O que você faria se recebesse R$ 17 a mais no seu salário? É este o valor do reajuste do salário mínimo a partir do dia 1º de janeiro. O aumento de 1,81% é o menor em 24 anos. O índice fica abaixo da inflação acumulada nos 11 primeiros meses do ano, que foi 2,5%, ou nos últimos 12 meses, de 2,8% conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE.
Mas o reajuste, segundo o Ministério do Planejamento, leva em conta outra taxa de inflação, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). A previsão da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda é que o INPC fechará em 1,88% no acumulado de 2017.
O menor reajuste anual do mínimo havia sido concedido em 1999, quando aumentou 4,62%. A inflação acumulada em 12 meses, porém, era menor que o reajuste: 3,14%. Por isso, apesar de pequeno, o índice garantiu aumento real de 1,48% aos trabalhadores e pensionistas naquele ano. Desde então, o mínimo sempre teve aumento superior à inflação, exceto em 2011.
Nas ruas, o cidadão, indignado, não sabia nem o que dizer diante da notícia. “Esse valor de R$ 17 não vai mudar nada na minha vida”, diz a atendente de lanchonete Ketley Michele da Silva Oliveira, que ganha um salário mínimo.
E não foi apenas Ketley que ficou decepcionada com o reajuste do mínimo. Wagna Alves, que trabalha na área de eletrônica, se disse assustada. “Eu nem sei dizer o que dá para fazer com R$ 17 a mais no salário no mês. Não dá para fazer nada”, lamenta.
O novo valor traz um incremento menor que o sinalizado pelo próprio governo. Em agosto, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) previa aumento do mínimo para R$ 979, o que significa alta nominal de 4,48%. Uma semana depois, porém, o governo revisou a previsão para baixo e tirou R$ 10 do salário, ao reduzir o provável valor para R$ 969 (aumento de 3,41%).
Isso ocorre porque o mínimo é definido por um cálculo que leva em conta a inflação do ano anterior e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes – bem no olho do furacão da recessão que assolou a economia.
O governo havia previsto que o INPC encerraria 2017 com crescimento de 3,1%. No entanto, até novembro, o valor acumulado do ano está em 1,8%, exatamente o reajuste do mínimo previsto no decreto presidencial. Não haverá repasse do comportamento do PIB para os salários porque a economia apresentou queda em 2016.
O decreto foi assinado na sexta-feira (29) pelo presidente Michel Temer, e publicado em edição extra do “Diário Oficial”. O decreto também estabelece o valor do pagamento mínimo diário de R$ 31,80. A hora mínima passará dos atuais R$ 4,26 para R$ 4,34. O valor do mínimo é o mesmo pago a aposentados e pensionistas do INSS que ganham o piso previdenciário. (Com agências)
Desemprego cai a 12%, mas ainda é o maior desde 2012
Os vendedores de amendoim e pipoca Alessandro Correia, 20, e Maxwell Santos Rosa, 19, já experimentaram o gostinho da carteira assinada. Mas, há cinco meses, Correia ganha a vida na rua. “É melhor do que ficar parado”, diz. Incentivado pelo amigo, Maxwell começou a trabalhar como vendedor há uma semana. Os dois são o retrato do Brasil: engrossam a estatística da população ocupada, ajudam a diminuir a taxa de desemprego, mas estão na informalidade.
A taxa de desocupação no Brasil ficou em 12% no trimestre encerrado em novembro, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados na sexta-feira pelo IBGE. A taxa é a maior para os trimestres encerrados em novembro desde o início da Pnad Contínua, em 2012.
Hoje o Brasil tem 12,6 milhões de desempregados. Já foram quase 14 milhões. Entretanto, a maior parte dos empregos gerados são precários, alerta o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo.
O contingente total da população ocupada, de 91,9 milhões de pessoas, é o maior desde o quarto trimestre de 2015. Embora o número seja aparentemente bom, Azeredo ressalta que o crescimento está associado a vagas de trabalho marcadas pela informalidade, com empregos não registrados.
O mercado de trabalho no país perdeu 857 mil vagas com carteira assinada no período de um ano. Já o emprego sem carteira no setor privado teve aumento de 6,9%, com 718 mil empregados a mais, na mesma base de comparação. “Uma retomada do volume de pessoas trabalhando a gente assiste no mercado de trabalho. Agora, junto com isso vem um contingente muito grande de trabalho precário”, observa Azeredo. (JG com agências)
Ter a carteira assinada ainda é sonho
O trabalho sem carteira assinada cresceu 3,8% no trimestre encerrado em novembro, segundo o IBGE. Outras 193 mil pessoas passaram para o trabalho por conta própria. Entretanto, a carteira assinada continua sendo sonho. É o caso do motorista profissional Idelci de Rezende, 51, que há quase um ano vende água de coco pelas ruas de Contagem. “O que ganho é para o básico. Gostaria de ter a segurança da carteira assinada, de ter o ganho fixo por mês. Eu aceito qualquer serviço que aparecer”, diz.
Renda
Salários. A renda média real do trabalhador brasileiro foi de R$ 2.142 no trimestre encerrado em novembro, segundo o IBGE. O resultado representa alta de 2,6% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Decepção
“Reajuste de R$ 17 no valor do salário mínimo é um absurdo. Estou decepcionada. Aliás, não só eu, muita gente vai ficar decepcionada”
Ketley Oliveira
Atendente de lanchonete
Absurdo
“É um absurdo um reajuste tão baixo. O salário mínimo é muito pouco para suprir todas as necessidades de uma pessoa. A maioria dos brasileiros ganha mal”
Wagna Alves
Técnica em eletrônica
Fonte: O Tempo
Créditos: O Tempo