Preconceito

Primeira atleta trans do hóquei enfrentou preconceito antes de alcançar espaço no esporte

O preconceito foi um dos principais obstáculos que ela teve de superar ao querer ser atleta e poder competir com mulheres na liga de hóquei na Argentina.

A atriz Caroline Duarte está em processo de transição na novela A Força do Querer. Aos poucos, seu personagem assume sua identidade de gênero e deixa Ivana para o passado e começa a ser chamado por Ivan. Mas, ela ainda sofre para arrumar emprego e sente na pele a rejeição da família. A história é um retrato da vida real de várias pessoas em situação parecida com a personagem da novela global. Para quem quer ser atleta e viver de esporte, a dificuldade é ainda maior. Jessica Millaman passou por situações semelhantes quando resolveu “respeitar a si mesma” e ir em busca do seu espaço.

O preconceito foi um dos principais obstáculos que ela teve de superar ao querer ser atleta e poder competir com mulheres na liga de hóquei na Argentina. No ano passado, ela teve de enfrentar o seu principal desafio: o de provar que possuía todos os requisitos necessários para atuar, após uma associação de hóquei da província de Chubut se negar a dar autorização para entrar em quadra por ela não ter feito a cirurgia de mudança de sexo. Amparada por uma determinação do COI, que tirou essa obrigatoriedade por considerar que é uma violação de direitos, ela voltou às quadras.

Aos 14 anos, quase com 15, decidi respeitar a mim mesma, respeitar o que sentia. Tive alguns problemas familiares, por isso saí de casa aos 15 anos.

O pior foi sair de casa aos 15 anos e me encontrar sozinha do mundo. Fazer trabalho que não queria fazer. Sofri muito, isso me deu muita força e sabia que não estava equivocada em respeitar meus sentimentos. Isso me ajudou não cair forte em uma depressão, nem nada. Foi muito triste. Mas o tema de saber que estava bem comigo mesma, respeitar a mim mesma, me deu muita força. Bom, como disse, sair de casa e me encontrar sozinha no mundo foi muito difícil.

No esporte, o momento mais difícil foi aos 10 anos, quando não me sentia bem com os garotos. A verdade é que me deu muita tristeza. Eu sofri, mas fui feliz respeitando o que queria fazer.

Ninguém nos contratava, portanto, para sobreviver, caí na prostituição, a qual eu vivi por cinco anos esse trabalho. Depois, como profissão, deixei essa vida toda e hoje sigo com a profissão de cabeleireira.

No ano passado quando fui renovar minha autorização para jogar por essa equipe que atuei em 2013, rejeitaram falando que não poderia competir. Fui procurar a Justiça imediatamente. Acredito que a mídia me ajudou muito com a minha questão. Me proibiam de jogar. Ao rejeitar minha contratação, acionei a Justiça e agora já estou jogando. Desde o começo, o que eu queria era poder jogar. Colocaram uma multa de 30 mil pesos diários a cada integrante da federação se não me aceitassem. Então, na mesma semana que tudo aconteceu, eu estava jogando com minha equipe.

A verdade é que é um prazer, um prazer gigante tanto no pessoal como para toda minha família, meus pais. Isso é algo muito bonito que aconteceu. Tenho consciência que fiz história por ser a primeira transexual a competir. Abri a porta para os esportes.

Bastante (passei por muito preconceito). Eu aprendi na vida que todos os males você combate com energia boa para seguir lutando para a geração que vem na sequência. Cada coisa que enfrento com discriminação e preconceito, trato de combater com boa energia para sair abrindo caminhos, para ter uma vida melhor e melhorar as vidas das próximas gerações

Não fiz nenhuma cirurgia. Mas por uma questão que me sinto bem comigo mesma. Em todos esses anos, para mim não foi algo que me deu vontade de fazer. Passando os 30 anos, gostaria de fazer uns retoques, mas por uma questão de me ver bem, renovada, jovem. Mas nada além. Sobre hormônios, sempre fiz uso.

Com minhas companheiras, sempre estive bem. Também, graças a elas, voltei ao hóquei, me incentivaram para que voltasse a treinar. Com as equipes rivais, tenho boa relação, não tive muitos problemas. Tiveram algumas equipes contrárias que ficaram bravas, mas como estava liberada judicialmente, eles não podem falar nada.

Parte da minha personalidade, da minha força, tenho graças as minhas amizades. Tenho amizades de muitos anos. As quais sempre me ajudaram psicologicamente, muitas pessoas que estão sempre comigo.

Eu sou a mais nova de quatro irmãs que cresci as vendo jogar hóquei. Por isso gosto tanto de jogar hóquei. Joguei até dez anos. Parei porque não me sentia bem com os meninos. Em 2012, 2013, voltei a jogar hóquei. (Jessica tem atualmente 32 anos).

Fonte: Uol