'menino puro'

VEJA VÍDEO: Waldemar Solha comenta sobre episódio em Alagamar e a participação de Dom José nas lutas sociais

 

Waldemar Solha, cineasta, falou um pouco mais sobre o episódio histórico ocorrido em Alagamar, que resultou na Cantata para Alagamar e ilustra um pouco da personalidade de Dom José Maria Pires.

Fazendo parceria com o argentino e judeu, José Alberto Kaplan, Solha produziu a cantata. Solha fez o texto e Kaplan fez a obra. Dom José Maria Pires, então ofereceu a igreja para que a obra pudesse ser exibida. A cantata tinha um forte veio socialista e não seria aprovada pela censura na época. Assim, a Cantata de Alagamar foi exibida como parte da liturgia. Dom Hélder e Dom Fragoso estiveram presentes nessa primeira exibição.

Solha revela que se envolveu com Dom José e a história de Alagamar não pela religião, mas pela capacidade agregadora da figura dele.

Além do aspecto social, Dom José também era despojado. “Já vi ele descendo a Av. Epitácio Pessoa de bicicleta. Ele fez o caminho de Santiago de Compostela a pé. Em determinado momento ele pifou, queriam levá-lo de carro, mas ele disse que queria o caminho a pé. Se restabeleceu e continuou o caminho a pé”.

Grande Alagamar

Centenas de camponeses se concentram  diante do palácio do governo da Paraíba durante visita do general presidente Ernesto Geisel a João Pessoa. Eram representantes de 400 famílias de lavradores, ameaçadas de despejo das terras em que trabalhavam havia 30 anos na região conhecida como Grande Alagamar, no interior do Estado. Impedidos de entrar no palácio, os camponeses conseguiram chamar a atenção do general presidente, erguendo faixas e cantando um hino sobre sua luta e reivindicações.

A organização dos cerca de 7 mil trabalhadores de Alagamar teve origem nas Ligas Camponesas, proibidas pelo golpe militar de 1964. Eles trabalhavam pacificamente em 14 fazendas, pagando aforamento ao proprietário, que morrera em 1975. As fazendas foram então vendidas a investidores que pretendiam plantar cana e criar gado, expulsando os antigos moradores. A resistência em Alagamar contou com forte apoio do arcebispo de João Pessoa, dom José Maria Pires (dom Pelé), que mobilizou outros bispos do Nordeste, entre os quais o arcebispo de Olinda e Recife, dom Hélder Câmara.

O ato público pela desapropriação da área durante a visita do general presidente a João Pessoa foi o ápice de três anos de luta, durante os quais camponeses e religiosos foram vítimas de violência por parte da Polícia Militar e de jagunços a serviço dos novos proprietários da terra. De volta a Brasília, no dia seguinte, Geisel decretou a desapropriação de 2 mil hectares, cerca de um décimo da área total, para o assentamento de 80 famílias.

A vitória parcial estimulou os posseiros e seus aliados a prosseguir na luta pela desapropriação total da área. Foram mais dois anos de conflito, com uso recorrente de violência contra os lavradores. Em janeiro de 1980, as terras cultivadas foram invadidas e pisoteadas pelo gado dos proprietários. Dom Pelé, dom Helder e outros bispos foram até a região para ajudar pessoalmente os camponeses na expulsão do gado e na retomada da terra. A repercussão do episódio forçou o governo da Paraíba a comprar toda área de Alagamar e entregá-la formalmente às famílias dos lavradores.

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Créditos: Polêmica Paraíba