Jair Bolsonaro dispensa comentários. É um espertalhão que descobriu no marketing de sua brutalidade e intolerância a maneira de sair da obscuridade dos medíocres e projetar-se para uma camada de gente de visão tão larga e profunda que acha que o vizinho gay ou o garoto que fuma um baseado são as grandes desgraças do Brasil.
As reportagens da Folha sobre o “Bolsofamília” – os 15 imóveis comprados, alguns em condições estranhas – por ele e pelos três filhos parlamentares – evidenciam, porém, algo curioso. Nada mais igual aos “políticos” que ele costuma achincalhar do que o próprio Jair Messias Bolsonaro.
Vai fazer 30 anos de mandato . Elege os filhos. Aposentou-se aos 33 anos. Acumula o soldo da reserva aos vencimentos de parlamentar, o que o põe acima do teto constitucional. Recebe auxílio-moradia, mesmo tendo apartamento próprio em Brasília. Convenhamos, é dose para quem diz ser o “antipolítico”. Tenho dito e repetido aqui: quando encontrar um moralista, pé atrás e mão na carteira.
Há outra evidência no caso. É a de que, quando a imprensa quer “fazer campanha”, sai de baixo. A matéria publicada agora à tarde com “as 32 perguntas sobre patrimônio que a família Bolsonaro não responde” é um daqueles casos em que a pauta vira reportagem.
Bolsonaro, porém, fechou-se em copas e nem o discurso furibundo desta vez soltou, esperando que passe a “onda” e ele possa, esquecidos os seus, apontar as obscuridades de outros. Minha opinião: pode ter impressionado um ou outro, os fanáticos ficara mais açulados e perigosos.
Disse já na primeira reportagem que os efeitos sobre o núcleo fanático de seus eleitores será pequeno ou até estimulador. Mas basta uma queda de três ou quatro pontos no próximo Datafolha para produzir um pânico de barata voadora num agrupamento sem densidade, sem representatividade e com o ódio como traço de união. Assim é o jogo da mídia.
Por conta de muitos – Bolsonaro entre eles – passamos a viver um clima onde todos são suspeitos até que provem o contrário – às vezes, nem assim. É bom Luciano Huck já ir se acostumando com o que cairá sobre ele se voltar a ser “quase-candidato”.
Fonte: Brasil 247
Créditos: Fernando Brito