Expostas a muitos apelos, nossas crianças estão iniciando muito mais cedo a vida afetiva e sexual. Ponto. Mas não é a precocidade que move milhares de internautas a reagir como se tivessem dado de cara com as bestas do apocalipse diante do vídeo de um garoto de 12 anos, beijando o namorado de 14, em sua festa de aniversário.
A hipocrisia não permite que eles falem a verdade: o beijo gay, o enroscar erótico de línguas dos garotos, é que forma o chifre e o rabo desse “demônio social” chamado homoafetividade. Se resolvessem tratar com a verdade, falariam que a idade certa para sair do armário é no dia de são nunca.
Pois no mundo ideal destas pessoas de “bem”, gays, lésbicas e transgêneros viveriam – ou morreriam – sufocando o “amor que não ousa dizer o seu nome”, como disse Oscar Wilde diante de um tribunal que o condenou pelo pecado da homossexualidade.
Enquanto os garotos se beijam, a corrente anti-ideologia de gênero jura que achou a prova dos nove para sua teoria de que o mundo LGBTI está corrompendo nossas crianças.
O conteúdo predominantemente heterossexual dos apelos que chegam de todas as partes – e que estão contidos na maioria dos nossos produtos culturais – não é contabilizado nessa equação torta.
Uma equação que não se sustenta de pé diante do relato de uma amiga lésbica, que compartilho agora com vocês. Ela me disse: “As novelas que eu assistia, as revistas que eu lia, não tinham casal gay. Em todos os lugares, meninas beijavam meninos e como eu não sentia vontade de beijar menino, achava que eu nunca teria um par. Eu tinha sido feita pra viver sozinha. E toda a erotização homem-mulher a que fui exposta nunca conseguiu a façanha de me tornar hétera”.
Fonte: Adriana Bezerra
Créditos: Adriana Bezerra