Rubens Nóbrega

Reproduzo a seguir uma nova versão do diálogo entre o comandante e o capitão do navio que está afundando.

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Comandante: Aqui é o Comandante da Companhia. Falo com o comandante do navio?
Capitão: Sim, boa noite, Comandante.
Comandante: Diga-me seu nome, por favor.
Capitão: Sou… (inaudível).
Comandante: Escute, Capitão, me diga uma coisa, por que p… você está abandonando o navio?
Capitão: Ora, Comandante, o senhor não percebeu que ele está afundando?
Comandante: Afundando p… nenhuma, seu merda! Que história é essa?
Capitão: No momento o navio já está inclinado…
Comandante: Pode ser, pode ser, mas eu tenho a força e vou aprumar ele e fazer o bicho navegar bonitinho. Você vai ver…
Capitão: Acredito no senhor, Comandante, mas o problema é que o navio está cheio de ratos…
Comandante: E daí? E daí? Quando você aceitou assumir o comando desse navio já sabia que tinha que conviver com os ratos e agora inventa de pular fora.
Capitão: Comandante, por favor…
Comandante: Por favor, coisa nenhuma! Volte agora mesmo para o barco. Agora!
Capitão: Estou com a lancha de socorro. Não fui a lugar nenhum, estou aqui.
Comandante: O que molesta você tá fazendo aí?
Capitão: Estou aqui coordenando o socorro.
Comandante: Está coordenando o quê daí? Volte para o barco, coordene o socorro a bordo. Está se recusando?
Capitão: Não, não… Não estou me recusando.
Comandante: Está se recusando a voltar pro navio, Capitão? Me diga por que está fazendo isso.
Capitão: Não estou indo porque a lancha em que estou está parada.
Comandante: Volte para o navio. É uma ordem! Se você não quiser continuar no comando, não me importo. Você já declarou abandono naquela carta ridícula. Se está pensando que vou implorar para você reassumir está muito enganado. Mas precisa ficar no navio até ele afundar de vez ou, então, ser salvo por um novo comandante que ainda vou escolher.
Capitão: Mas, Comandante, os ratos continuam no navio e eles estão cada vez mais vorazes. São ratos muito estranhos, senhor. Mesmo como navio afundando, eles não querem sair de jeito nenhum. Muito pelo contrário. Desconfio até que mesmo se estivesse tudo em ordem, depois de roer tudo eles roeriam até o casco. E aí o bicho afundaria ligeirinho.
Comandante: Não importa, Capitão. A Companhia é grande e tem outros navios para explorar. Mesmo se a gente perder esse, ainda assim estaremos no lucro. Mas, enquanto estivermos no mar, temos que tomar conta até o fim. Se o senhor não quiser seguir viagem depois, problema seu. Mas, por enquanto, o senhor tem que voltar pra lá, segurar a onda, quer dizer, o leme, e conviver com os ratos até o fim do cruzeiro.
Capitão: Tá, tá… Tô indo. Vou ver o que posso fazer, mas me ajude, pelo amor de Deus. Peça aos ratos pra que dêem uma pausa, uma aliviada, que é pra não assustar tanto os passageiros. Eles tão com a gota, meu Comandante!
Inesgotável Luiza
Lex, o amigo que me levou a escrever ontem sobre o sucesso de Luiza, que está no Canadá, deu repique à coluna que tratou o assunto nessa quarta. Acompanhem.
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Rubão, Luiza é realmente um ‘Su’, como diria um saudoso colunista social. Mas achei a expectativa de comparecimento de público à chegada de Luiza muito modesta. Eu estimaria em cerca de quinhentos mil a um milhão de fãs. Só pode ser preconceito de paulista.
Cinco mil é público de jogo do Campeonato Paraibano da Terceira Divisão. Ou de reunião do orçamento democrático do governo Girassol. Por essas e outras, teria sido a Luiza uma grandiosa jogada de marketing daquele grupo empresarial de lojas de departamento para alcançar a liderança do mercado a nível nacional?

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A respeito, faço duas observações: primeiro, Lex não tem a menor idéia do que seja o futebol paraibano, muito menos acompanha reuniões do orçamento girassolaico. Se um ou outro conseguisse atrair cinco mil pessoas faria um tremendo ‘Su’.
Quanto ao grupo empresarial, ele deve estar se referindo ao poderoso Magazine Luiza (aquele que comprou as nossas Lojas Maia). Olha, se eu fosse do marketing da empresa, há muito já teria entrado em contato com Gerardo Rabello e faria proposta de contratar a menina dele para fazer comerciais.
Por tudo isso, caríssimo Lex, não se engane. Aqui ou no Canadá, o destino de Luiza é “ser star” (só para citar mais uma vez o inexcedível Lulu Santos, um dos meus poetas preferidos).