Fontes palacianas em João Pessoa revelaram um dos pontos da estratégia que o governador Ricardo Coutinho(PSB) persegue ao resolver permanecer no cargo até o último dia do mandato, sem concorrer ao Senado em 2018, apesar das chances de vitória para uma das vagas. Pela versão que circula, Ricardo decidiu apostar fichas na eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto, diante da expectativa de vir a ser prestigiado após deixar o Executivo paraibano. É uma tática parecida com a que o então governador Tarcísio Burity idealizou em 1990.
Burity ficou no cargo até o último dia confiante em que seria prestigiado pelo presidente Fernando Collor de Melo, a quem apoiara. Acabou sem fichas na disputa sucessória estadual, vencida por Ronaldo Cunha Lima, que não era seu candidato “in pectoris”. E ainda saiu do governo rompido com Collor que decretou a liquidação extrajudicial do Paraiban sem aviso prévio ao gestor paraibano.
O candidato apoiado por Burity no primeiro turno foi o ex-deputado federal João Agripino Neto, que teve excelente performance, sobretudo junto à classe média, mas não adquiriu fôlego para passar para o segundo turno, ficando imprensado entre Ronaldo Cunha Lima e Wilson Braga. No segundo turno, João Neto declarou apoio a Ronaldo enquanto Burity não optou por ninguém. O sonho de Burity, ao fim do governo, era o de vir a ocupar uma embaixada do Brasil em Viena, na Áustria, conforme especulações na imprensa. Na prática, ele entoou o canto do cisne na vida pública. Burity não tinha empatia com o Senado, o mesmo sentimento que – dizem – se dá com relação ao atual governador Ricardo Coutinho.
Na conjuntura atual, Ricardo lançou como candidato à sua sucessão o secretário de Infraestrutura e Recursos Hídricos, João Azevedo, que nunca disputou mandatos eletivos, tendo, porém, a fama de técnico preparado e conhecedor de problemas estruturais da Paraíba. As facções do PSB, partido comandado por Ricardo, começaram a atender ao seu chamamento para apoiar Azevedo e aliados de outros partidos deverão fazer o mesmo, mas há dúvidas quanto à viabilidade eleitoral do postulante.
Ricardo acena com sua permanência à frente da máquina e com seu prestígio pessoal como ingredientes para alavancar a postulação de Azevedo, mas os correligionários do atual governador querem garantias mais concretas de que não estão embarcando numa aventura. No afã de eleger Azevedo, Coutinho ignorou olimpicamente a pretensão da vice-governadora Lígia Feliciano (PDT) em assumir o governo com a desincompatibilização dele e ter o seu apoio para ser candidata ao governo em 2018.
Em relação a Lula, Ricardo é o maior defensor do ex-presidente na Paraíba. Abriu as portas do Estado tanto para ele quanto para Dilma Rousseff e não faz a mínima questão de cortejar o atual presidente Michel Temer, nem mesmo para assegurar verbas e liberar demandas da Paraíba. Caso Lula seja eleito e possa assumir o mandato, talvez aproveite Coutinho num ministério ou em outro cargo estratégico para mantê-lo em evidência política. Se isto ocorrer, Ricardo disporá, em tese, de cacife para concorrer novamente à prefeitura de João Pessoa, que já ocupou duas vezes.
Seria o seu tiro de misericórdia para derrotar as pretensões de hegemonia do prefeito reeleito Luciano Cartaxo (PSD), pré-candidato lançado ao governo. Independente de equívocos ou ilusões quanto aos prognósticos que estão sendo feitos, o jogo de Ricardo vai se tornando mais evidente aos poucos. “Se ele conseguir eleger Azevedo, será a glória, coroada com uma vitória de Lula”, preconiza um expoente da tropa de choque do gestor paraibano.
Os adversários consideram “delirante” a estratégia que está sendo atribuída ao governador Ricardo Coutinho e afirmam que o socialista está contaminado pela arrogância e pelo personalismo, como insinua o senador Cássio Cunha Lima.
O prefeito da Capital, Luciano Cartaxo, alerta que Coutinho ainda não percebeu que os tempos mudaram com uma velocidade incrível e, por isto, coloca-se na contramão do que seria a voz rouca das ruas. Indiferente a essas observações, o governador parece se mirar na obsessão de Burity em derrotar aliados que se tornaram adversários. Ricardo pode atrapalhar a vida dos adversários mas não há garantia de que venha a extrair dividendos como efeito colateral. Para todos os efeitos, a estratégia do gestor socialista mantém-se confusa – e sem perspectiva favorável.
Nonato Guedes
Fonte: osguedes
Créditos: nonato guedes