O “rei” Ricardo imola um “cristão novo” para deificar uma incógnita
Por Nonato Guedes
Das análises que pipocam na mídia nativa sobre o processo eleitoral de 2018, uma das mais eloquentes exegeses veio da pena do meu ex-editor Rubens Nóbrega, hoje assinando o “Blog do Rubão”, leitura obrigatória para quem quer estar informado sobre política e quejandos. Rubens trata, diretamente, da causa da escolha de João Azevedo e não de Gervásio Maia Filho como candidato do governador Ricardo Coutinho à sua sucessão. E conflui para um diagnóstico que se aproxima da plausibilidade: Gervásio foi “queimado” porque é um “cristão novo”, equivale dizer, não é um “ricardista de raiz”, ou, se quiserem, um “girassol de origem”.
Ao mesmo tempo, Gervasinho tem um estilo independente, parecido com o do pai, Gervásio Bonavides, e do avô, João Agripino, não sendo docilmente enquadrável em “camisas de força” que julgue não corresponderem ao seu feitio.
Rubens Nóbrega insinua, com todas as letras, que Gervásio não é confiável ao governador do ponto de vista de ser marionete a seu dispor no comando do Executivo paraibano. Ora, se Ricardo tomou como obsessão eleger a todo custo o sucessor e indica, ou melhor, impõe o nome de um técnico nunca testado em embates políticos para um confronto que ele sabe que não será fácil para o governo, isto se deve a que pretende apostar no imponderável e, no final das contas, esperar ser bafejado pela sorte, do que arriscar com um nome de melhor densidade eleitoral mas que passa a imagem de agente político autônomo.
Direto ao ponto: todo governador tem a vaidade de dizer que elege o sucessor. É a mania que ganhou força com Lula, o ex-presidente, autor da teoria de que elegeu até um poste para substituí-lo, referência pouco airosa e machistóide à ex-presidente Dilma Rousseff, sobre a qual, aliás, petistas (homens e mulheres) e intelectuais atrelados ao petismo não emitem um gemido qualquer em nome da tal política de respeito a gêneros ou a diversidades. Talvez porque o Lula seja “o cara”, é ou não é?
A transferência de votos de Lula para Dilma em duas eleições consecutivas constituiu fato atípico na história política brasileira e se explica por uma conjunção de fatores, além do carisma de Lula: a ilusão do êxito das políticas petistas e a ignorância do povo sobre a rapinagem que foi praticada nos cofres públicos e que todos confinamos a um mero mensalãozinho para remunerar políticos ávidos que deram tudo de si pelo bem dessa Pátria amada mãe gentil.
Certas máscaras petistas enrugadas ainda não haviam caído, como a falta de ética e a indecência no trato da coisa pública, misturada com cuecas, sessões de orgia e pagodes em momentos de euforia cívica dos neopetistas. De modo que, não sendo Lula o candidato a presidente em 2018, nem inventem outro nome porque não dá pé. Melhor, se for assim, é sabotar opleito, confundir o eleitorado, melar o processo em nome da democracia lulopetista. Anotem: Lula não transfere votos para Gleisi Hoffmann ou Fernando Haddad, se forem opções sugeridas para disputar a presidência da República.
No que toca à realidade da Paraíba, seria erro palmar ou exagero inconsequente comparar o perfil do governador Ricardo Coutinho ao do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os lulopetistas que me desculpem mas Ricardo talvez tenha mais substância ideológica e preparo intelectual do que Lula.
Mas não é Lula, não tem a trajetória de Lula nem possui o carisma intrínseco ao ex-presidente da República, forjado na esteira da propaganda sobre o metalúrgico que levantou o operariado do ABC paulista em greve na vigência plena da ditadura militar, que forçou os patrões a negociarem e que ganhou espaço generoso para fundar um Partido dos Trabalhadores. Esta é a lenda que imantou Lula, deu-lhe régua e compasso, tornou-o cidadão respeitado no mundo, e não há registro de similitude ou coincidência no panorama nacional. Fecha o parágrafo.
Na Paraíba, Ricardo Coutinho não criou propriamente um partido. Criou um ajuntamento moldado às suas ideias e pensamento, deificou-se como um soberano da realidade digital e denominou de”Coletivo Ricardo Coutinho” tal agrupamento, numa contradição vernacular que ainda hoje queima os melhores neurônios habitantes da terra paraibana. Ricardo é o provedor de quadros, pouco importa ganhar ou perder a eleição. Perdeu com Estelizabel Bezerra a prefeitura da Capital, depois perdeu com Cida Ramos disputa pelo mesmo cargo.
As duas não lograram, sequer, ir para o segundo turno. “Agora é diferente”, pontuam os ricardistas, dizendo para os seus botões: “está em jogo a cadeira que ele ocupa há mais de seis anos”. E para ocupá-la Ricardo desdenha dos políticos e lança um técnico do melhor nível mas não testado em votos, que é João Azevedo. Ou todos estão errados e somente o “rei” Ricardo está certo, ou todo mundo está certo, só o “rei” está enganado.
Não está muito longe o desfecho. Mas a toada é essa aí. O “rei” é infalível, viva o rei”, devem entoar os súditos. Pelo menos um deles, o deputado Gervásio Maia, não quis entrar num processo desgastante para tirar a prova dos noves. Obrigado, Rubens Nóbrega, pela clareza que você jogou na escuridão das teses sobre o que está acontecendo, em termos de novidade, na província. Há luz no fim do túnel, sim.
Nonato Guedes
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: nonato guedes