade de falar mal de sua gestão durante a campanha eleitoral. Em entrevista ao Valor Econômico, Temer diz que não aceitará a aprovação apenas da idade mínima na reforma da Previdência, como tem defendido parte da base aliada.
“Ela terá que ampliar-se para a questão das contribuições. Uma ou outra coisa ainda será examinada. O ponto central é a obediência absoluta ao princípio da igualdade, que é uma determinação constitucional. Servidores públicos ou trabalhadores da iniciativa privada têm um teto para a aposentadoria, hoje de R$ 5.645. Acima do teto, terão que fazer contribuição para a previdência complementar. Isso não altera a sua aposentadoria. Altera seus ganhos mensais, porque, um pedacinho vai sair para a aposentadoria complementar”, declarou.
Segundo ele, os parlamentares estarão sujeitos a essas mesmas novas regras e os militares serão tratados só depois da reforma dos civis. “Da forma como foi montada agora, mais amenizada – retirando os trabalhadores rurais, reduzindo o tempo de contribuição -, ainda assim a economia será de R$ 600 bilhões. Ora entre não fazer nada e fazê-la com esta economia, vale a pena porque o risco de não fazer nada é de, mais adiante, ter que fazer uma reforma radical, cortar pensões, ganhos de aposentados, dos servidores públicos. O que não é uma coisa irreal, já aconteceu em vários países”, afirmou.
Para o presidente, os brasileiros estão reconhecendo o seu governo. “Não está nas minhas cogitações. Cada vez mais eu digo ‘interessante, o meu reconhecimento…’ eu acho até que está começando um pouco antes, eu sempre tinha a ideia de que historicamente haveria um reconhecimento, porque é inevitável, por tudo isto que estou mencionando. Nós pegamos o país numa situação muito delicada. Eu sinto isso. Tanto que não há movimento nenhum para tirar o governo. Vocês veem algum movimento de rua, alguém dizendo ‘esse governo tem que sair’? A não ser a oposição que age como oposição política.”
Na entrevista a Cláudia Safatle e Raymundo Costa, Temer também minimizou as resistências à privatização da Eletrobras no Congresso. “Não tive conversas ainda, mas não verifiquei muitas reações negativas. Nós vamos explicar direitinho e certamente vamos ter não só a compreensão, mas o apoio, inclusive dos governadores.”
Candidato do governo
Temer diz que só vai decidir que candidato apoiar ou descarta completamente uma possível candidatura ao Planalto em maio. Segundo ele, seus opositores terão dificuldade de se posicionar nas eleições por causa das ações de seu governo.
“Vou defender a hipótese de o governo apoiar quem vai sustentar o governo. Até por uma razão: quem for candidato da oposição, quem quiser criticar o governo, vai ter que dizer ‘eu sou contra o teto dos gastos, a reforma do ensino médio, a modernização da legislação trabalhista, a inflação medíocre de 2,95%, eu prefiro a inflação de 10%, eu sou, eu sou contra esses juros horrorosos de 7%, eu preferia aquele de 14,25%, eu sou contra a moralização das estatais (eu é que sancionei a Lei das Estatais), sou contra a abertura de 1,3 milhão de novos postos de trabalho’. Em dezembro de 2016 tínhamos saldo negativo de mais ou menos 1,330 milhão de postos de trabalho; este ano, temos um saldo negativo de 28 mil. Ou seja, houve abertura de 1,3 milhão postos de trabalho. Um candidato de oposição vai ter muita dificuldade para fazer isso.”
Embora defenda a redução no número de legendas, Temer disse que é possível governar o país com 30 partidos. “Eu consegui. Veja o que fizemos nesse período. Nós fizemos reformas que não foram feitas por governos que ficaram muito tempo no poder. Eu consegui, mas reconheço que é difícil. Acho que deveremos caminhar para uma reformulação política que permita um número menor de partidos políticos.”
Fonte: Congresso em Foco
Créditos: Congresso em Foco