O que querem os eleitores de oposição na Capital

Gilvan Freire

O mais difícil da analise política, em período ou ano eleitoral, é saber o que pensa o eleitor. É ler o imaginário coletivo – seu orgulho, suas carências, suas frustrações e sua vontade de fazer mudanças ou manter as condições dominantes.

Tudo pode influenciar: uma crise econômica, em bom ou mau governo, um regime político de liberdades ou de opressão, uma ruptura social, uma onda de protestos ou uma crise moral de gestão. Até um episodio apenas pode ter repercussão suficiente para mudar os rumos de uma eleição – pode criar fatos, destronar ou empinar candidaturas.

Há três instantes especiais para se entender uma eleição: o começo (via de regra entes das convenções, quando os pretensos candidatos mostram sua vontade de postulação); o meio da campanha, quando os candidatos são levados a provar o talento, a empatia com o eleitor e a competitividade; e a reta final, hora em que o eleitor vai firmando seu entendimento (se houver muita incerteza ou insegurança, pode ocorrer de tudo, inclusive viradas ou desastres).

Em João Pessoa, neste instante, a análise prévia remete para a seguinte avaliação: a disputa está entre sustentar ou confrontar o governo de Ricardo Coutinho, consolidando ou negando sua hegemonia política na capital.

Nas eleições passadas, RC estava em fase ainda experimental como fenômeno sem contestação. Mas nocauteou Cícero, fora do ringue, com golpe abaixo da linha da cintura e triunfou sem adversário. Tudo quanto dizia e fazia parecia uma varredura moral. Até que o lixeiro também virou lixo.

RC tem hoje mais poder do que tinha antes, mas a oposição quer derrubá-lo por parte, começando pela capital. E tem mais povo do que RC já teve. É a onda trazendo de volta à praia quem tirou da areia e jogou pro meio do mar.

QUEM SERÁ O LÍDER MAIS CONFIÁVEL AO PROJETO?

Saindo da prefeitura, onde realizou uma gestão que somente agora pode ser discutida em profundidade (em meio a devassa popular que é feita com relação a seu governo no Estado também) RC amorcegou em Cássio para vencer Maranhão e Cícero juntos. Cássio desejava apenas retirar Maranhão do poder, porque considerava seu mais perverso algoz, mesmo que tivesse de alvejar Cícero, seu mais confiável amigo e aliado.

Maranhão e Cícero se juntaram, circunstancialmente, e perderam por causa de Cássio e do núcleo duro maranhista – um grupo de elite pensante que só percebeu que nada pensava quando as urnas foram abertas. Esse grupo instigou Zé o quanto pôde para atacar Cássio, a fim de vê-lo ‘sangrar’ – como diziam. Foi uma burrice mediável. Maranhão é que sangrou, e Cássio bebeu o sangue dos desafetos maranhistas que induziram o chefe a erro e se esconderam depois das eleições. Maranhão agora, não quer mais saber dos conselheiros ‘sanguinários’, e nem eles querem mais saber de Maranhão, que não tem mais cargos e favores a dar, a não ser seu próprio sangue.

Por uma dessas construções do destino, Maranhão e Cícero, caminham para retirar o poder local de Ricardo, que virou novo algoz de Cássio, que não tem mais motivos para trocar amigos por armas de destruição. As armas, às vezes, ferem ou matam o próprio manejador.

Maranhão está livre de seu grupo de elite – que possuía em quantidade de votos a mesma coisa que em volume de boas idéias, o que já é um bom recomeço para pensar em possibilidades de vitória.

Cícero precisa se livrar também dos seus – aqueles que fizeram de sua segunda administração uma tábua de salvação pessoal e terminaram por colocar nos punhos de RC um par de luvas infladas que serviram para nocautear Cícero. Os dois – Cícero e Maranhão – têm que vencer previamente seus piores adversários: as más companhias. E só eles mesmos podem vencê-los. E estão vencendo.

De resto, enfrentar RC é uma obra simplificada, porque há um exército na rua disposto a rendê-lo. Ele está pequeno. É um combatente desorientado que atira em todos os lados e, por enquanto, só tem alvejado a si mesmo. Só dá tiro no próprio pé.

Mas alguns especuladores têm dito a Luciano Cartaxo e a Maranhão que é bom não radicalizar demais com RC, porque num eventual segundo turno seu pessoal pode ficar com qualquer um dos dois. É um equivoco. Nestas eleições, em João Pessoa, só ganhará quem for cem por cento contra RC. Ceder, por interesse de auto-preservação, é um suicídio anunciado. O que o eleitor de oposição quer saber é em quem deve confiar. Cada um que faça por onde merecer a confiança. Ou morra por antecipação.