Falar de sexo nas rodas de amigos, nos momentos de descontração, nas novelas, filmes, etc, é cada vez mais possível nos dias de hoje. Falar da própria sexualidade, entretanto, muitas vezes ainda é difícil. Conversar sobre o sexo que se faz em casa com o parceiro, então, costuma ser tabu para a maioria dos casais, especialmente os que enfrentam problemas na cama.
Casais com boas habilidades de comunicação sexual lidam com os conflitos mais facilmente. Experimentam menos estresse na relação, têm mais confiança no parceiro, conseguem expressar melhor as necessidades sexuais e afetivas de cada um e, assim, acabam tendo uma vida sexual muito mais leve e gostosa.
Na minha experiência como terapeuta sexual, observo que as preferências sexuais acabam sendo muito mal conversadas entre os casais, mesmo aqueles que conversam super bem sobre todos os demais assuntos. É comum encontrar casais com boas habilidades de comunicação, que se ajustam bem em diversos aspectos da relação e, ainda assim, apresentam dificuldades sexuais. Na realidade, mesmo após anos de casamento, frequentemente os casais não conversam tão abertamente sobre sexo com o parceiro quanto o fazem sobre outros assuntos.
Minha hipótese é que a nossa sociedade, apesar de parecer liberal, ainda nos faz crescer acreditando em muitos mitos relacionados à sexualidade dos casais como: “sexo é algo que a gente simplesmente sabe”, ou de que “não temos necessidade de falar sobre isso se temos uma boa intimidade”, ou mesmo de que “é melhor não saber muito”. Quanto mais os parceiros acreditam nesses mitos, menor a chance de terem uma boa conversa sobre o sexo que eles fazem e maior a chance de eles receberem mal às tentativas do parceiro de dizer mais claramente o que precisa para ser feliz na cama.
Abrir o baú da própria sexualidade, para muitos casais, parece impossível, desnecessário, inimaginável e constrangedor. Particularmente, questões relacionadas a desejo, fantasias e preferências sexuais são raramente abordadas diretamente. Resta entre o casal um abismo a ser preenchido por especulações, angústias e falhas de comunicação. Quando não sabemos, imaginamos. Normalmente, com baixíssima taxa de acerto.
Temos, assim, um caminho aberto para os desajustes sexuais e os conflitos de casal, formando um cenário que acaba resultando em discutir a relação, minando o desejo sexual. As pessoas não se sentem à vontade para dizer ao outro como elas gostam de ser tocadas, o que as excita, o que elas não gostam… restando ao parceiro ou à parceira adivinhar… ou tentar ler as pistas indiretas que aparecem sob forma de linguagem corporal, gemidos, sorrisos…
Imagine se esse casal estivesse tentando decidir o que fazer no final de semana e toda a comunicação fosse feita na base do “hum”, “a-ha”, sorrisos tímidos e gemidos… qual a chance de eles se entenderem e esse final de semana acabar sendo inesquecível? Pois é… o que parece uma estratégia de comunicação surreal em qualquer outra área da vida é normalmente o que as pessoas usam para decidir como elas vão fazer sexo! Não é a toa que “todo mundo tem problemas sexuais”!
Educação sexual no âmbito das famílias e das escolas costuma ser basicamente sobre sexo seguro e contracepção, deixando de lado toda a parte do prazer. Além disso, a maioria dos profissionais de saúde, mesmo psicólogos, não se sente à vontade para abordar as questões sexuais de seus pacientes. Mais do que isso, raramente um psicólogo, profissional de saúde ou educação vai ter tido acesso, ao longo da sua formação, a treinamento específico para abordar adequadamente os temas relacionados à sexualidade dos seus pacientes e alunos.
Falar de sexo não pode virar discussão de relação! Pelo contrário! Sexo tem que ser gostoso e conversar sobre isso pode ser quase uma forma de preliminares! Conversar sobre preferências sexuais, sobre o que cada um precisa para ter prazer, do que cada um gosta ou não gosta, das fantasias sexuais, dos tabus, propor novidades e conhecer mais profundamente a própria experiência sexual e a do outro, a partir do que cada um dos parceiros que entende que é certo ou errado, bom ou ruim, em relação ao sexo pode e deve ser leve.
Fonte: Superela
Créditos: Aline Sardinha