Imirgração

Novas regras para imigrantes podem voltar a paralisar governo Trump

Trump chegou a anunciar em setembro o fim do Daca -- criado pelo ex-presidente Barack Obama em 2012 --, deixando os 'dreamers' em limbo jurídico, mas voltou atrás e colocou o tema como moeda de troca das discussões no Congresso.

A semanas de um novo embate orçamentário no Congresso dos Estados Unidos, que pode fazer o governo voltar a paralisar, o presidente Donald Trump não agradou nem aos democratas nem aos republicanos com sua proposta para substituir o programa federal que concede status legal a cerca de 700 mil jovens imigrantes que chegaram aos país ilegalmente — justamente o principal ponto de atrito no debate.

Enquanto opositores democratas e ativistas pró-imigrantes consideraram excessivamente rígidas as condições impostas pela Casa Branca para regularizar a situação dos chamados ‘dreamers’, conservadores mais à direita exigiram o fim do chamado Daca, iniciativa que abre o caminho à legalização destes jovens.

O plano da Casa Branca, apresentado na noite de quinta-feira, prevê facilitar a cidadania para aproximadamente 2 milhões de jovens sem documentos, entre eles os ‘dreamers’. Em troca, requer que o Congresso conceda US$ 25 bilhões para a construção de seu controverso muro na fronteira com o México. No mais, acaba com o tradicional sorteio de vistos de residência (os chamados green cards) e reduz drasticamente a “migração em cadeia” — reunificação familiar de imigrantes nos EUA –, que ficará limitada a cônjuges e filhos menores de idade.

“O plano usa os dreamers como moeda de troca para radicais políticas anti-imigrantes”, criticou a líder da bancada hispânica do Congresso dos EUA, a deputada democrata Michelle Lujan Grisham. Líder democrata na Câmara, Nancy Pelosi foi além: tratou a proposta como “parte da inconfundível campanha do governo para fazer os EUA brancos de novo”. Já o corregedor (whip) da minoria do partido no Senado, Dick Durbin, defendeu soluções bipartidárias. “Os dreamers não deveriam ficar reféns da cruzada do presidente para separar famílias e gastar bilhões de dólares do contribuinte em um muro ineficaz”, apelou.

Trump chegou a anunciar em setembro o fim do Daca — criado pelo ex-presidente Barack Obama em 2012 –, deixando os ‘dreamers’ em limbo jurídico, mas voltou atrás e colocou o tema como moeda de troca das discussões no Congresso. Pela proposta de Trump, o caminho burocrático para a cidadania dos 1,8 milhão citados na proposta levaria ao menos dez anos e incluiria requisitos de trabalho, educação e “caráter moral”. O processo poderia ser revogado se eles cometerem crimes ou gerarem temores de ameaça à segurança nacional. Os pais dos beneficiados, dentre eles os ‘dreamers’, não poderiam receber status legal ou tentar a cidadania.

Apesar de em público as lideranças republicanas elogiarem a proposta, estavam incomodadas com os sinais contrários da Casa Branca em relação à imigração durante as negociações que acabaram deixando o governo sem financiamento por três dias neste mês. Ontem, o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell afirmou que o plano de Trump ajudará a guiar a busca por um acordo definitivo antes do próximo dia 8, quando expira o financiamento-relâmpago ao governo aprovado no Senado e na Câmara para acabar com a paralisação.

“O plano é generoso e humano”, elogiou o deputado republicano Tom Cotton, crítico da imigração em massa. “Protege os beneficiários do Daca e nos previnirá de voltar aqui em cinco anos e debater a segurança na fronteira e a migração em cadeia.”

Se a proposta foi recebida com críticas dos democratas pelas demandas consideradas excessivas, os mais radicais antimigratórios também não saíram satisfeitos. Nacionalistas pró-Trump que se candidatarão às eleições legislativas de novembro criticaram a expansão de “anistia” para ilegais. “O próprio Daca não abria o caminho à cidadania”, disse o senador Ted Cruz, do Texas “Acredito que seria um grande erro, inconsistente com as promessas que fizemos aos eleitores.”

Fonte: Valor Econômico
Créditos: Agência O Globo