A cidade de Cajazeiras, que recentemente completou 154 anos de fundação, também faz parte da biografia do artista plástico, escritor e teatrólogo paulista, radicado na Paraíba, Waldemar José Solha, ou W. J. Solha, como é mais conhecido.
Autor do quadro “A Fundação de Cajazeiras”, que está exposto na Biblioteca Pública Municipal Castro Pinto, Solha relembra uma história curiosa que envolve a referida obra e a lendária teatróloga Íracles Pires.
Em um bate-papo com o jornalista cajazeirense Gutemberg Cardoso na capital João Pessoa, ele conta que por causa de dona Ica (como também era conhecida a teatróloga), quase não conseguiu vender o quadro para o então prefeito no ano de 1964.
Segundo a história, ao saber que não existia nenhuma pintura homenageando o centenário de Cajazeiras, celebrado um ano antes, W. J. Solha produziu “A Fundação de Cajazeiras” e foi até a cidade tentar vender ao prefeito, que resolveu consultar alguns intelectuais da cidade para saber se valeria a pena adquiri-la.
A maioria gostou da obra e deu o aval. Porém, Íracles Pires foi a única que não concordou com as referências estéticas da pintura, afirmando com contundência que os personagens ali representados – o pai e a mãe de Padre Rolim – não condizem de maneira alguma com a realidade.
Dona Ica teria dito que “está tudo errado” no quadro, a começar pelo pai do Padre Rolim, que era um “vagabundo” e não um homem disposto como aparece na obra. Depois, Mãe Aninha não era bonita, e sim “horrorosa”. Já o cenário, que é de grama verde na pintura, contrasta com a seca do Sertão.
“Cena indelével foi a da célebre encenadora Íracles Pires comentando o que via, revoltada: ‘Tudo é falso nessa tela. Olhem a grama verde, coisa que não tem nada a ver com o Sertão, coisa da terra do moço que a pintou. Vejam a Mãe Aninha. Ela era uma mulher horrorosa, e olhem só a beldade que aí está. E Rolim era um vagabundo, e o que temos aí? Um fundador da cidade todo disposto, e que não é nada mais, nada menos que o autorretrato do moço.’ Olhei a figura com espanto. Mas apesar da crueza do discurso, o prefeito me pagou e a prefeitura ficou com ‘A Fundação de Cajazeiras’, de que nunca mais ouvi falar”, relata o artista.
Fonte: Diário do Sertão