Rubens Nóbrega

A Universidade Estadual da Paraíba é patrimônio dos paraibanos. Mais do que patrimônio, poderosa ferramenta de positiva transformação social e do desenvolvimento humano e material que somente a educação pode proporcionar a um povo.

A velha URNe que se fez UEPB é ainda resultado de muita luta, mobilização e pressão de seus professores, alunos, funcionários e dirigentes. Nos últimos 25 anos, juntos conquistaram sucessivamente a estadualização, a autonomia didático-científica e administrativa e finalmente a autonomia financeira, sem a qual as outras autonomias não passam de um risco n’água, igual à palavra de certos governadores.

A estadualização aconteceu no Burity II, em 1987. A autonomia didático-científica e administrativa, com Ronaldo Cunha Lima, em 1994. E a autonomia financeira, no Cássio I, graças à sanção da Lei nº 7.643, de 6 de agosto de 2004, que assegura à UEPB o direito de receber no mínimo 3% da receita ordinária do Estado.

Salvo melhor juízo, como dizem os juristas com algum juízo, receita ordinária do Estado é tudo aquilo que a administração estadual recebe de transferências do governo federal (FPE, IPI, Fundeb etc.) somadas ao que arrecada diretamente cobrando impostos (ICMS e IPVA, sobretudo), descontadas as parcelas devidas aos municípios.

Com a fina fatia de 3% desse bolo, que dá, na média histórica, uns R$ 21 milhões por mês, a UEPB reuniu as condições objetivas para definir e praticar uma política de remuneração digna do seu pessoal (que em boa parte ganha melhor do que ganham seus colegas das universidades federais).

Graças ao duodécimo que vem recebendo desde 2005, a UEPB possui o que poucas universidades estaduais do país têm: capacidade de investir. E ela vem investindo firme naquilo que é pertinente e relevante para uma universidade pública.

Investe forte, por exemplo, na qualificação de docentes e técnicos e na sua expansão, criando novos cursos, novos campi, novos laboratórios, além de implementar e executar políticas públicas e serviços públicos de qualidade para quem mais precisa.

Pois bem (no caso, seria ‘pois mal’), de uns tempos pra cá, como diz o poeta Chico César, professores e servidores da Estadual temem que a Universidade venha a ser a próxima vítima do processo de desmobilização patrimonial, desobrigação social e desmonte institucional empreendido pelo Ricardus I.

Tanto que um deles mandou me dizer, através de um colega jornalista, que o governador estaria negociando com o Ministério da Educação a federalização da Estadual. Na surdina, à sorrelfa, à revelia da comunidade universitária.

Dada a qualidade da fonte e do seu interlocutor, dei crédito à informação e por i-meio solicitei esclarecimentos a Sua Majestade e ao seu arauto-mor. Evidente que eles não me responderam, impelindo-me a buscar alguma luz junto à Reitoria da UEPB.

Conversei com a reitora Marlene Alves. Ela me garantiu não ter conhecimento de qualquer movimento do governador com vistas à federalização da Estadual e espera, sinceramente, que as temidas negociações com o Mec não passem de especulação.

“É inimaginável que um governador, qualquer que seja ele, venha a propor ou encaminhar algo assim ao Ministério sem que antes tenha pelo menos submetido tal proposta aos nossos professores, alunos, funcionários e dirigentes”, disse a reitora.

Ela lembra que na gestão passada o então governador José Maranhão chegou a tocar no assunto, mas deixando claro que a possibilidade de federalizar a UEPB seria ampla e profundamente debatida com os segmentos da comunidade universitária.

A Professora Marlene não quis comentar se iniciativas do gênero trairiam o desejo de alguns governantes de se livrarem da UEPB, de se desonerarem do que consideram despesa, em vez de investimento produtivo, capaz de produzir força de trabalho qualificada e inteligência que resolve problemas da população ou oferece alternativas para o Estado.

Marlene, a Magnífica, prefere acreditar – e torcer – para que o governador Ricardo Coutinho não esteja fazendo o que dizem. Torce, principalmente, para que ele cumpra no próximo dia 30, enfim, o que prometeu desde o começo do ano passado.

Naquela época, início do Ricardus I, a UEPB, o Judiciário, a Assembléia, o Ministério Público e o Tribunal de Contas do Estado, atendendo ao apelo de Sua Majestade, aceitaram cortes em seus duodécimos para ajudar na ‘recuperação’ das finanças estaduais.

Ficou acertado, então, que assim que o governo conseguisse o equilíbrio fiscal e financeiro do Estado quem tivesse ido pro sacrifício seria recompensado com o pagamento do atrasado e o restabelecimento dos valores dos duodécimos que vinham sendo repassados anteriormente, ou seja, antes da entronização do atual monarca.

Em outubro de 2011, o governo anunciou com toda pompa e circunstância que conseguira arrumar a casa, mas desde então vem dando uma de João sem Braço. Não paga o que deve à UEPB nem aos outros que caíram na conversa do ‘caos’.

O fato é que a UEPB tem hoje mais de R$ 100 milhões para receber do governo, sendo R$ 60 milhões de responsabilidade da atual gestão, R$ 40 milhões da gestão anterior e uns R$ 6 milhões ainda do tempo do Cássio II.

A reitora Marlene vem tentando há mais de um mês ser recebida em audiência pelo governador. É a oportunidade de cobrar o que o governo deve à UEPB e, olho no olho, passar a limpo essa história da federalização.

Marlene Alves terá ainda a chance de dizer que a UEPB só precisa ser respeitada pelo que é e representa, aí incluída a determinação de jamais abrir mão do que tão obstinadamente conquistou e tão competentemente consolidou.