Experiências ruins e medo de sofrer com o preconceito de colegas e chefes faz com que muitos profissionais não revelem a orientação sexual na empresa onde trabalham. A seguir, cinco pessoas descrevem como é ficar dentro do armário no ambiente corporativo em pleno século 21.
“Meu diretor é a favor da cura gay”
“Escondo minha orientação no trabalho por medo da reação que as outras pessoas possam ter e pelo medo de ser demitida. Sofri muito preconceito em um estágio anterior. Trabalhava em um escritório e, ao descobrirem que eu era lésbica, começaram a me zoar com piadas extremamente machistas e homofóbicas. Cheguei a ir embora chorando, na época. Recentemente, na empresa atual, o diretor geral gritou que não queria ‘viado’ ou ‘sapatão’ trabalhando na empresa dele. Ainda falou que era a favor da cura gay.” Luiza, 22, advogada.
“É mais fácil fingir do que lidar com o preconceito”
“Por eu trabalhar em um ambiente formal, prefiro não contar, para me proteger e garantir que minha orientação sexual não seja critério para quaisquer decisões ao meu respeito. Em empregos anteriores, virei assunto da empresa ao descobrirem que eu era gay, a partir de fotos de viagem com meu namorado. É bem trabalhoso esconder isso no dia a dia: tenho que me esquivar de alguns assuntos, omitir informações e até mesmo mentir. Mas ainda é mais fácil do que lidar com o preconceito.” Romário, 24, auxiliar de escritório.
“Tenho medo que não reconheçam meu trabalho”
“Às vezes, é mais fácil esconder do que escutar cochichos de todos os lados. Tenho medo que me tratem de outra forma ou que não reconheçam meu trabalho só por conta da minha orientação sexual. Mas é complicado manter isso: por exemplo, em festas de trabalho, todos vão com as esposas ou maridos e eu preciso inventar desculpas para não levar alguém. Não posso sair apresentando a minha namorada para qualquer um. Até no metrô eu evito segurar a mão dela, por medo de quem poderá ver.” Beatriz, 21, auxiliar técnica.
“Escondi porque meus patrões eram religiosos”
“No meu último trabalho, eu escondi a minha orientação sexual durante cinco meses, porque meus patrões eram religiosos. Era difícil, eu tinha que me vestir de maneira mais feminina, mesmo sendo meio bofe. Uma vez, a mãe da minha patroa me perguntou por que eu não usava cabelo solto. Disse que não gostava, mas a verdade é que eu me sinto melhor assim, por me enxergar mais masculina. Depois desse período, acabei assumindo quem eu sou. Fui demitida tempos depois” Jaqueline, 20, empregada doméstica.
“Acham que vou ensinar as crianças a serem gays”
“Sou professora de educação infantil e as pessoas acreditam que a sexualidade vai interferir na capacidade do profissional. Esses dias, a diretora falou que jamais contrataria homossexuais, porque não quer mãe vindo dizer que filho virou gay por causa da professora que gosta de mulher. Preciso sempre me policiar: evito até dizer que gosto de determinada série ou determinado artista, para que as pessoas não desconfiem e acabem por me julgar. Nunca ouvi piadas direcionadas a mim, mas tenho que aguentar comentários homofóbicos com frequência.” Beatriz, 25, professora.
Fonte: Geledes