Rubens Nóbrega

O poeta Biu Fernandes estava ao volante a caminho do médico para fazer uma microcirurgia na orelha direita, que até o consultório estaria protegida por um emplasto e um chumaço de algodão.
No percurso, sentiu que o algodão ameaçava sair do lugar. Instintivamente, levou a mão em concha até a orelha. No exato momento em que passava por um amarelinho do órgão municipal de trânsito da Capital.
Não deu outra. Multa! Multa que o Doutor Biu tentou derrubar mediante recurso ao qual juntou todas as provas de que não estava usando celular enquanto dirigia. Mas não deu. Teve que pagar.
Foi Potinho de Veneno quem me contou essa história. Disse que a ouviu da boca do próprio Biu Fernandes, quando o ex-deputado concedia entrevista ao jornalista Marcelo José nos bastidores da Assembleia Legislativa.
Biu tratava da peleja entre o governador Ricardo Coutinho e os servidores do Fisco, mas acabou comentando a história do decreto do prefeito Luciano Agra que manda pagar mais ao amarelinho que multar mais.
Potinho contou ainda que não se conteve após o final da entrevista. Aproximou-se e perguntou a Biu se o algodão que lhe causou a multa era da Nokia ou da Motorolla.
Nem Frei Damião salva

Em 2004, creio, aceitei convite do então deputado Zenóbio Toscano para discutir com diretores e professores de Guarabira meios de estimular a leitura de jornais impressos por alunos da rede de ensino mantida pela Prefeitura local.
Pois bem, dias depois recebi o surpreendente comunicado de multa por infração no trânsito de João Pessoa. Olhei a data e tive um susto: fui multado na Capital exatamente no dia em que me encontrava em Guarabira.
Com mais precisão ainda: fui multado (in)justamente na hora da visita à estátua de Frei Damião no alto do morro do qual se descortina toda a Princesinha do Brejo (lembrando que Bananeiras é a Rainha, sem nenhuma alusão à cachaça dos Bezerra).
Final e moral da história: dessa vez, o venerando frade de Bozzano não obrou o milagre de convencer a STTrans de que eu ainda não providenciara um clone de minha pessoa, muito menos autorizara qualquer sósia a sair com meu carro por aí.
Tudo para interar a cota
O decreto de Luciano Agra deve ter revoltado e irritado muita gente, mas já na quinta-feira mesmo caiu na roda de gozações da qual participavam Gosto Ruim, Bicho Bom, Potinho de Veneno e demais pariceiros.
Um deles disse ter sido parado por um amarelinho no anel interno da Lagoa, quando por lá transitava em seu carro na direção do Mercado da Torre, onde tencionava comprar um quarto de bode para o almoço de hoje.
Certo de que não havia feito nenhuma barbeiragem, ficou intrigado ao ouvir o amarelinho que o parou ordenando-lhe sair do carro para uma inspeção. Obedeceu sem protesto, para não causar confusão nem autuação por desacato.
Mas, antes que conseguisse perguntar alguma coisa, o agente olhou atentamente na direção dos pés do motorista e tratou de esclarecer, enfim, a inusitada abordagem:
– N’era nada não, Doutor. Era só pra ver se o senhor estava dirigindo de sandálias. Sabe como é… Ainda não completei minha cota do mês e a folha deve tá fechando de hoje pra manhã.

ESSE POTINHO…

Já Potinho de Veneno jura de pés juntos ter sido parado por causa do cano de escape. Foi numa blitz conjunta da CPTran, Detran e a STTRans que virou Semob, Superintendência de Mobilidade Urbana. Chique, não?
– O que houve com o seu cano de escape, Veneno? – perguntei, e ele:
– Foi submetido a um bafômetro especial que o prefeito importou da China para medir a quantidade de poluentes que despeja no meio ambiente. Se passar de determinado tanto, tome multa! – disse, com a cara mais séria do mundo, como se estivesse dizendo uma grande verdade. Entrei na dele:
– E aí, multaram você?
– Por conta do escape, não, que o bicho tava em ordem. Mas acabei me lascando por conta do álcool – revelou.
– Como assim, Potinho, estavas embriagado? – quis saber Gosto Ruim.
– Eu não, mas como o meu carro é flex…
Copiando o exemplo federal

Outro amigo, este sempre muito sisudo, mandou dizer por i-meio que o decreto multante de Luciano Agra copia algo que já existe no plano federal. Referiu-se a uma resolução de 2008 que criou normas de atuação para o Dnit e Polícia Rodoviária na fiscalização do trânsito nas BRs. A norma também impeliria seus agentes a se aplicarem e a priorizarem as multas, em detrimento, por exemplo, de orientação preventiva aos potenciais infratores.