Um detento espanhol dado como morto no centro penitenciário de Villabona, em Asturias, acordou pouco antes da autópsia, para a surpresa dos familiares que já se preparavam para o enterro. O caso chamou a atenção e agora médicos e a polícia local investigam o que aconteceu com Gonzalo Montoya, 29, na semana passada. Será que a ciência consegue explicar que ele tenha “ressuscitado”?
De acordo com a imprensa da Espanha, o jovem foi encontrado desacordado na manhã do dia 7 em sua cela. Ainda na cadeia, três médicos identificaram que o preso não tinha sinais vitais e assinaram o laudo. A família foi avisada e Montoya acabou na geladeirado Instituto de Medicina Legal de Oviedo, onde permaneceu inconsciente por algum tempo.
Na hora da autópsia, porém, os funcionários perceberam movimentos e sons feitos pelo corpo. Montoya foi então socorrido e levado às pressas para o Hospital Central de Asturias.
A história causou revolta entre os familiares do detento e, segundo os médicos ouvidos pela reportagem do UOL , tudo leva a crer que se trate de um erro dos profissionais que assinaram o atestado de óbito.
É difícil avaliar à distância, mas com os recursos médicos que temos hoje não há a menor possibilidade de alguém levantar de uma geladeira, ‘ressuscitar’, exceto se for Jesus Cristo”
José Veríssimo, diretor clínico da Clínica Jorge Jaber, especializada em tratamento psiquiátrico e dependência química
“Há um aspecto cultural que precisamos falar, as pessoas não querem lidar com a morte, os médicos são formados para lidar com vida, não querem chegar perto do cadáver e isso leva a erros grosseiros, como parece ter sido esse caso”, diz João Roberto Oba, presidente da Associação dos Médicos Legistas do Estado de São Paulo.
O diagnóstico de morte é um diagnóstico difícil, especialmente se o fato é recente”
João Roberto Oba
De acordo com Oba, há um protocolo que serve para detectar o óbito com certeza, mesmo nos casos em que há redução drástica da atividade metabólica. Nesse tipo de situação, são feitos exames clínicos neurológicos, como de pupila e para verificar a presença ou não de reflexos.
“Um pequeno espelho também pode ser usado abaixo das narinas para verificar o menor sinal de respiração”, diz o médico legista.
“Além disso, a partir de três horas já começamos a perceber a rigidez do corpo, que se manifesta primeiro na mandíbula”, diz Oba. Segundo a imprensa espanhola, entre o momento em que Montoya foi encontrado na cela e a sua chegada ao IML, passaram-se duas horas. Ele cumpria uma pena de três anos e seis meses por roubo.
Uso de drogas
O jovem tinha histórico anterior de tentativas de suicídio, claustrofobia, ataques epiléticos e tomava remédios para o tratamento de problemas psiquiátricos. Segundo a imprensa espanhola, exames apontaram que o preso ingeriu um coquetel de substâncias — como cocaína, heroína, haxixe, metadona e barbitúricos — antes de ser encontrado na cela.
Se foram detectadas substâncias em seu organismo, pode ter ocorrido uma sedação pela medicação. Essa é uma hipótese bastante forte e, se ele era portador de alguma patologia anterior, existe um quadro neurológico que é a narcolepsia, que já foi associada a casos dramáticos de pessoas enterradas vivas. Mas isso era no passado, quando não tínhamos os métodos diagnósticos para detectar a morte que se tem hoje”
José Veríssimo
A narcolepsia é uma doença neurológica, genética e que leva a pessoa a dormir profundamente e pode se manifestar em qualquer lugar. Os médicos consultados peloUOL , no entanto, dizem que exames clínicos conseguiriam facilmente descartar o óbito nesses casos.
Outro aspecto curioso da história é que Montoya sobreviveu apesar de ter ficado um tempo na geladeira do IML. De acordo com o médico legista, isso seria mesmo possível, dependendo do período e da temperatura no local. “A geladeira de cadáver normalmente fica entre 3 e – 8ºC. Supondo que ele estava a uma temperatura de zero a 1ºC, o corpo pode ter diminuído o seu metabolismo para manter a temperatura corporal e ele ganhar uma sobrevida”, diz Oba.
Depois do incidente, Montoya foi internado para se recuperar das sequelas do incidente, problemas nos rins e uma pneumonia. Sua família vai pedir à Justiça para que ele cumpra o resto da pena, seis meses, fora da prisão e estuda processar os responsáveis pelo diagnóstico de morte. O instituto responsável pela administração penitenciária na cidade disse que abriu uma investigação para apurar o caso.
Fonte: UOL
Créditos: UOL