Em papel quadriculado e escritas em francês, cinco cartas nunca antes divulgadas contam momentos delicados da saúde de Alberto Santos Dumont, o pai da aviação. As correspondências fazem parte do acervo do Aeroclube da França (Aéro-Club de France), que guarda parte da história do inventor, e foram obtidas com exclusividade pela EPTV, afiliada da TV Globo. Nos documentos, ele deixa claro sua paixão por balões e por carros, já nos últimos anos de vida.
As cartas estão disponíveis no especial multimídia produzido pelo G1 Campinas em parceria com a EPTV. Clique AQUI para ler os documentos traduzidos e navegar pelo conteúdo, que também traz outras curiosidades da biografia do inventor, que teve passagens por Campinas e Ribeirão Preto.
As cartas inéditas foram endereçadas a um amigo próximo de Dumont, Georges Besançon, que foi ex-secretário do aeroclube francês. O registro delas só foi possível com a autorização da presidente do Aeroclube da França, Hélène Zannotti.
No conteúdo multimídia sobre o aviador e inventor brasileiro – que, inclusive;, trouxe o primeiro carro para o Brasil – também há curiosidades sobre cartas de amor que ele recebia de “fãs” de diferentes partes do mundo. Dumont tinha um estilo único para a época e se tornou celebridade na França no início do século XX. [Clique aqui e confira detalhes sobre a relação dele com mulheres e o estilo diferenciado]
Escritas no Brasil
As cartas recém-divulgadas foram escritas nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, onde Dumont tinha uma casa em Petrópolis (SP), atualmente aberta para visitação. Os momentos que ele descreve se referem ao período de janeiro a maio de 1925.
Na época diagnosticado com escleróse múltipla – e rediagnosticado com análises atuais da condição de saúde dele como transtorno bipolar -, o inventor tinha depressão e se incomodava com barulhos que ouvia. Em uma das mensagens, ele chegou a pedir que o amigo o enviasse “bolas de algodão”.
Apesar dos problemas de saúde, o inventor só morreu pouco mais de sete anos depois, em 23 de julho de 1932, em São Paulo, após cometer suicídio. Clique aqui para conferir todas as cinco cartas e as traduções.
A primeira carta, de 15 de janeiro de 1925, Dumont conta que estava na casa da família em São Paulo. Estava um pouco melhor de saúde e pretendia viajar para o Rio de Janeiro. Ele pede ao amigo para pagar dívidas dele e revela que vai começar a fazer tratamento com “águas sulfurosas”. Também aproveita para perguntar sobre a data do concurso de balonismo, o “Gran Prix des Spheriques”.
Escrita da Avenida Paulista, 105, no dia 9 de março daquele ano, Alberto Santos Dumont já estava de volta de uma viagem a Araxá (MG), onde buscou o tratamento com as águas termais. Conta ao amigo, no entanto, que não viu efeito e chegou a piorar a suia situação, ficando “um mês e meio de cama” como um “esqueleto”, segundo ele.
Da casa dele em Petrópolis, em 2 de abril de 1925, Alberto relatou que ainda não estava bem de saúde e não dá certeza sobre visitar o amigo Besançon, na França. Pede ao amigo para avisar o jornal “La Presse” para não enviar mais recortes de jornais, e também que ele dê 500 francos franceses como um presente de casamento à filha de um mecânico que trabalhou com ele por muito tempo na construção de seus inventos.
Já um pouco melhor “dos nervos”, Dumont ainda reclamava de ruídos que ouvia. Na carta escrita do Rio de Janeiro, em 29 de abril de 1925, ele pede ao amigo para enviar latas do produto auditivo que o ajudaria a lidar com os barulhos, decorrentes da doença. “São bolas de algodão que coloco nos ouvidos e bloqueiam o barulho”, conta.
Desta vez, o inventor escreve para a amiga e esposa de Georges Besançon. A quinta carta também foi escrita do Rio de Janeiro, em 7 de maio daquele ano, e é breve. Ele relata um período de melhora. “Já tem um período de dois ou três dias que não tenho nada”, conta Dumont. Também diz que ainda não decidiu se vai vender o carro, como Besançon tinha aconselhado.