As campanhas de Dia das Crianças, assim como na maioria das datas comemorativas como Dia das Mães e Dia dos Pais, costumam reforçar estereótipos de gênero. Nesta semana, rolando a timeline, me deparei com um comunicado urgente da Omo que encheu meu coração de orgulho. Nas redes sociais, a empresa postou um vídeo convocando os pais para um recall de brinquedos que reforcem clichês de gênero.
O recado é simples: “Comunicado urgente: Omo convoca pais e mães a fazerem recall de todas as brincadeiras que reforcem clichês sobre gênero. Meninas podem, sim, se divertir com minicozinha ou minilavanderia, mas também podem ter acesso a brinquedos de lógica e dinossauros assustadores. E meninos podem trocar fraldas de bonecas e ter uma incrível coleção de panelinhas. Porque mais importante do que o brinquedo é a brincadeira. Junte-se a Omo na campanha pelo direito de toda criança de se sujar e brincar livremente”.
Aparentemente, o fato de crianças serem livres para escolher seus brinquedos incomodou uma parcela da sociedade brasileira. Ondas conservadoras criticaram a empresa por estar impondo a ideologia de gênero. Segundo internautas, a empresa estava “ditando a educação das crianças”. Alguns usuários chegaram ainda mais longe e promoveram um boicote à marca, usando a #BoicoteOmo e se mobilizaram contra a campanha, fazendo com que o vídeo alcançasse 163 mil dislikes até o fechamento desta matéria.
Porque é importante a Omo falar sobre ideologia de gênero
Apesar da boa intenção da campanha, muita gente pareceu não entender a mensagem. A ideologia de gênero, bandeira levantada pela Omo, é uma crença de que os sexos masculino e feminino são construções sociais. Ou seja, apesar das diferenças biológicas entre meninos e meninas, eles devem ser criados da mesma maneira.
Quando dizemos para uma menina que ela deve vestir rosa, brincar de boneca e casinha, estamos reforçando a ideia de que apenas as mulheres devem cuidar da casa e família. Por outro lado, quando presenteamos meninos com brinquedos de construção e kits de ciência, estamos estimulando a sua criatividade e permitindo que sonhem com cargos de engenheiros, médicos, etc. Isso reforça estereótipos de gênero, geralmente criados dentro de casa, na escola e na sociedade em geral, resultando em influências negativas para as crianças e desigualdade entre homens e mulheres no futuro. Pera, não é sobre isso que a gente tem falado tanto?
Na análise chamada It Begins at Ten: How Gender Expectations Shape Early Adolescence Around the World , Robert Blum, o diretor do estudo e professor na Universidade Johns Hopkins afirma que “os meninos e meninas desde pequenas – tanto nas sociedades mais liberais quanto nas conservadoras – interiorizam logo o mito de que as meninas são vulneráveis e os meninos são fortes e independentes”. Ainda neste estudo, especialistas comprovam que “os estereótipos femininos baseados na ‘proteção’ acabam deixando-as mais vulneráveis, enfatizando o desejo de vigiá-las e puni-las fisicamente quando quebram as regras”.
Não precisamos dizer que uma das principais formas de combater o machismo é justamente olhar para os mais jovens e desconstruir os papéis de gêneros. Portanto, embora você não seja obrigado a comprar um vestido para o seu filho ou uma chuteira para uma menina, é dever dos pais ensinar as crianças a construírem uma sociedade mais livre, justa e igualitária. Ao contrário do que muitos pensam, a campanha da Omo promove a reflexão e não a doutrinação. Não é justo que as crianças cresçam com medo de se expressar, muito menos que sejam privadas da liberdade para brincar.
Fonte: http://superela.com/campanha-omo-ideologia-de-genero