O mau tempo antecipa os fatos políticos na PB

Gilvan Freire

Em meio a crise de governabilidade que o Estado atravessa, sem previsão de melhora, e do turbilhão de problemas que RC enfrenta com os servidores públicos, classe política e seus próprios aliados, sem contar com a fuga em massa de eleitores que depositaram sua confiança no governador quando era candidato, surgem agora desdobramentos políticos por antecipação do calendário das eleições futuras.

Não bastam os problemas atuais, que já são suficientes para roubar a serenidade e o humor do governante – se é que ele chega a exercitar esses dotes humanos -, e já acontecem outros fora da agenda, mesmo que todos sejam causados ou comprados pela capacidade que RC tem de industrializar crises.

Na Assembléia, onde o governo atrai maiorias somente por causa das benesses do Erário, o governador não perde a oportunidade de vigiar a gamela e impor controle sobre a ração. Mal comparando, é como um cocho farto de torta para onde correm desesperadas as vacas do curral, mas há alguém com um cacete na mão que impede que todas comam isonomicamente tudo ao mesmo tempo, batendo e dizendo – ‘Êpa, só quem pode comer mais é quem der mais leite… ’ Foi isso que RC quis dizer quando afirmou, semana passada, que quem não votar em suas medidas estapafúrdias, na AL, está fora do governo.

Na Capital, RC impõe uma candidatura dentro da melhor lógica ricardiana: a de que se é ele o líder, todos têm de se comportar como liderados – uma sentença que Nonato Bandeira atreveu-se a contestar, depois de mais de 20 anos de aceitação incondicional, correndo os riscos evidentes de perder tudo e levar muitos à desgraça. Contra decisão de RC não há recurso de apelação, como no judiciário, porque ela, como a sentença dos deuses, já nasce com a eficácia da coisa julgada, imutável materialmente. E é por causa disso que algumas lideranças políticas e jornalistas abrigados na quixotesca resistência de Nonato andam dizendo por ai – ‘Nós só vamos atravessar o rio com Nonato até onde a água não cubra o joelho; daí para a frente ele terá de ir sozinho, para aprender a ter medo da correnteza e não desafiar a ira das águas’. E ainda resmungam – ‘Ele é doido, é?’

QUEM VER BEM, VER ANTES DOS OUTROS
Neste cenário confuso e tempestuoso, onde a nebulosidade impede de se achar porto seguro à vista, o jornalista Luis Tôrres agitou o tempo e disse, final de semana, que o presidente da Assembleia, deputado Ricardo Marcelo, é candidato à única vaga de Senador em 2014, “de todo jeito”, que Cícero seja ou não eleito prefeito de João Pessoa. Como se sabe, Ricardo Marcelo se elegeu presidente da AL em duas oportunidades contra a vontade e orientação de RC a seus subordinados, que queria impor outra candidatura. Ricardo, o Marcelo, é o dono de um ‘território’ onde as sentenças de RC estão sujeitas a revisão, porque, assim como as Ilhas Malvinas na Argentina, a Assembleia é uma possessão pertencente a outros donatários.

As coisas estão correndo soltas e atropelando as previsões, por causa do mal tempo e da baixa visibilidade. O presidente do Poder Legislativo é um vidente lúcido que sabe fazer sua hora. Só está faltando Nonato Bandeira e Luciano Agra descobrirem, por meio dessa mesma lógica cósmica, que há outros planetas com vida própria que não recebem a influência direta do Rei Sol. (1)

(1)Rei Sol – Luís XIV escolheu para emblema o Sol, o astro que dá vida a qualquer coisa. Ele reinou como um sol sobre a corte, sobre os cortesãos e sobre a França.