O grande Tsunami foi aqui

Gilvan Freire

A imprensa mundial deu imenso destaque, nos últimos dias, à capacidade que os japoneses têm de superar adversidades em pouco tempo. A História pôde compreender isso com inescondível má vontade quando o Japão saiu destroçado da segunda Guerra Mundial e, melhor que os vencedores do conflito, recuperou rápido a alto estima e reorganizou sua economia para enfrentar, noutro campo mais pacifico, os competidores internacionais, entre os quais os próprios países que o renderam em campo bélico. A má vontade da História em reconhecer o milagre nipônico decorreu do fato de que ela é sempre contada pelos ganhadores, e nunca está bem disposta para reconhecer o mérito dos que perdem.

Mas a História de nossos dias, que agora é produzida pelas testemunhas globais – e não mais pelos agentes interessados, que eram encarregados de escrevê-la a serviço das forças dominantes -, já não pode mais omitir ou falsear os fatos quando, em qualquer parte do planeta, o mundo se ver a si mesmo, via online. Este é, com todos os seus riscos imprevisíveis, o melhor momento da História Universal, tanto que há quem diga, certamente pensando no modelo histórico ultrapassado, que a História chegou ao fim.

A CATÁSTROFE NA PARAÍBA

A catástrofe que devastou o nordeste do Japão, com tremores de magnitude 8,9 na escala Richter e ondas de 40 metros de altura, foi ampliada pelo acidente nuclear que inutilizou mais de 23 000 hectares de terras antes produtivas e colocou em risco milhões de pessoas. Pelo menos próximo de 20 000 japoneses morreram em mais de 20 comunidades atingidas, mais de 25 000 barcos de pesca viraram sucatas, 47.000 habitantes perderam ou tiveram de abandonar suas casas, e 559 quilômetros de estradas ficaram aquém de carroçáveis. Um ano depois da tragédia, as estradas estão recuperadas; e 98% da água de consumo humano, 96% da luz, e 95% do gás estão restabelecidos. O governo japonês está preparado para realizar, nos lugares alvejados pela ira dos mares, um Japão ainda mais forte e mais encorajado para renascer das cinzas e vencer as hecatombes.

Vista por qualquer um de nós paraibanos, olhando para dentro dessas destruições como se elas pudessem acontecer aqui, logo concluiríamos que os mortos teriam que ser salgados ou congelados para serem sepultados algum dia; estradas não seriam recuperadas em menos de 20 anos; a água voltaria ao regime de fornecimento através de burros; as velas e o querosene gerariam a luz por décadas, e os serviços de atendimento ao povo (hospitais, escolas, delegacias, etc.) seriam prestados pelos governos mais próximos, o de Pernambuco ou o do Rio Grande do Norte.

Ora, no nosso Estado, pontes como a de Itabaiana, Pilar e da Batalha, em Cruz do Espírito Santo, estão há alguns anos para ser reconstruídas; quase 20 hospitais estão em construção por mais de uma década e estradas curtas são começadas por um governo e demoram a ser continuadas por outros, apesar de, em quase todos os casos, terem recursos garantidos por um gestor mas a aplicação propositalmente fica retardada pelo gestor seguinte.

Entre nós, há algo pior do que um Tsunami ocasional, desses que vomitam fogo no meio dos oceanos e arrasam as populações costeiras pela propagação de ondas assassinas: é a incapacidade dos governantes que nós próprios escolhemos na tentativa de encontrar uma tábua de salvação em meio ao naufrágio. Nesse sentido, nem precisamos ter medo da ira dos mares ou do fogo que também destrói. Só precisamos ter medo é da ira dos homens. E quanto mais insensível e irado for o homem, mais será capaz de fazer eclodir seus próprios e devastadores tsunamis. E só Deus pode nos salvar da fúria deles.