análise

Ministro errou feio ao anunciar fim do surto de febre amarela em 2017

Faz 4 meses, quando anunciou o fim de o surto de febre amarela, faltou cautela a Ricardo Barros de o ano passado. Ricardo Barros é o ministro da Saúde. Ele justificou declarando que o último caso registrado havia acontecido três meses antes, e agora se vê que cometeu um erro crasso.

A razão é simples: aqueles três meses de inverno são os mais secos nas regiões afetadas, em especial o Sudeste do país. Com menos chuvas, há menos água acumulada em ocos de árvores para a reprodução de mosquitos Haemagogus e Sabethes, transmissores do vírus da febre amarela entre macacos e, ocasionalmente, para seres humanos.

Declarado de outro modo, a redução de casos era somente sazonal. Barros desejou dar uma de esperto e faturar politicamente a variação momentânea, mais preocupado talvez com a aproximação de um ano eleitoral do que com a população.

Deu no que deu. Num país com governo menos pusilânime do que o de Michel Temer , teria sido demitido em 2018, com o regresso acentuado de infecções.

Experts como Maurício Lacerda Nogueira, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto , declaram que o surto estava há bastante previsto. Uma “borrasca perfeita”, nos vocábulos de Paolo Zanotto, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP. A febre amarela está só fazendo o percurso de volta para os locais por onde entrou no Brasil.

O vírus chegou aqui nos tempos da Colônia, o mais provável, a bordo de navios vindos da África. Provocava surtos esporádicos em cidades como o Rio de Janeiro. Com o tempo, deixou de depender da via marítima e se disseminou entre macacos da mata atlântica.

Com o desmatamento, a coerente queda na população de símios e as campanhas de vacinação e de erradicação de mosquitos, a febre amarela urbana concluiu erradicada no início do século 20. Foi, por assim declarar, empurrada para rincões como a Amazônia.

Entretanto, o vírus continuava a circular entre macacos, com a ocorrência de epizootias em ciclos de oito anos. Esse é o tempo aproximado que a população desses bichos leva para se recompor depois de aniquilada por um surto de febre amarela na mata, como os que continuaram a ocorrer pelo país.

Por esse motivo havia recomendação para vacinar a população humana em duas dezenas de Estados, ainda que não em todos os municípios. Em São Paulo, por exemplo, recomendava-se a vacinação no oeste do Estado, mas não na região metropolitana da capital e noutras cidades próximas da costa.

A diferença da dose menor em relação à integral está no volume aplicado. A fracionada tem 0,1 ml, enquanto a norma tem 0,5 ml. Um frasco com cinco doses, por exemplo, pode imunizar até 25 pessoas.

Na quinta-feira 18 de janeiro o Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças havia emitido um alerta de avaliação de risco para os viajantes que vierem ao Brasil durante o Carnaval. O documento alegava esperar uma ampliação nos casos de febre amarela por conta do turismo sazonal.

Um Estado decisivo para conservar esse bloqueio da febre amarela era Minas Gerais. Contudo, concentrou-se a vacinação ali em crianças e no território a oeste do rio São Francisco. A cobertura alcançou pouco mais de metade dos mineiros, uma proporção insuficiente para fechar a avenida franqueada ao vírus.

É provável que haja outros fatores por trás da passeata de regresso da febre amarela para a faixa costeira do país. Especula-se que variações climáticas como ampliação de temperatura , normas de chuva modificados por El Niños intensos e até a regeneração parcial da mata atlântica tenham instituído condições mais favoráveis para os mosquitos vetores do ciclo silvestre da enfermidade.

Com mais mosquitos voando no mato, amplia a possibilidade de uma pessoa ser picada por um Sabethes ou por um Haemagogus e receber o vírus colhido antes pelo inseto, ao chupar o sangue de um macaco doente. O problema está no mosquito, não nos primatas, vítimas tão passivas da febre quanto nós.

Apesar de todo o pânico atual, em grande medida injustificado, a febre amarela silvestre não é nem de longe tão angustiante quanto a versão urbana da enfermidade. Nas cidades, teme-se que o vírus venha a ser transmitido de pessoa para pessoa pelo Aedes aegypti, o mesmo mosquito da dengue, da zika e da chikungunya.

Importante declarar que isso ainda não ocorreu, ou pelo menos não há comprovação disso. Embora se discuta entre pesquisadores se essa população de mosquitos que infesta as cidades tem muita ou pouca proficiência para transmitir o vírus da febre amarela, mas o Aedes continua por aí.

Essa é a hora de montar um esforço concertado de pesquisa para compreender melhor o que está alimentando o surto de febre amarela. Mas o governo federal e todos os outros estão na penúria, cortando tudo quanto é orçamento para instituições de ciência.

Faz 1 ano, desde 1º o Ministério da Saúde já registrou 130 casos de febre amarela em o país que 53 evoluíram para o óbito., sendo que 53 evoluíram para o óbito. No total, foram informados 601 casos suspeitos, sendo que 162 permanecem em inquérito e 309 foram descartados, neste fase.Com isso, o número de casos confirmados também aumentou, de 81 para 134, no fase. O destaque ainda é a cidade de Mairiporã, na região metropolitana, que concentra 57,4% dos casos, chegando a 77. Assim como no levantamento anterior, Mairiporã, Atibaia e Amparo adicionam três quartos dos casos no Estado.

Parte de o alarme que ora se observa e de as filas em os postos de saúde engrossadas por quem não precisa de vacina Parte de o alarme engrossadas é devida a ignorância e desorientação. A outra parte, porém, decorre da incompetência deste governo e dos prévios para lidar até com enfermidades do século 19.

Com a senha em mãos, os habitantes têm que procurar a unidade básica mais próxima de casa já com um horário agendado. O objetivo é diminuir os alvoroços e as filas.

Fonte: Folha de S. Paulo
Créditos: Folha de S. Paulo