Rubens Nóbrega

Nem só de fisiologismo contrariado, não contemplado ou irritado dos deputados governistas vivem as sucessivas derrotas do Ricardus I na Assembleia.

Também não basta a suposta rejeição do governador ao ‘é dando que se recebe’ da base aliada para explicar a derrubada de vetos de Sua Majestade aos projetos de parlamentares que ele tem como súditos ou servos.

Deve contribuir também e muito para as vitórias da oposição no Legislativo o trato pessoal que o imperador dispensa aos deputados que o apoiam. Tanto publicamente como em privado, por vezes é humilhante o tratamento.

Há testemunhos de cenas constrangedoras protagonizadas pelo governante quando dele se aproximam governistas dispostos a pedir algo que o monarca considera inoportuno ou inadequado.

O deputado José Aldemir seria a vítima mais recente desse “jeito ricardista meio estúpido de ser” (parafraseando o verso daquela canção do Roberto).

Em solenidade anteontem no Palácio da Redenção, o Doutor Zé teria levado uma bronca daquelas do ‘chefe’ na frente de todo mundo.
Segundo ouvi no imprescindível Polêmica Paraíba, da Paraíba FM, aconteceu quando o deputado fez menção de apresentar ou entregar ao absoluto um papel que conteria pedido em favor de algum afilhado ou compadre político.

– Agora não, Zé. Não é o momento para tratar disso. Aqui não, Zé! – teria dito alto e bom som o despótico governador a José Aldemir, que depois dessa “pegou descendo”, como diria o filósofo João Costa.A um vexame semelhante ter-se-ia submetido o também deputado Trócolli Júnior, durante solenidade de assinatura da ordem de serviço para recuperar pela enésima vez a Ponte da Batalha, entre Santa Rita e Cruz do Espírito Santo.

Júnior Trocolli, como o chama um amigo em comum, teria se aproximado e cochichado alguma coisa na direção dos pavilhões auriculares reais, que reagiu irado àquela abordagem.

– Você acha que vou tratar um assunto desses aqui, Trócolli? – teria perguntado arrogantemente o tirânico gestor ao envergonhado Doutor Trócolli, que tirou ligeirinho o seu time da ponte ao perceber que travava uma batalha perdida junto ao rei.

Vetos cau$am prejuízo

Por essas e outras, somente ontem pelo menos sete vetos governamentais foram derrubados na Assembleia. Foi preciso o líder governista Hervázio Bezerra manobrar para obstruir a votação.

Se prosseguisse a sessão, muito provavelmente o governo sofreria novas derrotas, desta vez para perder algumas medidas provisórias de grande interesse do Palácio da Redenção, entre as quais uma que arrasa com o Fisco estadual.

De qualquer sorte, do ponto de vista do verdadeiro interesse público e de segmentos mais vulneráveis da população, o dia de ontem foi muito proveitoso e, por via de consequência, um desastre para os interesses do atual governo.

Digo isso porque foi derrubado veto do soberbo a um projeto de lei do deputado Gervásio Maia que na prática decreta o fim da obrigatoriedade de apresentação da carteira de estudante para o gozo de benefícios que ela permite aos seus portadores.

Como se fosse pouco, caiu também o veto real a um outro projeto, esse do deputado Caio Roberto, que estabelece gratuidade da carteira de estudante para alunos da rede pública de ensino.

Com isso, além dos reveses no Parlamento, Sua Majestade terá agora que recorrer à Justiça para tentar manter a alta lucratividade do milionário negócio da venda de carteiras estudantis na Paraíba.

Afinal, esse esquema é dominado por ‘lideranças estudantis’ que há muito não frequentam escola, prosperaram pra caramba na direção de entidades do ramo e apoiam com vibrante entusiasmo o Ricardus I.

Apoiam porque, inclusive, seriam detentores de altas boquinhas nesse governo.

Efraim desprestigiado?

Efraim Morais seria atualmente uma vaga lembrança do combativo senador de oposição que o foi até perder a vaga no paraíso do Parlamento nacional para Cássio Cunha Lima, Vital Filho e Wilson Santiago.

Mas o problema de Efraim nada teria a ver com o seu insucesso eleitoral. Ele estaria se sentindo cada vez mais sem prestígio e sem autoridade para exercer o cargo de secretário da Infraestrutura do Estado.

Na prática, quem cuida da infra estadual com muito mais desenvoltura e propriedade é o secretário João Azevedo, de Recursos Hídricos, técnico da mais absoluta confiança do governador.

Já quanto aos projetos de grandes obras em tese a cargo de sua pasta, aí Efraim também não teria vez porque quem fala tudo sobre o assunto – da formatação à captação dos recursos – é outro colega.

Esse atende pelo nome de Ricardo Barbosa, coordenador das obras do Pac na Paraíba, que vem cuidando com muito afinco e habilidade de acelerar o crescimento do seu conceito junto ao poderoso xará e chefe.