INTOLERÂNCIA

Casal é agredido por dar nome unissex a bebê

As escolhas de um casal pernambucano, que decidiu criar o filho de acordo com aquilo que acredita, sem impor modelos para a criança, geraram uma onda de insultos, xingamentos e represálias pela internet e até pessoalmente.

As escolhas de um casal pernambucano, que decidiu criar o filho de acordo com aquilo que acredita, sem impor modelos para a criança, geraram uma onda de insultos, xingamentos e represálias pela internet e até pessoalmente. Após uma reportagem de O GLOBO mostrar a decisão dos pais de batizar o bebê com um nome que serve aos dois gêneros, pessoas desconhecidas estão usando as redes sociais para ameaçar a família.

Nesta quinta-feira, o pai e a avó do bebê, após serem reconhecidos em uma estação de metrô, chegaram a sofrer uma tentativa de agressão. Por conta disso, eles decidiram reunir os comentários de ódio e registrar hoje um boletim de ocorrência na delegacia de crimes na internet.

— Depois que contamos nossa história, recebemos ameaças nos celulares. No metrô sofremos uma tentativa de agressão. Pessoas desconhecidas nos ameaçaram e postaram comentários de ódio em nossas redes sociais. Divulgaram fotos nossas com a criança em outros lugares. Como temos familiares nessas redes sociais, passaram a insultar minha mãe, meus irmãos, a família da minha mulher e a família do pai biológico do bebê — contou o pai da criança, que é um homem transgênero.

Com os ataques, insultos e a tentativa de agressão, o casal foi obrigado a se recolher e pediu que a reportagem fosse retirada do ar — o que foi feito pelo GLOBO.. A violência e o ódio contra a família atingiram também a criança. Sob preceitos religiosos, perfis na internet chegam a acusar o casal de estarem fazendo experimentos com o bebê.

— Dizem que estamos corrompendo a criança, que estamos usando ela para fazer experimentos. Pessoas falando em nome de Deus que somos aberrações, que a criança é uma aberração. Chegaram a dizer que vão chamar o conselho tutelar e que nós pagaríamos por essas escolhas — desabafou o pai.

O ódio contra a família atingiu também uma jornalista do GLOBO. Depois de relatar a história do casal, a repórter foi exposta por uma página no Facebook, na qual o administrador escreve que “a moda” agora é publicar matérias sobre “gente com transtornos mentais” e exibe nome e perfil da jornalista, além de um print com a reportagem. Nos comentários, outras pessoas expuseram fotos dela com ataques e insultos.

Militância motivou decisão

O pai da criança explicou que as motivações para a decisão do casal surgiram a partir da militância de ambos em causas sociais, além do fato de ele sentir na pele as dificuldades de ser um homem transgênero. A mãe conta que sempre teve muito amor de todos e que não havia tido problemas com isso.

— Sempre quis ser mãe, mas não me sentia pronta para esse momento. Desde o momento em que soube que estava grávida, foi o meu atual marido que me deu muita força. Me afastei do pai biológico da criança e reatei o namoro com o meu marido. Ele estava comigo em todo momento, 24 horas na maternidade. Tive parto normal, humanizado, e a gente desde então não tem tido problema por causa do bebê — contou.

Ela diz que está em choque por causa dos comentários negativos:

—A sociedade tem que abrir a mente, é uma coisa de construção. Deixa a criança viver, ser feliz.

O casal conta que não está decidindo nada pela criança ou forçando que ela seja “isso ou aquilo” e que as interpretações das pessoas se baseiam “na raiva e na ignorância”.

— Estamos deixando ele escolher, quando tiver idade. Ele tem um mês, já faz coisas que outro não faz. Está saudável e bem cuidado. Como as pessoas não conseguem enxergar isso? Eu sei que estou na linha de frente, que coloquei a cara a tapa. Não sabia que isso iria atingi nosso bebê. É uma criança — disse o pai.

Fonte: EXTRA