Pá de cal na Cruz

Rubens Nóbrega

O Índex dos Malditos do Império Girassolaico agregou ontem um novo e importante verbete: Alexandre Roque Pinto.
Trata-se de um juiz do Trabalho da Capital que botou mais uma pá de terra – e das grandes – no milionário negócio da terceirização de hospitais públicos pelo Ricardus I.
Mediante liminar, o Doutor Alexandre acatou as razões do procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho na Paraíba, Eduardo Varandas, em ação movida contra a terceirização dos serviços de saúde do Estado.
Além de dar um freio – desses de cantar pneus – na transação, o juiz estipulou multa diária de R$ 10 mil para cada trabalhador que for encontrado em situação irregular, caso o governo de Sua Majestade afronte a decisão.
O que deve ser pinto para a Cruz Vermelha do Rio Grande do Sul operada na Paraíba por um pessoal da Baixada Fluminense. R$ 10 mil por dia por cada médico ou enfermeira terceirizado é ninharia diante do faturamento do esquema no Trauma-JP.
Lembro, mais uma vez, que o monarca contratou a Cruz por R$ 7 milhões e 300 mil reais por mês para gerenciar um hospital que na média histórica custava não mais do que R$ 4,5 milhões mensais.
Com a decisão de agora, a Justiça do Trabalho bota a água de um caminhão-pipa cheinho pela boca no chopp dos signatários desse contrato.
Um contrato que foi prorrogado ilegalmente, segundo o MPT-PB, enquanto o governo se preparava para expandir o negócio, passando hospitais do interior para a lucrativa exploração da iniciativa privada.
Ô RAÇA!
Otimista incorrigível, crédulo por natureza, inocente por vocação e ingênuo a maior parte do tempo, renovo continuadamente os meus créditos na possibilidade de melhora contínua dos humanos, mesmo que sejam políticos. Mesmo que sejam políticos da Paraíba.
Mas, pelo visto, não tem jeito. Quando a gente pensa que acertou no voto, que o escolhido veio para ser diferente e fazer a diferença, que não vai repetir as velhas práticas e costumes do fisiologismo, do clientelismo e do patrimonialismo dominantes nesse meio…
Aí, o cara ou a cara faz igual ou pior, porque costura e segura as alianças mais espúrias em troca de empregos, benesses, sinecuras, favores e privilégios, para si ou os seus mais chegados, aí incluídos sócios ou empresários que lhe financiam campanhas e otras cositas mas.
Algumas dessas figuras são tão viciadas que não conseguem avançar um milímetro sequer no rumo da integridade pessoal, da seriedade política, da probidade administrativa, da moralidade pública. Não conseguem porque não querem ou simplesmente não sabem como.
O vício é tamanho que se passar um tempo sem cometer uma safadezazinha o sujeito entra em crise de abstinência e pra sair da fissura é capaz até de pedir, por exemplo, que a Viúva engorde a aspone da ex-mulher que é pra ele ter desconto na pensão alimentícia.
Políticos desse naipe não melhoram nem mesmo passando pelo sofrimento de punição severa que lhe prive do oxigênio do poder. Se brincar, aproveitam o tempo fora do ‘paraíso’ só elaborando novos métodos de locupletamento dos meios, cargos e recursos públicos.
Ah, sim, agora entendi
No meio da noite de ontem foi que fui entender porque o senador paraibano Cássio Cunha Lima, do PSDB, foi se entender com o governador pernambucano Eduardo Campos, do PSB, sobre a cota de exportação do açúcar da Paraíba para os Estados Unidos.
Antes, havia solicitado à assessoria de Imprensa do senador uma explicação. Inclusive para não dar gás ao discurso de alguma oposição que vê o governo Ricardo Coutinho como mero subsidiário do governo Eduardo Campos.
A explicação não veio, mas depois recebi nota segundo a qual Cássio foi buscar o apoio do governante pernambucano pra gente aumentar a nossa exportação de açúcar, que hoje seria menor do que a cota que nos cabe nesse latifúndio, quer dizer, nesse canavial.
Agora, o que não entendi mesmo foi o senador dizer na audiência com o governador “que o discurso vazio de que a Paraíba não pode ser submissa ao Estado vizinho tem caráter menor e não ajuda em nada tendo em vista que é essencial que o Nordeste, e em especial os estados fronteiriços se articulem para o desenvolvimento de maneira conjunta”.
Oxente, Doutor, como assim? Quer dizer que é vazio o discurso segundo o qual “a Paraíba não pode ser submissa ao Estado vizinho”? Quer dizer que Sua Excelência concorda com o discurso cheio da submissão, é?
Reveja e releia, por favor, a sua própria nota sobre a tal audiência e depois esclareça ou me diga se estou ficando doido de vez e não entendo é mais nada!