O empresário Marcelo Odebrecht afirmou em audiência nesta segunda-feira com o juiz Sergio Moro que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabia da planilha “Italiano” de recursos destinados ao PT mantida pelo Setor de Operações Estruturadas da empresa, conhecido como departamento de propina. Além disso, valores sacados em espécie por Branislav Kontic, teriam como destino o ex-presidente.
O depoimento do empresário foi prestado na ação em que Lula é acusado de ter sido beneficiado com vantagens indevidas pagas pela Odebrecht, como a compra de um prédio para o Instituto Lula, que não chegou a ser usado, e com uma cobertura vizinha ao apartamento em que mora em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.
— Teve saques que o Brani fez, que o Palocci disse que era para Lula — afirmou o empresário, acrescentando que, na planilha Italiano, gerida por Palocci, os valores apareceram como “Programa B”.
— Eu tenho certeza, pela dinâmica da planilha, que os três últimos foram para Lula porque eles são descontados do saldo da conta amigo. O programa B4 de R$ 3 milhões em novembro a dezembro de 2012, o programa B 5, de janeiro a outubro de 2013, que era R$ 5 milhões e o programa B6, que é Brani 6, de dezembro de 2013, de R$ 1 milhão, eram todos pra Lula – disse Marcelo no interrogatório, realizado nesta segunda-feira em Curitiba.
O empresário disse ainda que quando separou entre R$ 35 milhões e R$ 45 milhões da planilha Italiano para atender Lula, a ideia era doar ao Instituto Lula, oficialmente, e não se preocupar mais com o assunto. Afirmou que chegou a conversar com Paulo Okamotto presidente do Instituto Lula, mas que o “instituto estava incomodado de receber a doação” oficial.
— Não recebeu, mas vieram os pedidos — disse.
Marcelo Odebrecht falou que os pedidos começaram com a compra do imóvel para abrigar o Instituto Lula e incluiu doações, como uma de R$ 4 milhões. Segundo ele, recentemente a empresa recibos e um email que mostram que a doação de R$ 4 milhões ao Instituto Lula foi descontada da Planilha Italiano.
O empresário contou que o primeiro contato para a compra do imóvel para o Instituto Lula foi feito pelo pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, em meados de 2010. O pecuarista teria dito que o advogado Roberto Teixeira, amigo pessoal do ex-presidente, havia identificado e acertado a compra de um terreno e queriam que a Odebrecht viabilizasse a compra. E relembrou que uma anotação onde escreveu “6 por dentro e 4 por fora” referia-se à forma como o pagamento seria feito aos vendedores do imóvel.
Marcelo voltou a dizer que falou tanto para Bumlai quanto para o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, que o dinheiro sairia do valor provisionado com Palocci para o ex-presidente Lula.
No depoimento a Moro, disse que pediu ajuda para os executivos da Odebrecht Realizações Imobiliárias, que sabiam de onde sairia o dinheiro para pagar o imóvel. E garantiu que não ficou sabendo quando o negócio foi desfeito e a empresa recomprou o imóvel – que ele chama de “terreno” embora tenha um prédio construído.
— Comprar o terreno de volta foi (decisão) dos executivos — afirmou.
O empresário explicou a Moro que estipulava o valor a ser creditado na conta Italiano e Pós-Itália, a segunda administrada pelo ex-ministro Guido Mantega, mas não entrava no mérito de como seria gasto o dinheiro.
O ex-ministro Antonio Palocci, que está preso e é um dos réus na ação, deverá ser ouvido por Moro na quarta-feira. Na última sexta-feira, a defesa do ex-presidente Lula entrou com recurso para que os depoimentos de Marcelo Odebrecht, Palocci e do próprio Lula, que está agendado para o próximo dia 13, fossem adiados. Os advogados alegaram a falta de acesso aos sistemas de contabilidade paralela da Odebrecht e que documentos escritos em inglês, espanhol e alemão não foram traduzidos. Moro recusou. A defesa de Lula recorreu ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região.
Fonte: MSN